Notícias

Confira nossa conversa com Salvador de Souza, autor do livro História da Música Evangélica no Brasil

Roberto Azevedo em 01/09/11 2322 visualizações
Dizem que os evangélicos não têm uma memória musical, e essa é a principal razão de esquecermos tão rapidamente nossos cantores, grupos e discos do passado.

Mas a exemplo do que ocorre no meio secular em relação à sua música, é possível construir uma memória de música evangélica brasileira.

O primeiro passo foi dado por Salvador de Sousa, que concluiu a obra intitulada História da música evangélica no Brasil. Lançado inicialmente pelo Clube de Autores, em junho de 2011, o livro despertou o interesse da Editora Ágape que o lançará ainda neste segundo semestre.

Fruto de 5 anos de pesquisa, este é o mais completo relato sobre a vida e obra dos cantores e grupos evangélicos brasileiros. Abrange todos os ritmos musicais e não tem cor denominacional.

O livro é amparado por uma extensa bibliografia, dezenas de websites, várias entrevistas e milhares de LPs e CDs, que o tornam uma obra fidedigna e esclarecedora.

Confira abaixo nossa entrevista exclusiva com o autor do livro, Salvador de Sousa.

Supergospel– Quem é Salvador de Sousa?

Acima de tudo sou alguém que ama a Jesus Cristo e está a serviço do seu Reino. Sou membro da Igreja de Cristo desde 1986, ano em que fui batizado nas águas. Nasci no interior da Bahia, porém moro em Brasília desde 1970.

Dentre outras coisas, sou colecionador de discos evangélicos desde 1989 e pesquiso nossa música desde 2004, ano este em que ingressei na arte de escrever textos e livros, especialmente sobre a música evangélica brasileira.

Supergospel- Em que momento você se tornou um colecionador de discos evangélicos?

Em 1989 assisti a um show da banda Rebanhão, no Teatro Nacional de Brasília. Gostei tanto das músicas que no primeiro dia útil fui à loja e comprei o LP Princípio. A partir daí fui comprando outros LPs, especialmente os das bandas jovens lançados pelas gravadoras Gospel Records, MK Puclicitá e Bom Pastor, além de centenas de outros lançados de forma independente. Não pensava em ser um grande colecionador, mas apenas ter discos para ouvir em casa.

Agindo assim, em 15 anos comprei quase 1.000 LPs e CDs, especialmente dos anos 90. A partir de 2004 comecei a buscar discos das décadas de 60,70 e 80. Então fui atrás de lojas e gravadoras evangélicasem busca de estoques antigos de LPs. Encontrei somente 5 empresas das quais comprei mais de 1.500 LPs em 4 anos. Hoje estou bem perto de completar 3.000 títulos em LP, compacto e CD. É muito disco, um grande acervo, porém tenho contato com colecionadores que têm mais discos do que eu.

Supergospel – Como nasceu a ideia de escrever o livro intitulado “História da Música Evangélica no Brasil”?

Na verdade eu sempre almejei escrever livros, porém não nessa área. Só pensei no assunto depois de um bate-papo que tive com o cantor Carlinhos Veiga em 2004. Contei-lhe que estava escrevendo, desde 2003, um pequeno resumo da história da música evangélica para colocar no meu site. Ele me disse que poderia ser mais interessante e relevante escrever um livro. Saí dali, então, encorajado e motivado a escrevê-lo. Um amigo sugeriu o título Almanaque da Música Evangélica, porém, devido à proposta da obra, prevaleceu o nome atual.

Supergospel - Como fica a situação dos cantores e grupos que ficaram de fora desta edição?

Espero solucionar isso na próxima edição. Devido à imensa e inumerável quantidade de expoentes que lançaram discos em todos os cantos do País, seja por gravadoras ou de forma independente, é praticamente impossível não esquecer de alguém. Até porque eu precisaria de informações escritas, bem como ter tido acesso aos seus discos; e isso não foi possível na maioria dos casos daqueles que ficaram de fora. Vale ressaltar, entretanto, que meu livro lembrou de 821 cantores e grupos e mais de 50 gravadoras evangélicas, além de ter levado em consideração mais de 2.500 discos, entre LPs e CDs. Isso é muita coisa! Com as próximas edições, novas alterações virão e, consequentemente, o livro ficará mais completo.

