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Conversamos com Netinho, da Patmus, sobre o novo álbum de Brother Simion

Redação em 20/09/16 1624 visualizações

Em julho deste ano, Brother Simion surpreendeu a todos ao lançar, sem qualquer alarde, o álbum Legado. O disco, cuja distribuição ficou a cargo da gravadora Radar Records, foi gravado na cidade de São Paulo e contou com a produção musical de Netinho, líder da banda Patmus. O lançamento artístico de Brother envolve uma história de amizade e gratidão por um dos legados mais importantes da história da música cristã brasileira.

Em entrevista, Netinho fala sobre o desafio, para a sua carreira, trabalhar com Brother Simion. "Ele é muito intenso", disse o guitarrista. O álbum foi gravado durante mais de um ano e envolveu um repertório que passeia pelo som de um artista notoriamente versátil. Em Legado, Simion mostra que diminuiu sua velocidade de produção, mas sua criatividade ainda segue a mil.


De que forma você e Brother estabeleceram a parceria de gravar o álbum Legado?

Eu e o Simion somos irmãos desde a época da Renascer e do Katsbarnea. E, no ano retrasado, eu estava numa cidade e fui à uma igreja onde o Simion estava ministrando. E, no final deste culto, fui lá dar um abraço nele, fui perguntar sobre a família, os filhos e a esposa. Ele estava vendendo CDs usando um envelope.

Aquilo mexeu muito comigo, porque pra mim o Simion é a história da música gospel no Brasil, principalmente [no segmento] pop rock. Eu estive nas gravações de todos os discos do Katsbarnea em que ele participou. E tudo aconteceu pós-Simion. E quando o vi vendendo um CD num envelopinho, ao final do culto, aquilo de certa forma me incomodou. O Simion merece muito mais do que isso, por tudo o que ele representa, por tudo o que ele é por tudo o que ele fez.

Eu tenho um estúdio em São Paulo e propus a ele que eu queria fazer um bom disco, com tudo e do jeito que ele quisesse e perguntei se ele toparia. E ele olhou pra mim, neste dia, e disse: "Cara, eu vou orar". Ou seja, ele até cortou o meu 'barato', porque achei que ele iria aceitar de primeira. Depois de uns 20 dias ele me chamou, falou que orou e disse que Deus falou pra ele que podia gravar comigo.


Como foi o início do processo de gravações?

A produção ocorreu entre setembro de 2014 a janeiro de 2016. Primeiro começamos a selecionar as canções. Ele já tinha quase 30 músicas e era uma música melhor que a outra, bem melhores que as dos outros trabalhos, inclusive. Eu o pus dentro do estúdio, ele pegou seu violão e começamos a gravar uma por uma para vermos quais iríamos escolher.

Esse processo todo demorou um ano, porque meu desejo era que o Brother Simion fizesse tudo do jeito que ele queria. Eu não queria fazer um disco que tivesse a cara do Netinho, o produtor, queria que tivesse a cara do Brother. E queria que a família dele gostasse de todas as músicas que saíssem de lá.

E por causa disso grandes produtores não quiseram 'pegar' o Simion. As pessoas querem coisas rápidas, fáceis e ganhar dinheiro. Como a minha proposta não era ganhar dinheiro e sim extrair o melhor dele, iniciamos este processo e foi muito bacana.


E como é gravar com Simion?

Diferentemente de outros cantores, o Simion é um cara muito musical e tem muita experiência. Ele tem 62 anos. Não há o que produzir. Ele traz tudo pronto na cabeça dele. Você só tem que entendê-lo. Ao mesmo tempo era difícil lidar com ele.

Todo mundo sabe como é o Simion. Ele é muito intenso. Algumas das músicas produzimos de cinco a seis versões, com toda a parte de arranjos instrumentais. E cada vez que ele vinha com uma música, ele trazia uma versão melhorada e diferente na cabeça. Nós tínhamos que entender a cabeça dele e tirar aquilo que ele queria.

O processo foi natural, mas também exaustivo. Eu tive que ter muita calma e paciência. Até porque se você deixar o Simion muito livre, ele faz várias coisas, uma melhor que a outra, e depois você tem que ter a paciência para lidar com tudo isso.

E não nos preocupamos com nada. Até falei pra ele que não precisava por meu nome de produtor do disco, porque o Simion é meu amigo. E acho que no nosso meio gospel está faltando amigos. Quando nós perdemos esta essência da amizade e do respeito pelos artistas antigos, estamos desconsiderando a própria história da música. E o Brother Simion é parte desta história.


Como se deu a escolha dos músicos?

