Análises

Ouvimos o trabalho mais recente de Aline Barros - Acenda a Sua Luz. Confira o nosso review

Tiago Abreu em 03/04/17 6791 visualizações
Como uma artista pop que não se encarrega de muitas funções técnicas, Aline Barros sempre foi dependente de parcerias e produtores musicais. Ricardo Feghali e Cleberson Horsth, integrantes do Roupa Nova, foram os mais eficientes em extrair prós no trabalho da carioca. Na segunda metade da década de 2000, Rogério Vieira, nos anos áureos do congregacional, estabeleceu Aline bem no então novo território do cântico nas igrejas.

Por outro lado, a parceria entre Aline Barros e Ruben di Souza, iniciada há quatro anos, tem saldo mediano. Com Graça (2013), a cantora não conseguiu manter o equilíbrio musical e interpretativo de Extraordinário Amor de Deus (2011), mas ainda se saiu bem com canções específicas, como "Lugar Seguro" e "Esperança". O ao vivo Extraordinária Graça (2015), eficaz, se aproveitou de um repertório conhecido e certeiro e, em janeiro de 2017, a colaboração se repete no inédito Acenda a Sua Luz.

É importante ressaltar que, em mais de 20 anos de carreira solo, Aline nunca foi uma artista musicalmente ousada e, para o status que alcançou, nem precisou. Ao mesmo tempo que nunca fez um disco consideravelmente à frente de seu tempo, nunca lançara um trabalho que soasse musicalmente ultrapassado com o mainstream evangélico. Porém, com seu novo trabalho, Barros mostra ter perdido a sintonia e retrocede a uma sonoridade que não se conecta com o cenário musical de hoje.

Acenda a Sua Luz é o disco mais pop de Aline desde Fruto de Amor (2003). Mas a sonoridade aproxima-se muito mais de O Poder do Teu Amor (2001), registro que marcou o início das extravagâncias vocais da cantora. Apesar de reafirmar uma constante volta ao território pop já iniciada timidamente desde Extraordinário Amor de Deus, a produção musical não dá conta do recado. A única grande surpresa, com relação ao disco, foi a ótima campanha de lançamento e divulgação feita pela gravadora MK Music, em parceria com a Deezer.

Ruben di Souza, como produtor musical, carregou a sonoridade de sintetizadores e loops previsíveis, evidentemente em Mergulhar e, como músico, demonstra dificuldades de se renovar desde 2012. O excesso total no álbum, inclusive, é perceptível imediatamente no single Depois da Cruz, assinado por Pr. Lucas e Josué Godoi. O timbre de bateria, pesado até demais, é um problema sério em um disco que tenta renovar a música e face artística de Aline Barros mas que, ao contrário, deixa sua imagem mais envelhecida.

Sutileza é uma característica que Acenda a Sua Luz foge a milhas de distância. Os arranjos vocais, constituídos com a participação de Paulo Zuckini, Paloma Possi e Rodrigo Mozart, estão por toda a parte e chegam a sobrepor a influência das interpretações de Aline na obra (Paulo e Silas). Em termos de overdose vocal, a cantora não fica atrás e, numa competição de quem é mais notável, tenta alcançar o máximo de notas agudas. A obra ainda traz Ensina-me a Contar, cuja introdução falada de Aline é tão forçada e desnecessária que "dá vontade de gritar" de desespero.

O curioso acerca do disco é que, apesar de sua produção completamente anacrônica, pesada e agressiva, há méritos no repertório. Algumas boas canções, como Tua Presença É o Céu pra Mim e Outro não Há, mostram que por trás das multicamadas de guitarra, dos teclados e sintetizadores forçados, dos backings e dos vocais estridentes, existem canções bem desenvolvidas no álbum, algumas até com co-autoria de Aline, como Encontro Perfeito, escrita com Marcelo Manhães. Com o pior registro de sua carreira, Acenda a Sua Luz, composto por uma sonoridade datada, enfraquece a discografia de Aline Barros.

Nota: ★☆☆☆
Acenda a Sua Luz

(CD) 01/17

(1,7/5)
Total de votos: 3

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Tiago Abreu

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), escreveu para o Super Gospel entre 2011 a 2019. É autor de várias resenhas críticas, artigos, notícias e entrevistas publicadas no portal, incluindo temas de atualidade e historiografia musical.


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