Análises

Assistimos o último DVD da carreira do Catedral - Música Inteligente. Confira nossa crítica

Georgeton Leal em 17/03/16 3194 visualizações
Recriminada por uns, amada por outros, Catedral sempre foi alvo de polêmicas, algumas, até mesmo indecorosas (as quais nem se vale a pena mencionar). Também é inevitável que existam aqueles cuja preferência é voltada à primeira fase da banda, considerada por muitos como o período mais prolífico da carreira, e ainda há os fãs inatos que preferem não fazer quase nenhuma distinção crítica quanto ao seu trabalho, achando que tudo está “melhor do que nunca”. Independente das opiniões variantes, a obra deste grupo fluminense não pode jamais passar despercebida, seja no mercado musical popular ou cristão.

Conforme anunciado recentemente nas mídias sociais, o trio encerra suas atividades com um trabalho comemorativo aos seus 25 anos, o qual também reúne boa parte dos melhores hits de sua discografia. Obviamente, era de se esperar que houvesse um álbum assim. A cada cinco anos, a banda Catedral sempre lança um registro antológico ao vivo (embora a proposta tenha se esgotado com reprises de músicas bem exploradas em outras gravações desse mesmo molde). Desta vez não temos um projeto que surpreenda da mesma forma que Acima do Nível do Mar (Line Records, 2003), no entanto, se pode atribuir a ele certa importância, ainda que não apresente novidades relevantes em sua produção.

Como este se trata de um registro de despedida, é óbvio que a setlist tenha se sustentado mais em sucessos significativos dos anos 90/2000 do que nas obras recentes. Com exceção de Tudo pode Mudar, nenhuma outra faixa nova do agridoce Pedra Angular (2010) foi aproveitada e as baladas mornas de Maior Idade Musical (2011), juntamente com o sucinto Epílogo (2014), não conseguem fazer frente aos consagrados hits da era áurea do Catedral.

Seguindo praticamente o mesmo padrão das versões originais, todas as regravações procuraram ser fiéis, com exceção de alguns breves detalhes. No tocante à abertura do show, o uso da clássica Carmina Burana (o Fortuna), de Carl Orff, destoa e soa enfadonha, sendo algo totalmente dispensável já que a introdução da primeira música, Fale Mal de Mim, seria suficiente para uma boa entrada. A propósito, sua letra se revela em parte como um desabafo dentro de uma mensagem dúbia, a qual pode ser entendida tanto como romântica quanto uma resposta aos críticos de plantão. E falando nisso, as letras de protesto da banda nunca estiveram tão atuais, fato explicitamente comprovado em Para Todo Mundo Ouvir, Terra de Ninguém e A Revolução; a poesia também continua fortemente impressa, bem representada pelos cativantes versos de Amor Verdadeiro, Perto de Mim, Eu Quero Sol Nesse Jardim, dentre outras. Os três medleys foram bastante úteis para regular o tempo do show, evitando assim que a lista ficasse ainda mais sobrecarregada (por via das dúvidas, vale lembrar que outros sucessos ficaram de fora principalmente por já terem sido aproveitados em trabalhos paralelos).

Entre as regravações, há também inéditas. Você é o meu Amor é uma balada ao melhor estilo Catedral, enquanto Perdão não consegue se destacar tanto por soar linear quanto genérica. Sem Você Eu nada Sou é uma bela declaração de gratidão a Deus e resume de maneira excelente todo o sentimento do grupo neste fim de carreira. O Labirinto de Fausto, cujo título aparentemente faz alusão à popular lenda alemã medieval do Dr. Fausto, é uma faixa ousada que denuncia o charlatanismo dos chamados “mercadores da fé”. Já Arritmia possui uma letra mediana e repetitiva, apesar da boa dinâmica instrumental. Em suma, percebe-se o esforço favorável nas novas músicas apesar do viciante uso de clichês.

É fato que atualmente Kim tem demonstrado certo desgaste criativo nas composições e o ostracismo de Guilherme Morgado na bateria pode incomodar às vezes, porém, o aspecto mais negativo é o comodismo do guitarrista Diego Cézar. Obviamente, ele não precisa ser um cover do saudoso mito Cézar Motta, mas pelo menos, deveria sair de sua zona de conforto e se arriscar um pouco mais. Quando o assunto é Catedral, fomos acostumados a nos surpreendermos com incríveis performances nos solos de guitarra. Na média geral, Júlio acaba sendo o único que conseguiu se reinventar no decorrer dos últimos anos, expandindo sua notável técnica no baixo e mantendo o virtuosismo que o consagrou. Enfim, considera-se justificável a atual passividade da banda pelo simples argumento de que não se deve cobrar demais de quem fez muito no passado.

Não se pode negar que Música Inteligente é um projeto previsível. Ele não oferece nenhum desfecho épico ao Catedral, mas simboliza um ótimo presente de despedida aos seus admiradores e ainda é capaz de conquistar novos ouvintes que não conhecem a fundo o rico legado deixado pelo grupo em suas décadas de atividade.

Nota: ★★★
Música Inteligente

(DVD) 01/16


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Georgeton Leal

Professor formado em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e blogueiro literário nas horas vagas.


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