No disco do Brother, eu tive que fazer tudo. Como eu conheço o Brother praticamente durante minha vida toda, eu já sabia onde eu estava me metendo (risos). Então disse para o Simion que eu ia escolher pessoas que tiveram este mesmo relacionamento com ele que eu tive. Ou seja, pessoas que conhecem a história e a vida do Simion e que conviveram com ele.

A primeira pessoa que eu fui atrás foi o Robinho Tavares, um baixista que chegou a tocar no Katsbarnea e tocou no Troad. É um dos maiores baixistas e é um cara muito conceituado no mercado. Ele foi o primeiro cara que eu liguei. E quando eu liguei para ele, contei toda a história e quando acabei de falar ele disse: "Neto, obrigado pelo privilégio que você está me dando, pode contar comigo" e veio. Não me cobrou um real.

Me lembro que, quando ele veio para gravar no disco e o Simion viu ele, o Brother começou a chorar e eles se abraçaram no estúdio. Foi muito interessante porque o Simion não esperava que ele viria. Hoje o Robinho é um dos baixistas mais famosos e caros do Brasil. Mas ele entendeu o que eu estava querendo fazer. Nós estavamos querendo fazer um disco para o Brother, que contasse a história dele.

Daí chamei o Juninho Vargas, baterista que chegou a tocar no Katsbarnea, o Ted [Furtado] do Kadoshi, o Juninho do Templo Soul, o Jean, guitarrista muito bom. Também chamamos a Pitita, que tocou bateria na banda Troad. Na época, ela era a primeira mulher baterista do Brasil. O Ney Gomes é um tecladista maravilhoso e tocou com a gente no passado, foi um dos produtores do Renascer Praise. Trouxe também a Sacha, da banda Juízo Final.

Todos estes músicos foram voluntários. Ninguém quis cobrar do Simion, todo mundo entendeu o projeto. Esta foi a coisa mais interessante que aconteceu. Até porque ele ajudou estas pessoas. Foi o cara que abriu tudo pra nós. Foi muito legal porque todos eram amigos. Quando chegavam ao estúdio, abraçam o Simion, alguns choravam... Aquela reação eu nunca tinha vivido. Nem mesmo quando produzi um CD do Ron Kenoly com o Joe Vasconcelos eu tinha vivido uma coisa tão gostosa e verdadeira em sua essência.


Durante as sessões de gravação ocorreu algo diferente?

Tinha dias que o Simion chegava no estúdio e, estávamos todos prontos para gravar. E, na hora, ele queria orar. E nós passávamos horas orando. Em outras situações, estava tudo pronto para gravar e, de repente, começávamos a conversar sobre as nossas vidas, nossas famílias, sobre Deus... e acabava virando um culto. Não é algo que geralmente acontece com gravações. E não só comigo. O Rod Mayer, o ex-vocalista do Troad, estava sempre lá no estúdio com a gente.

Hoje, quando se grava um disco, é tudo muito profissional. Os caras já sabem o que querem fazer, já tem suas referências próprias. Neste disco, todas as vezes em que nós citávamos que uma música se assemelhava a algum cantor, seja secular ou evangélico, o Simion mandava refazer. Ele falava que não queria nenhuma influência externa. No momento da execução me incomodava, mas depois comecei a perceber que estavam surgindo efeitos positivos. O álbum, cada vez mais, estava com a cara do Simion.

Outra coisa que me chamava a atenção, durante as gravações, é que o Simion tem uma característica incrível. Ele não desafina nenhuma nota. Eu não tive que refazer nenhuma gravação das vozes. É um talento e um nível muito acima da maioria dos cantores que, apesar de cantarem muito, na hora de gravar não são afinados.

Eu lembro que, uma vez, estava gravando uma das faixas no estúdio. Na época, apelidamos de "Alive" e no disco final ficou como "The Way To Your Heart". Quando fui olhar, o Simion estava dançando e falando em línguas no estúdio. Foi muito doido. Ele levou um amigo dele da Alemanha e eles começaram a orar dentro da sala de estúdio. Com isso, fiquei quatro horas com o REC apertado gravando tudo. Ele apagava a luz para gravar. Foi um momento em que eu não sabia se parava a gravação. Mas eu deixei rolar até o momento em que ele e o cara pararam de orar e falar em línguas. Nisso, ele voltou a cantar como se nada tivesse acontecido.

Gravar com Simion é diferente. Com ele nada sai normal. Foi como se eu voltasse à minha essência cristã. Sabe quando tudo está no início e você faz tudo com amor, carinho, paixão? Foi muito bacana.


O que a faixa-título, "Legado", significa para você?

