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Resgate lança mais um trabalho pela Sony Music - Este lado para cima. Confira nossos comentários

Tiago Abreu em 28/12/12 6460 visualizações
24 anos de carreira, muitos discos gravados, êxitos, polêmicas e muita história para contar. Esta é a história da banda Resgate, uma das mais influentes no rock cristão brasileiro, tanto na década de 90, como atualmente. Desde 2010, o grupo faz parte do cast da na Sony Music.

Com a saída do produtor e tecladista Dudu Borges, em 2012, o Resgate volta para a mesma formação que tinha em seu início, algo bastante raro em um grupo de tanta estrada. O quarteto, mesmo após duas décadas e meia, exala competência, qualidade e não mostra nenhum desgaste em seu mais novo trabalho - Este Lado para Cima - lançado na Expocristã.

O disco foi produzido por Paulo Anhaia, produtor musical conceituado no rock nacional brazuca. Não sendo novato no meio gospel, já trabalhou em clássicos do rock cristão brasileiro: Indiferença (Oficina G3), Armagedom (Katsbarnea), Asas (Brother Simion), e claro, vários discos do Resgate entre 1995 e 2002. O projeto gráfico ficou a cargo de Carlos André Gomes, responsável pela capa dos dois discos anteriores.

O trabalho inicia-se com Eu Estou Aqui, um hard rock oldschool, com muitos riffs e distorções, lembrando um pouco a época de On the Rock. A letra reflexiva foge dos gastos moldes gospel que vemos por aí. “Enquanto todos fogem da Tua Guerra pra falar Teu nome em toda a terra eu estou aqui...” A força dos vocais de Zé Bruno, com o fade out dos instrumentais, fecham a canção de uma forma interessante. Foi o single da obra.

Eu só Preciso Acreditar traz uma sonoridade mais leve, mas seguindo a pegada crua da faixa anterior. Aqui, o Resgate usa um refrão simples de fácil entendimento, mostrando, de forma simples, a vida cristã. É uma canção boa de ouvir e, instrumentalmente, gostei muito da sonoridade da bateria.

A terceira faixa, Errando e Aprendendo é uma das melhores do repertório. Típica balada resgateana, traz as dificuldades da vida e suas lições diárias como tema, acompanhados de um “pet”sofone. Os assobios e o ukelele deram um destaque a mais a esta música. É interessante que, na obra, até as canções mais leves apresentam peso nos timbres.

A partir da quarta canção, é perceptível o rumo e objetivo lírico do trabalho, o mais sério, polêmico e conciso de toda a discografia da banda. Um pop rock tipicamente nacional, a canção O que não precisa conta com vocais de peso, envolvidos a um som bem preenchido.

Novamente, numa pegada mais hard, Em Nome de quem? conduz uma crítica mais evidente – e feroz – acerca da irracionalidade e capacidade autodestrutiva do ser humano. É contagiante as conduções vocais de Zé Bruno, os riifs das guitarras “sujas” e a rapidez da bateria.

Uma série de antíteses, algo bastante usado em certas músicas do Resgate, são as frases contidas em Fora do Sistema e suas belas linhas de baixo. No instrumental, também há um bom casamento das guitarras com o violão, que substituiu o som dos pianos e hammonds de Dudu Borges.

Mas a melhor canção do disco é Eles Precisam Saber. Aqui o grupo faz uma crítica explícita a certos segmentos neopentecostais, seja pela forma das pregações, o enriquecimento e poder de lideranças religiosas e expõe o contexto que vivemos nos dias de hoje (e que, até há alguns anos, era a rotina da banda). As cordas, um diferencial aqui, duelam com os riffs muito bem executados pela dupla Hamilton Gomes/Zé Bruno e o restante da cozinha. Pela sua qualidade, é de longe a música mais forte do ano.

Uma canção simples, mas com uma letra riquíssima é Inocente. É também a mais curta do disco, cerca de dois minutos e soa como um período de transição da obra, saindo de seu clímax, para um momento mais introspectivo. Com uma letra mais vertical, um arranjo de cordas, mostra a proficiência de Zé Bruno em letras poéticas. “Se não há sol, se estou só, te enxergar, Quando eu já sei o que eu não sei, te escutar...”

Sempre Tem Uma Assim é uma poesia que trata um tema ás vezes complexo de uma forma simples: a dependência e a necessidade humana de se ter Deus. Destacam-se na melodia os riffs da guitarra e o som da bateria antes do refrão. Excelente.

A décima faixa é uma inversão do contido no final da última faixa. Este Lado para Cima brinca com as supertições envolvidas na prática de se inverter músicas.

A letra de Quem Sou Eu? mostra a habilidade da banda em produzir baladas. A forma que somos tão indignos perante Deus é o tema central dessa faixa. Para finalizar com chave de ouro, Recomeçar. Aqui o Resgate deixa claro um dos objetivos de seu disco explícito até no encarte: A necessidade de ter Deus no centro de nossa vida e esquecer as coisas terrenas. “Eu coloquei de lado quem merecia o centro/Antes de apagar me lembrei que o sol nasceu pra todos/E é bom saber recomeçar...”

Este Lado para Cima, de longe, é um disco muito diferente de Ainda não É o Último, o que não o torna, em nenhuma instância, inferior. Atento e com muito discurso, o registro mostra a banda, de fato, fazendo jus ao gênero que toca, com uma produção musical crua, forte, mas que convence o ouvinte. Conceitualmente, a banda nunca expôs, com tanta propriedade, as críticas que tem realizado sobre as decepções que, dia a dia, vemos no meio evangélico. E, sem a menor dúvida, esta é a função do rock: criticar o status quo, denunciar injustiças, provocar um reboliço em defesa de ideias, para a melhoria da sociedade, incluindo, no âmbito do rock cristão, a reforma da igreja.

Paulo Anhaia, ainda, soube investir, especialmente para quem acompanha o Resgate há mais tempo, em uma sonoridade que remete – e muito – o clássico On the Rock e, de quebra, se conecta muito bem a mensagem forte e impactante do disco. Sem a menor dúvida, Este Lado para a Cima se localiza facilmente entre os três melhores álbuns do ano.
Este Lado Para Cima

(CD) 01/12


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Tiago Abreu

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), escreveu para o Super Gospel entre 2011 a 2019. É autor de várias resenhas críticas, artigos, notícias e entrevistas publicadas no portal, incluindo temas de atualidade e historiografia musical.


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