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Ouvimos o novo disco de Anderson Freire - Deus não Te Rejeita. Confira nossa crítica

Tiago Abreu em 13/06/16 6141 visualizações
Nos últimos cinco anos, Anderson Freire se estabeleceu como o hitmaker do cenário musical evangélico. Seus últimos anos foram, sem dúvidas, coroadores. Seu disco Raridade (2013) foi carregado de sucessos como "A Igreja Vem", além da faixa-título "Raridade", que catapultou o discurso de autoajuda na identidade artística do capixaba. Ele sabe o público com o qual lida e suas músicas atingem diretamente o alvo: O evangélico médio ouve, se identifica e gera o sucesso comercial que Freire ostenta.

Anderson não seria louco em mexer num "time que está ganhando", e Deus não Te Rejeita é claro pastiche de seus dois primeiros álbuns inéditos. O que o diferencia são alguns aspectos musicais. A produção musical é assinada pelo artista em parceria com Adelso Freire e Stefano de Moraes e tem como missão aliar um som pop rock caricato com arranjos de cordas gravados na cidade russa de São Petersburgo.

Em todo o disco, Freire e seus colaboradores buscam estabelecer o diálogo entre o clássico e o popular. O problema é que esta mistura, juntamente com um repertório previsível, na maior parte do tempo, soa artificial. O single Culto do Calvário, derivação estílica natural de "A Igreja Vem", mistura vocais pouco sensíveis a cordas que sobrepujam riffs mornos em uma música que, ao estilo de Anderson, mexe com a imaginação do ouvinte.

O setlist foi composto para se assemelhar, ao máximo possível, com Raridade, afinal, todo o repertório é de autoria do cantor. Naturalmente, Deus não Te Rejeita valoriza o sujeito humano em situação de dificuldade e invisibilidade num "vale tudo" de rimas. Sonhador, num dueto expressivo com Nívea Soares, dá peso e legitimidade ao disco. Por outro lado, canções de enfoque mais congregacional e outras até autobiográficas, presentes mais ao final – Enche o Templo e Vida Simples – são insossas.

O cantor até tenta estabelecer vínculos específicos com outros gêneros, mas sem a sensibilidade necessária, como a tentativa jazzy O Dono da Seara que, com um arranjo e backing vocals mais encorpados, teria desempenho superior. Força Jovem não se desvencilhou dos manjados jargões de "geração". O folk Paz na Guerra, com apelo familiar, tem resultado mais nobre, assim como Tudo É Vaidade. Obstante à proposta, resulta num som de grandeza simulada, potente, mas sem substância.

Não há outra alternativa para Anderson Freire em Deus não Te Rejeita. O intérprete entra em territórios desconhecidos ao mesmo tempo que, numa tensão, busca manter suas raízes com o apelo menos natural possível. O resultado é um disco fortemente dissonante em suas propostas. Por essas e outras, mesmo sendo simplesmente o músico de maior sucesso recente do meio evangélico, seu novo registro certamente não passará no teste do tempo, ao contrário dos memoráveis Identidade e Raridade.

Nota: ★★☆☆
Deus não Te Rejeita

(CD) 01/16


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Tiago Abreu

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), escreveu para o Super Gospel entre 2011 a 2019. É autor de várias resenhas críticas, artigos, notícias e entrevistas publicadas no portal, incluindo temas de atualidade e historiografia musical.


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