Uma das coisas que sempre me pegam em produções de CDs é que, normalmente, as pessoas vem com um repertório sempre pensando em vender, mas nunca em trazer uma história verdadeira. Quando nós fazemos um CD para vender e para tocar na rádio, praticamente matamos o legado daquele disco. Porque ele só vai servir se fizer sucesso. Mas eu acho que a música deve causar mais impacto nas pessoas. Ela tem que fazer a pessoa refletir e esta música, especificamente e principalmente, me chama muito a atenção para isso.

"Legado" é uma das músicas que mais mexeram comigo, porque ela fala da nossa correria. Nós corremos atrás de tantas coisas mas nos esquecemos das coisas essenciais. E a música tem a ver com que Simion e eu estávamos vivendo. Quando produzi o disco dele, estava pensando na história do Simion, em tudo o que ele proporcionou para mim no Katsbarnea, na Patmus e até os dias de hoje. Ele foi um cara que sempre esteve comigo nos momentos felizes e difíceis da minha vida.

Os nossos maiores legados são os nossos amigos, nossa família. Não são as nossas músicas, quantas viagens fizemos, quantos CDs gravamos e quantos milhões foram vendidos. Nosso legado é muito maior do que isso. Nós corremos tanto atrás das coisas e deixamos para trás o que é precioso. Esta música mexeu muito comigo. E, para todos os músicos que participaram da gravação, esta música mexeu com eles também.


Além da faixa principal, "Legado" tem outras duas versões no disco. Uma delas, inclusive, lembra bem a proposta do disco Na Virada do Milênio, lançado em 2000...

Como o Simion viaja muito para fora do Brasil, eu quis fazer uma versão mais brasileira da música. A outra, eletrônica, nós chamamos o DJ Anselmo Santos, que é vocalista da Patmus. Ele ficou responsável pelas duas versões. Estas duas versões iriam agradar mais quem é dos países europeus e decidimos incluir no CD.


E é, além de tudo, uma música que fala da sociedade como um todo.

Sim. Uma coisa que me chamou a atenção é que, quando o disco chegou na parte de mixagem e masterização, preferi levar fora do estúdio que gravamos. O estúdio que levei foi o Gênesis em Lençóis Paulistas para um cara que tem um estúdio incrível só para estas duas coisas. Quando ele colocou esta música, ele olhou pra mim e perguntou: "Que que isso?". Ele estava justamente nesta fase. Ele correu a vida inteira e estava meio fadigado das coisas da vida. E a música mexeu muito com ele.


Legado é o disco do Brother Simion que, proporcionalmente, mais contém composições em inglês da discografia dele. A que se deve esta diferença em relação aos anteriores?

Ele viveu uma boa parte da vida dele fora do país. O Simion não é aquele brasileiro que canta músicas em inglês. Na realidade, ele pensa como um britânico. Ele viveu em Amsterdã. Antes de gravar este disco ele ficou quatro anos morando na Alemanha. Inclusive, a esposa dele é alemã. Por isso, por incrível que pareça, soa um inglês cantando música brasileira.

"Jumping in the Air", por exemplo, é uma música bem legal porque ao meio se transforma num reggae. E ela soa acústica, embora tenha muitos elementos eletrônicos. E muito do repertório que o Simion trouxe estava em inglês. E o conteúdo dele em inglês é mais legal que em português. Amigos meus britânicos elogiaram muito estas músicas e não achavam que era um cantor brasileiro. Até pensei em fazer um CD totalmente em inglês. Mas ele preferiu misturar.


As três músicas seguintes são mais contemplativas, lentas e bem longas. O clima do estúdio influenciou as suas conduções?

Eu deixei o Simion tocar de forma espontânea. Era a forma que ele pensava o disco. Poucas músicas eu encurtei. E como, já estávamos fora do padrão das rádios, não tivemos esta preocupação.


Como ficou a questão da distribuição pela Radar Records?

Nesta parte não me envolvi muito. Só fiz a indicação. Até porque ele está sem gravadora. Ainda estamos no processo inicial. Não temos o CD físico, mas o digital ficou com esse pessoal que o trabalhou nas plataformas digitais.


Ficha técnica

Produção e direção – Netinho (Patmus)
Baixo – Robinho Tavares e Ted Furtado
Bateria – Juninho Vargas e Pitita Mayr
Violão – Jean
Guitarra – Jean, Taimes, Netinho
Backing vocals – Sacha Guedes e Fico
Teclado – Ney Gomes
Arranjos de "Legado (Remix)" e "Legado (Brasil Remix)" – Anselmo Santos
Mixagem e masterização – Campos Junior

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