Após todos esses anos de pesquisa, você deve ter uma opinião formada sobra a música gospel. Por que não fez um livro de história crítica?

Realmente a música evangélica precisa de livros com abordagem crítica, fazendo reflexões da sua situação no passado e no presente, desfazendo mitos, corrigindo injustiças e apresentando soluções para seus problemas. Mas eu não poderia trazer isso para o meu livro, sob pena de sofrer críticas ferrenhas, boicotes, ameaças e até processos na Justiça por danos morais. Então preferi escrever um livro que tanto os leitores quanto os artistas gostassem, ou seja, uma obra informativa.

Haverá exceções, mas acredito que a maioria aprovará e gostará dessa obra. Mais adiante, aproveitando meus conhecimentos, talvez escreva um livro só de crítica e reflexão, com apresentação de propostas construtivas para aperfeiçoar a música evangélica. Seria um livro de “confronto” entre o presente e o passado, entre a música atual e a antiga. Mas quando começarei a escrevê-lo, não sei ainda.

Supergospel – Quais foram as principais dificuldades encontradas durante esses 6 anos de trabalho intenso?

Diversas dificuldades, as quais podem ser resumidas em:

1. Cansaço físico e mental decorrente de várias horas de dedicação diária ao livro, tendo que conciliar isso com esposa, filhos, igreja, lazer e meu trabalho no serviço público;

2. Dificuldade de obter informações sobre dezenas de cantores de paradeiro desconhecido, sem dados e matérias nos veículos de mídia evangélica.

3. Solidão decorrente de várias viagens, longe da família e amigos.

4. Dificuldade em achar o ponto certo de abandonar (suspender) a pesquisa para publicar o que já tinha conseguido. Só depois de 5 anos consegui isso, porém gastei mais 1 ano só com ajustes, pequenas correções, alguns acréscimos e diagramação.

Supergospel – Houveram muitos gastos?

Sim. De todos os tipos. Gastos com livros, revistas, jornais, LPs, CDs, interurbanos, passagens aéreas e rodoviárias, hotéis, etc. Estimo, por alto, que devo ter gasto em torno de R$ 15.000,00, em seis anos de trabalho, retirados do meu salário quando dava. O maravilhoso é que Deus tudo supriu.

Supergospel – Em algum momento você desanimou e pensou em não dar prosseguimento ao projeto?

Em momento algum. Sempre tive plena convicção de que essa era uma missão dada por Deus a mim. E durante a pesquisa tive diversas ocasiões em que isso ficou tão evidente, que me trouxe grande admiração com a presença e o cuidado de Deus.

Supergospel - Seu livro é a primeira obra do gênero, lançado no Brasil. Por ser algo tão abrangente, não vai agradar a todos. Tão certo quanto os elogios, virão as críticas. Você está preparado para os comentários negativos e positivos sobre o trabalho?

Na verdade o meu livro é o segundo no gênero. O primeiro, já esgotado há muitos anos no mercado, intitulado “Música Sacra Evangélica no Brasil”, da Henriqueta Rosa Fernandes Braga, foi lançado em 1961. A proposta do meu livro é abranger todos os cantores e grupos que eu tiver informações por escrito e acesso aos seus discos.

Se escrevesse um livro não-abrangente, delimitado ou parcial, sofreria críticas do mesmo jeito. Então optei por escrever um livro sem preconceito de igreja, estilo, ritmo, gravadora, qualidade, década, etc. Bom, toda crítica, se construtiva, é bem-vinda. Mas para que isso ocorra, de forma justa e coerente, é preciso que a pessoa leia toda a obra, página por página. Para facilitar isso, deixei até meus e-mails no livro para que as pessoas possam dialogar diretamente com amigo e apresentar suas críticas e sugestões. Quem procurar defeitos na obra, com certeza encontrará, porém quem está a procura de novos conhecimentos no assunto achará em abundância.

Por fim gostaria de defender meu livro argumentando o seguinte: ele tem muito mais qualidades do que defeitos, muito mais pontos positivos do que negativos. É um manual, um guia da música evangélica brasileira, onde as pessoas poderão adquirir novos conhecimentos, tirar suas dúvidas e satisfazer curiosidades.

