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Tanlan em homeostase

Tiago Abreu em 08/11/16 1435 visualizações

Terceiro disco da banda de rock gaúcho promete estabelecer diálogos

Quando a Tanlan se propôs a fazer perguntas no debut Tudo que eu Queria, lançado em 2008, estava a fincar pontos em sua história que ressoariam ainda em 2016. Afinal, se o grupo respondeu muitos dos questionamentos em Um Dia a Mais, distribuído em 2012, uma síntese clara dos dois mundos por meio de um futuro disco – numa espécie de diálogo – seria bem-vinda.

Durante o processo de divulgação de seu trabalho solo, o vocalista Fábio Sampaio esteve na cidade de Goiânia e cedeu uma entrevista à equipe do Super Gospel. Durante a conversa, realizada no hotel em que o cantor estava hospedado, várias novidades foram anunciadas. O terceiro trabalho dos gaúchos, segundo ele, estabelece uma conversa. Há letras íntimas e confessionais, mas também, pelas prévias de “A Maior Aventura” e “O Que Vai Ficar”, mantém firme o caráter pop do quarteto.

Sintonia

Desde 2012, a Tanlan passou por mudanças estruturais visíveis. Não somente a assinatura com a gravadora Sony Music Brasil, mas a saída do guitarrista e compositor Beto Reinke também deu início ao processo. O grupo tentou uma nova formação com a presença de Lucas Moser, que acabou saindo em 2014. Antes da saída de Moser, segundo Fábio, Beto estava se reaproximando e a Tanlan quase virou um quinteto.

O ‘elemento Reinke’, no entanto, não foi o único ponto de mudanças no grupo de Porto Alegre. Nas palavras de Fábio, os outros integrantes também passaram por novas trajetórias neste período. “O Tiago [Garros] teve que fazer o doutorado em Oxford, eu tive uma troca de emprego que gerou certas crises emocionais, quase uma depressão. E tudo isso acabou criando um contexto emocional para o disco”.

Mas algo soou certo no caminho dos quatro membros. Unidos novamente, após a ausência e retorno de Beto, era um sinal de harmonia. “Quando o Beto tinha voltado, nós encontramos uma paz em grupo de novo”, afirmou Fábio. Por conta disso, a banda chegou cogitar a dar, como título, Homeostase para o novo trabalho.

Independência

Homeostase é um termo criado pelo fisiologista Walter Cannon (1871–1945) para definir a capacidade de um organismo em manter, internamente, equilíbrio sem ser afetado pelas ocorrências externas. Durante este período, a Tanlan pode não ter vivenciado uma homeostasia ininterrupta, mas o grupo, em sua trajetória, se estrutura para  a autossuficiência.

“A Tanlan, em sua essência, é um projeto independente”, afirma Fábio. Segundo ele, para o funcionamento pleno do grupo, todos os integrantes são importantes. “O Fernando [Garros], publicitário, é responsável pelas questões visuais. O Tiago pensa muito o texto. Geralmente sou eu quem responde as entrevistas, mas ele faz a revisão dos textos. Cada um tem uma função meio definida”.

Isso se reflete na produção do novo disco que, segundo Fábio, é produzido pela banda. Mesmo ponderando que a direção musical parta de si, ele considera que as ideias são distribuídas entre os membros do grupo. “Alguém tem que bater o martelo no final. Como eu trabalho mais com produção musical, acabo ficando com este papel”. A gravação ocorreu em seu estúdio pessoal, mas também em outro espaço de gravação que a banda usa. “É o nosso Tanlan’s House”, brincou.

Em cerca de dez anos, Tanlan mantém entrosamento | Imagens: Fotolog Tanlan (2007) e Marcelo Feijó (2016)

Mesclas

Ao recordar o primeiro trabalho, Tudo que eu Queria, Fábio considerou que a Tanlan estabeleceu novas metas artísticas a cada trabalho. “Eu acho que a gente desencanou um pouco de coisas que éramos muito encanados no primeiro disco. No primeiro disco nós queríamos soar muito secular”, ponderou.

Com as respostas de Um Dia a Mais e a assinatura de contrato com o selo evangélico da Sony Music Brasil, era natural que o grupo, cuja agenda tinha grande força no segmento não-religioso, atraísse a atenção dos evangélicos. Porém, o frontman é cauteloso em definir o alcance artístico da Tanlan. “Costumamos dizer que nós não somos seculares o suficiente para o secular e nem crentes demais para os crentes. E esse terceiro disco é uma mescla muito amalgamada dos dois”.

Assim, o novo trabalho livra-se de possíveis (e naturais) limitações existentes nos discos anteriores. Segundo Fábio, o novo trabalho apresenta canções que ele vê potencial de força em igrejas – como “Epifania” –, ao mesmo passo que brada liberdade e grita por socorro em “Eles Dizem”. Por isso que Fábio acredita que a música pode ter até um efeito antibullying.

“Ela pode ser lida de várias formas. Pode ser lida de um ponto de vista de dentro da igreja, em que, de certa forma, você é oprimido pelas lideranças e, ao mesmo tempo, tem o ponto de vista de quem não tem qualquer convívio de igreja e se sente oprimido para ser aceito no grupo [social]”, defende o intérprete.

Lançamento

O público não ficou distante do longo processo pelo qual o terceiro disco da Tanlan esteve envolvido desde o ano de 2014. Além das músicas já divulgadas pela banda, alguns passos da produção foram transmitidos por meio de transmissões pelo Facebook. Nelas, os músicos gravaram takes de instrumentos e Fábio pôs voz nas faixas. O processo de masterização, por sua vez, é o que ainda falta.

Antes de lançar o álbum Um Dia a Mais, a banda chegou a lançar “De Onde Vem” com “Fingir” no Lado B. Desta vez, o grupo divulhou duas canções, influenciados pelas novas alternativas existentes com a distribuição digital de singles. “Em algumas conversas e leituras sobre o mercado digital, percebemos que não há a necessidade de um disco. Só que nós queríamos muito um disco justamente por este momento da banda. São marcos para nós”, considerou.

Para Fábio, é fundamental que o público identifique o momento em que a banda vivia na gravação. O lançamento, segundo ele, pode se dar ainda em 2016. “Se nós não conseguirmos lançar o disco até o final do ano, já temos um single para lançar até o disco sair. Estes três singles vão entrar no disco e eu gostaria que fossem com a sonoridade que foram lançados”.

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Tiago Abreu

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), escreveu para o Super Gospel entre 2011 a 2019. É autor de várias resenhas críticas, artigos, notícias e entrevistas publicadas no portal, incluindo temas de atualidade e historiografia musical.


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