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Carlinhos Veiga se reinventa em mudanças pessoais, musicais e fonográficas

Redação em 24/08/16 1769 visualizações

Aos 53 anos de idade, Carlinhos Veiga percorreu muito chão. Goianiense residente em Brasília, Veiga caminhou cerca de vinte anos como artista solo. Ex-integrante do Expresso Luz, suas composições são conhecidas pela brasilidade e a contemplação do interior com a indispensável presença divina. Nada tematicamente diferente de seu recente EP, Aurora me Raiou. Primeiro trabalho do intérprete neste formato e com distribuição digital simultânea em canais como o Spotify, seu novo disco mergulha em novos sons com a mesma paixão antiga. Em entrevista ao Super Gospel, o artista trata destes momentos de novidades e adaptações.


Seu novo álbum, Aurora me Raiou, assim como alguns dos seus títulos mais recentes, é descrito como um lançamento de "Carlinhos Veiga & Banda". Como é o seu processo criativo junto aos músicos que trabalham contigo?
Há 20 anos atrás, quando saí do Expresso Luz, em Goiânia, e comecei o meu trabalho solo, em Brasília, passei por momentos de grande solidão musical. Mas, aos poucos, Deus foi colocando ao meu lado pessoas que passaram a dividir comigo a amizade e a música. A banda que me acompanha hoje é formada por irmãos muito queridos e amigos. Alguns com quase 20 anos de caminhada comum, como é o caso da Eline Márcia. Somos parceiros musicais, frequentamos a mesma igreja; nos encontramos para ensaiar, mas também para orar e estudar a Bíblia. Há um tempo atrás eu quis dar nome ao grupo, mas eles disseram: “Não! Carlinhos Veiga & Banda tá legal. Vamos continuar assim”. E assim permanecemos, por vontade deles. Eu sou daqueles caras que acha que um grupo musical tem que ter um pouquinho de cada um dos músicos que a integram. É como se fosse um prato onde cada qual participasse com seu ingrediente e tempero. Nos ensaios e nos arranjos todos dão seu pitaco. O som que fazemos é o resultado disso. Por isso tão diverso e, às vezes, tão eclético.


Em comparação aos trabalhos anteriores, Aurora me Raiou mergulha mais no jazz, na música popular brasileira e tem certos elementos eletrônicos. A busca por um novo som foi um processo natural das gravações ou foi uma concepção que antecedeu a produção?
É o reflexo do momento. Desde o CD Parceiragens trabalhamos com a mesma formação da banda. As pesquisas do Leo Barbosa fundindo as percussões e os elementos eletrônicos teve a ver com o momento, em que ele estava utilizando muito esse recurso nas gravações com outros artistas. O Felipe Viegas, que tocou teclados, também estava pesquisando novos sons e timbres. O mesmo se deu com o Dido Mariano com as linhas de baixo; Ismael Rattis descobrindo diferentes timbragens e grooves de bateria; tudo isso misturado às linhas acústicas de sanfona do Enos, à flauta transversal da Claudia e meus violões. Ainda tivemos participações especiais de Marcus Moraes, Marcio Lucena e Victor Angeleas. Ou seja, a junção de tudo isso, mediante a contribuição de cada um e o momento musical de novas descobertas, resultou nos arranjos do Aurora me Raiou.


Outro detalhe muito perceptível em algumas canções são reflexões sobre o tempo, as dificuldades e desafios da vida. Alguma questão filosófica e/ou teológica acerca da existência e vida humana te influenciou no processo de composições do álbum?
Certamente. Completei 53 anos e nessa altura da vida você passa a refletir sobre muitas questões que antes passavam despercebidas. Seu olhar sobre a existência e, consequentemente, sua relação com Deus, tendem a aprofundar e a experimentar naturalmente um processo de maturidade. Tem também um tanto da minha vivência pastoral nisso tudo, resultado da leitura da Bíblia, da observação do mundo, da oração e da vida em comunidade na igreja que pastoreio e me relaciono. Algumas das letras desse CD não são minhas, são parcerias com amigos letristas que passam por momentos semelhantes, como o Jorge Camargo e o Romero Fonseca. O resultado acaba sendo coeso por isso.


O que você poderia destacar em relação a Jorge Camargo, Romero Fonseca e outros compositores que fazem parte da sua discografia?
São amigos e companheiros de estrada. Romero Fonseca, Reny Cruvinel, Rogério Pinheiro são parcerias de vida e alma esculpidas nas estradas desse país com o Expresso Luz. Jorge Camargo, Gladir Cabral, Tiago Vianna e tantos outros são fruto de nossos encontros em festivais de música, onde passamos a cultivar uma amizade verdadeira e sincera. Mais recentemente surgiram parcerias com Felipe Viegas, Marcus Moraes, Marcia Maranhão de Conti, Silvana Pinheiro e tantos outros amigos e amigas. O que tenho a dizer de todos esses é que são pessoas de minha profunda admiração. Amigos queridos.


