Jordan Macedo conta detalhes técnicos sobre a captura de áudio do CD/DVD duplo de Thalles Roberto

Jordan Macedo, produtor musical responsável pela captura do áudio do DVD Uma história escrita pelo dedo de Deus, conta detalhes técnicos da gravação.

"Queria que quem esteve no show da gravação se sentisse novamente lá ao assistir o DVD em casa"

Em junho de 2009, conheci o Thalles quando ele esteve no Polo Estúdio para gravar uma participação no disco do Palavrantiga, que, na época, estava sendo produzido. Desde então, ele decidiu finalizar "Na Sala do Pai" comigo, apesar de já ter iniciado a gravação em outro estúdio.

O resultado foi o ponto de partida para que ele me convidasse para o projeto da gravação do DVD "Uma história escrita pelo dedo de Deus", no Chevrolet Hall, a principal arena de shows de Belo Horizonte. “O que você precisa para gravar? Escolhe o que você quiser”. Com estas palavras, Thalles me deu liberdade e, ao mesmo tempo, um desafio.

O primeiro passo foi definir o sistema de gravação que seria utilizado. O melhor equipamento que encontrei no Brasil foi o sistema da Gabisom, com uma mesa Amek com mais de 60 canais de pres desenvolvidos por Mr. Rupert Neve.

A conversão analógico-digital foi feita por dois sistemas Pro Tools HD completos, sendo um para backup. Após a definição do show em 360 graus, fez-se necessário posicionar os músicos de uma forma que se evitasse vazamentos devido ao pequeno espaço.



Para a escolha dos microfones, o critério foi, além da qualidade sonora, a estética, para evitar a poluição visual do palco, considerando ainda que Thalles é um cantor intenso, que se movimenta muito. Quanto menos pedestais, mais limpo o ambiente ficaria. Basicamente, escolhi microfones clássicos que gosto de usar em estúdio.

No Bumbo, usei RE20 e Shure Beta 52, na caixa de um Shure SM57, Senheiser MD431 e AKG 418. No Hi Hat, escolhi o Shure SM 81 e nos tons optei por Senheiser E904; Nos overs Neumann U87, AKG 414 e Shure SM 81. No amplificador do Baixo, usei um Senheiser MD421 e nas guitarras Senheiser MD906. Nos metais, DPA 4099.

Para a captação das vozes do Thalles, André Valadão e Gabriela Rocha, usei Neumann KMS105, observando uma particularidade: Thalles tem uma dinâmica vocal singular. Em certas músicas ele canta suave e, em outras, de forma intensa. Dividi, então, a voz em três canais: um com ganho baixo, para não saturar os gritos em músicas com mais pressão sonora, e outro canal com ganho alto, para capturar as músicas com voz suave e para pegar o ar da voz. No terceiro, usei o Avalon no meio termo.

Como o som do Thalles é muito orgânico, tentei tornar o áudio mais “ao vivo” possível. Logo após a gravação, o som já parecia pronto. Fiz a mixagem utilizando um Mac Pro, com monitoração 5.1 JBL e Yamaha NS10. O mais importante para mim era transmitir a realidade do dia. Queria que quem esteve no show da gravação se sentisse novamente lá ao ouvir as músicas, como foi dito depois no Twitter oficial da Graça Music: “GMusic "parada" ouvindo o
master do #CDDuplo do @ThallesRobertoo. Parece que estamos no Chevrolet Hall de novo".

No projeto de captação de ambiência, coloquei microfones específicos para o reverb natural do local que, na mixagem 5.1, fez grande diferença. Eram 15 no total, espalhados por toda a arena. Fatores como a qualidade sonora da gravação do dia e a performance dos músicos tornaram a mixagem relativamente fácil.

Faço questão de compartilhar esta experiência porque foi um trabalho gratificante. Foi uma honra ter a confiança do Thalles e da Graça Music e ter feito parte de um projeto tão bonito.

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