Análises

Ouvimos o novo álbum de Davi Sacer - DNA. Confira nossa análise

Gledeson Frankly em 30/09/17 2263 visualizações
Em 2012, Davi Sacer disse que “eu lanço os trabalhos de acordo com o que Deus me direciona, e, sinceramente, pouco me importo com o que dizem os experts do mercado fonográfico”. A afirmação segura e categórica do artista aponta para o seu êxito em trazer canções power pop mesmo em discos questionáveis e de pouca humildade lírica, como o triunfalista Às Margens do Teu Rio (2012).

Em Venha o Teu Reino (2014) e Meu Abrigo (2015), Sacer pela primeira vez conseguiu se desvincular da imagem do Trazendo a Arca e firmou seu nome como um genuíno e interessante artista solo. O primeiro, pela sinceridade temática e produção pop de Kleyton Martins. O segundo, pela grandeza e ousadia de uma gravação ao vivo com repertório inédito – algo que a sua ex-banda só teve coragem de fazer coincidentemente meses antes.

Mas, por trás da aparente face artística impenetrável, Sacer é inseguro e tímido quando aponta para seus anseios musicais. O timing do público ainda pesa na concepção de seus trabalhos. E, por isso, busca agradar gregos e troianos. A prova de busca por aceitação é que DNA, lançado no final de setembro pela Som Livre, se apega a quatro regravações de Ao Deus das Causas Impossíveis (2011) e, por não ter uma direção lírica específica, falha na tentativa de promover um diálogo entre o acessível e o rebuscado.

A culpa não é do guitarrista e estreante produtor André Cavalcante. Afinal, os elementos acústicos e elétricos nos riffs de Meu Lugar é no Altar e no single Acende o Fogo são bem calibrados e condensam o protagonismo recente das seis cordas no repertório de Davi. Musicalmente, o trabalho não aponta fortes desvios na discografia do cantor. A grande lacuna da obra está na imagem que Sacer tenta criar com base em canções que tratam de redenção e, ao mesmo tempo, provisão divina.

É nítido o esforço de Sacer em construir uma estética musical após a saída do grupo que lhe deu visibilidade no cenário nacional. Neste projeto, fica bem claro a inserção de guitarras e violões lisérgicos entre os recorrentes teclados e elementos eletrônicos, fato já observado em registros anteriores. Vem e Habita, Boa Parte e Aleluia são excelentes exemplos deste caso. Contudo, mesmo construindo boas músicas de caráter pop, Davi ainda fica preso ao discurso raso e pelo excesso de pudor no desenvolvimento de suas ideias.

A aparente maior participação de Verônica Sacer nos vocais em comparação aos dois trabalhos anteriores também sinaliza uma intenção muito evidente de Davi em manter aparências familiares em seu álbum. Não é Verônica que abrilhanta canções como Mereces o Melhor: Apesar dos créditos, a intérprete, em todos os seus vocais, está relegada a uma posição de segundo plano. Todo o tipo de investida carismática feita pelo músico é dirigida para confirmar sua “identidade” musical.

A intenção de construir a imagem de um artista independente o qual não depende da aprovação do público acerca de seus projetos não combina com alguém que está numa das principais gravadoras do país, regrava canções de apelo popular e deixa sua sonoridade mais digerível para o ouvinte. Sacer tenta mostrar conforto e adequação num cenário musical em constante mutação, o que lhe revela certa incapacidade de surpreender mesmo perante muitas chances de aprofundar sua estética lírica. Ao contrário da curva de crescimento vista em seus dois álbuns anteriores, DNA é reflexo de um Davi Sacer que não sabe para onde quer chegar.

Colaboração e revisão: Tiago Abreu

Avaliação: ★★★☆☆
DNA

(CD) 01/17

(4,0/5)
Total de votos: 1

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Gledeson Frankly

Paulista, cristão e acadêmico em administração pela UNIFESP. Escreve para o Super Gospel desde 2017.


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