Análises

Confira nosso review de O que a gente faz fala muito mais do que só falar - um clássico do Fruto Sagrado

Gleison Gomes em 25/04/11 8285 visualizações
Em seus trabalhos, a banda Fruto Sagrado sempre conservou, além do louvor a Deus, forte engajamento político/social, letras fortes, cheias de críticas inteligentes e muito bem encaixadas. E em O que a gente faz fala muito mais do que só falar não é diferente. Trata-se de seu 3º álbum, lançado em 1995, pela Gospel Records.

É um álbum de grande valia, vejamos as faixas. 55221 é a faixa inicial. Ela é um belo instrumental com duração de 06:10 minutos, a de maior “tamanho” no disco. São quatro guitarras, onde a primeira e a terceira é executada por conta de Bene (Maldon), a segunda por Juninho e a quarta por Paulo de Barcellos. Vale dizer que para nossa infelicidade, atualmente, é cada vez mais raro as bandas lançarem faixas instrumentais.

A seguir vem Retórica, cujo refrão intitula o álbum. A palavra retórica remete a arte de falar, uma eloqüência, oratória, não só de se expressar com facilidade, mas também de, através das palavras, conseguir persuadir as pessoas. Nessa música tecem pesada crítica aos cristãos que só se ocupam do muito falar, fugindo da fé e obras (Tg 2.17). Num verso da música eles cantam “As pessoas estão famintas; Fome e sede de justiça! As pessoas estão sedentas, mas a alma continua vazia! Elas querem fatos concretos e, ver, às vezes é melhor que ouvir; A nossa mão estendida fala mais que o nosso Blá-Blá-Blá!”.

Em Bomba relógio, é relatado o drama sofrido por uma pessoa que fez um teste para saber se era soropositivo, ao descobrir que sim, irá travar uma batalha pela vida e a convivência discriminatória da sociedade. O amor de Deus é apontado como solução, pois “Aos olhos do Pai somos todos iguais, Ele não olha o vírus, Ele olha o nosso coração”.

A quarta música, A missão, conta a história de André que, mesmo morando num ambiente marcado pela desigualdade e violência (o Rio de Janeiro, chamado na música de “violenta babilônia do Brasil”) e sua família achando que ele havia enlouquecido, “sobe o morro porque sabe que tem uma missão, André sobe o morro! Sobe o “Dona Marta” com muita determinação!”, pois “André sabe que a resposta é só Jesus”. No encarte do disco há uma dedicatória dessa música a “todos os missionários, como André Fernandes, que foram chamados para realizar um trabalho alucinante, irradiante e transcendental”.

Presente é uma faixa romântica. Estar com a pessoa amada parece um sonho, e ela é o presente do céu. O cd apresenta duas faixas em inglês. A primeira delas é Internal war, versão de “Guerra interior” (do cd que leva o nome da banda, “Fruto Sagrado” lançado no ano de 1989), feita por Alexandre Daumerie que também participa, dela, nos vocais.

A sétima faixa, Heaven or hell? (céu ou inferno?) propõe que o ouvinte faça sua escolha, sem direito a meio termo, porque “A real é radical, não existem relativos, não existe purgatório, não existe reencarnação! Depois que a gente fecha os olhos e vai dormir no “jardim da saudade”, não existem mais provas de recuperação”.

Em Música, temos uma das melhores definições poéticas acerca da importância, função e característica da própria música, veja só “Preenche o frio silêncio, Metabolizando os sons; Mexe com o corpo e a alma, A linguagem universal!”, e além do mais é “Dom de Deus para os homens”, “Arte que ultrapassa seus limites”, “essencialmente essencial!”, e por fim, música é definida como “A mágica do som”.

A música de número nove é Podridow” (podre+Down (mal)), uma ferrenha crítica a pratica de politicagem. Começa com um “político” fazendo mais um dos discursos, cheios de pomposos verbetes, porém vãos, à medida que ficam apenas no campo do discurso. E encerra-se com um “puxar de descarga”, sugerindo como a medida mais apropriada aos “podres”.

Nosso erro versa sobre o verdadeiro caráter de uma relação. Um relacionamento que fracassou por se apoiar meramente na passageira paixão. Conclui-se que “Amor de verdade, nunca acaba, nunca enfraquece, amor de verdade, Não é como um vulcão chamado paixão que ao adormecer só deixa incertezas”.

Até então, nestas dez faixas, ouve-se o peso da bateria e de vigorosas guitarras, que são a marca maior desse álbum. Mas pequena pausa será feita para uma das mais belas canções da história da banda. Com O amor de Deus, é o momento do teclado e violão ganharem espaço. Ela nos transmite a mensagem de transformação, de pessoas que acharam que conheciam a Deus, mas que perceberam que estavam “adormecidas em preconceitos, anestesiadas, achando que sabiam tudo”, até que finalmente perceberam que não sabem de nada, num verso cantam: “Mas o teu olhar brilhou mais que o sol, esse calor me encheu de vida, e o meu passado pesado e carregado de pecados, Você apagou, Você me aceitou, me perdoou, Amor que eu não consigo entender!”.

A fechar o cd, a segunda faixa do álbum em inglês, The first Stone(a primeira pedra, baseada em Mt 1.2 e Jo 8.7), com ela retorna o potente rock de antes, em mais uma versão e participação no vocal de Alexandre Daumerie.

O que a gente faz fala muito mais do que só falar é um fruto maduro. Foi produzido pela própria banda Fruto Sagrado, que na época era formada por: Marco Antônio (baixo e voz); Bênlio Bussinger (teclados, guitarra e vocal); Flávio Amorim (bateria e vocal). Contaram com a participação de Paulo de Barcelos, Wagner (Juninho), Alexandre Daumerie e Bene (Maldon) que, como todos sabem, acabou se juntando a banda.

Ouças as músicas e saiba mais sobre: Fruto Sagrado

Veja também no Super Gospel:

Gleison Gomes

Historiador, apreciador de música, filmes e bolo de abacaxi.


Comentários

Para comentar, é preciso estar logado.

Faça seu Login ou Cadastre-se

Se preferir você pode Entrar com Facebook