Neste disco, a canção "Menino" recebe uma nova roupagem. Por que escolheu gravar novamente esta música?
A gente vinha tocando “Menino” com esse novo arranjo desde que fizemos um show no Teatro Rival, no Rio de Janeiro. O piano e a guitarra deram um outra cara para a música. A gente queria registrá-la. Convidei meus filhos Anna Flor e Cézar para participar. Na primeira versão, gravada há 17 anos atrás, eles eram pequeninos, tinham 4 e 3 anos. Lembrei que soltei os dois dentro do estúdio e fiquei brincando com eles. Os risos e as conversas foram gravadas e mixadas na introdução da primeira versão. Agora, eu quis repetir a dose: não somente coloquei um diálogo dos dois na introdução como os convidei para cantar a canção comigo. Gostei demais do resultado. Eles enriqueceram a música.


Aurora me Raiou foi lançado nas plataformas digitais. E, do ano passado para cá, sua discografia tem sido disponibilizada no meio virtual. Como artista, qual foi a sua experiência ao distribuir seu trabalho utilizando estas novas possibilidades do mercado fonográfico?
Na medida do possível tento me atualizar diante das constantes mudanças no mercado musical. Eu me lembro que o primeiro disco que participei foi gravado num estúdio quatro canais em Goiânia. Os músicos tocavam juntos, ao mesmo tempo, e o som dos instrumentos era captado já pronto. Não dava para mexer mais. Os anos passaram. De quatro canais, pulamos para 16, depois 32. De repente tudo mudou. Com a introdução da gravação digital os processos foram alterados. Antes você levava as fitas da mixagem final para o corte e depois para a prensagem dos vinis - um processo que durava uns 6 meses aproximadamente, sem contar o tempo de captação e mixagem. Anos depois, levava o DAT para a masterização e depois para a confecção dos CDs, durando uns dois meses. E não parou por aí. Hoje, percebo que a gente grava uma quantidade menor de música e disponibiliza o produto quase que imediatamente no mercado, via internet. Por isso os EPs estão substituindo os CDs. É uma exigência do mercado que cada vez clama por novidade e instantaneidade. Esse último trabalho é uma tentativa de nos adequarmos a essas mudanças. Os ensaios do Aurora me Raiou foram iniciados na primeira quinzena de janeiro desse ano. Uma semana depois entramos no estúdio para as gravações e na segunda quinzena de fevereiro o trabalho já estava sendo lançado nas plataformas de música digital. Tudo muito rápido, pouco mais de um mês. Inimaginável na década passada. Depois de mais de 30 anos compondo, produzindo e gravando, não dá para permanecer estático. Temos que acompanhar esses novos processos.

Agora, quanto à comercialização do produto, a diferença é enorme. Antes a gente reproduzia mil cópias que eram vendidas mais ou menos em um ano, sendo adquiridas praticamente pelo público que te ouvia cantar. Ou seja, o artista só vendia se colocasse o pé na estrada. Hoje em dia, só no Spotify, são realizados mais de 2.500 streams dos meus CDs por mês, em mais de 10 países ao redor do mundo. Ou seja, a música vai muito mais longe do que a gente poderia imaginar. No entanto, naqueles tempos você vendia o LP ou o CD e tinha uma grana para movimentar e produzir novos trabalhos. Hoje em dia tem muita gente ouvindo suas canções praticamente de graça. O músico cada vez recebe menos pelo trabalho produzido.


Recentemente, você compôs com Gladir Cabral e Jorge Camargo uma composição para os dez anos do Nossa Música Brasileira (NMB). Fale-nos um pouco sobre a importância deste evento para a sua carreira.
O NMB faz parte de um fantástico movimento da música popular brasileira, produzida por cristãos. Juntamente com Som do Céu, Prosa e Canto, Som no Cerrado e vários outros palcos, o NMB compõe esse movimento não planejado, mas que surgiu naturalmente. Costumo dizer que estamos vivendo um dos períodos mais ricos da musica cristã em nosso país. Nele é possível identificar muitas matizes, cores e texturas. Tem pra todo tipo de gosto. O NMB, assim como os demais citados, é um espaço de encontro, de motivação, de inspiração para os artistas. O palco é muito importante, mas é apenas um dos elementos que tornam esses encontros tão especiais. Aproveito essa entrevista para pedir aos produtores desses eventos que não desistam. Sabemos que não é fácil organizar um evento como esse. Mas é por meio dele que surgirão novos artistas; e será por meio deles que os antigos serão abastecidos e animados para prosseguirem nessa lida que, via de regra, é solitária e um tanto incompreendida.


Sua obra é marcada pela brasilidade e o tempero regional nos arranjos e versos. Você acredita que a música feita por cristãos no Brasil está preparada para lidar com a riqueza cultural do país?
Sim, creio. São muitos os artistas comprometidos com a nossa cultura. Gente que pisa e ama esse chão, planta e colhe dele. Músicas que nascem inspiradas pela riqueza da nossa cultura, tão admirada por tanta gente. Só não sei se já temos um público formado, que entende a proposta desses artistas. A grande maioria ainda prefere o que é de fácil assimilação e que está disponível por meio da mídia. 


Você possui cerca de vinte anos de carreira solo. Para os próximos meses ou até mesmo anos, você tem planos definidos?
Por enquanto estou envolvido em divulgar o novo trabalho. Tenho uma agenda a cumprir até o final do ano, com apresentações em várias cidades brasileiras. Para o próximo ano temos na agenda uma viagem à Europa e alguns compromissos já fechados por aqui. Espero em breve lançar um novo trabalho, o décimo. Seria acústico e bem regional, dando especial destaque à viola caipira. Espero conseguir.

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