Supergospel – A obra foi lançada inicialmente através do Clube de Autores. Antes disso você tentou contato com alguma editora evangélica?

Sim. Procurei quase 20 editoras evangélicas, seja pessoalmente, por telefone e especialmente, por e-mail. Umas 3 ou 4 não me responderam, porém a maioria me deu um retorno. Algumas disseram que o livro não se encaixava na proposta da editora, seja por eu não pertencer à mesma denominação que a empresa representa, seja por estar fora da linha editorial da editora. Duas demonstraram ser extremamente exigentes solicitando muitas informações sobre o autor, mas aparentavam ser lentas na análise da obra.

Teve uma que demonstrou bastante interesse em publicar, porém não dependia somente da representante interessada. Não encontrando nenhuma porta aberta no meio evangélico, recorri ao Clube de Autores que me acolheu e me tratou com dignidade, respeito e atenção. No mesmo mês que o livro começou a ser vendido no site do Clube de Autores, um representante da Editora Ágape (www.editoraagape.com.br) viu o livro e me convidou para lançá-lo, por lá. Aceitei o convite, fechamos contrato e agora a editora está trabalhando nesse relançamento.

Supergospel – Como tem sido a receptividade do mercado gospel em relação ao livro?

Ainda não deu para perceber muita coisa, devido a essa troca de editora, porém 99% das pessoas que adquiriram a obra manifestaram alegria e parabenizaram pela chegada desse importante documento para a música cristã, aliás para o povo evangélico.

Supergospel – No livro você deixa um recado para os leitores que possuam informações, jornais, livros, revistas, discos de 78 rotações, LPs, compactos, K7, VHS, DVDs e CDs que possam aperfeiçoar o livro, e queiram compartilhar com o autor. Como está essa atualização para a segunda edição. Já tem bastante coisa no forno?

Eu deixei esse recado para deixar um contato sempre aberto com os leitores, pois acredito que muitos deles têm alguma coisa que possa contribuir e enriquecer este livro. Realmente esse tipo de obra requer outras edições revistas e ampliadas. Irei fazer isso, mas quando, dependerá da editora. Fechei o livro com o ano 2009, encerrando uma década que começou em 2000, entretanto desde 2010 tenho obtido diversas informações que poderiam estar no livro, mas não deu para incluir. Até porque o livro estava diagramado de tal forma que alterações profundas adiariam ainda mais seu lançamento.

Por isso digo que não foi fácil para mim, suspender a pesquisa para publicar o livro do jeito em que se encontra. Mas era importante fazer isso para preservar minha saúde física, mental, financeira e, também, visando angariar outras informações e discos através de leitores. Quanto a uma segunda edição, não dá para ter uma previsão, mas deve demorar, pois dependerá principalmente da editora.

Supergospel – Quais são seus planos para o segundo semestre de 2011 em relação ao livro?

Depois de lançado pela Editora Ágape, vou continuar trabalhando na divulgação da obra. Mas quero, também, começar a escrever um outro livro. A princípio tenho em mente tratar de um assunto pouco explorado na área de edificação cristã.

Na sua opinião haveria alguma década que possa ser considerada melhor que as outras, em termos de música evangélica?

Conversando com alguns amigos colecionadores, que tem acervos acima de 1.000 discos, e que conhecem um pouco da música dos anos 60 até hoje, eles tem demonstrado preferência pelos anos 70. Estou com eles, pois a música dessa década tinha maior variedade de ritmos, estilos, instrumentos musicais, temas, vocabulário, interpretação, além de um maior rigor doutrinário nas letras.

Uma convivência mais harmoniosa entre música evangelística e a de louvor e adoração é notória, também. Isso não quer dizer que a música das outras décadas não era boa, que não tinha seus valores e seus pontos fortes, porém a década de 70 como um todo é fantástica! Pena que nós evangélicos não soubemos preservar e divulgar, salvo poucos casos, os discos e canções dos anos 70 para as décadas seguintes!

Supergospel - Poderia deixar um recado para nossos leitores?

Agradeço ao Supergospel por esta oportunidade e espero que meu livro seja útil a todos que amam a música evangélica brasileira, satisfazendo curiosidades, esclarecendo dúvidas, corrigindo injustiças, gerando edificação ao Corpo de Cristo e aumentando nosso louvor e adoração a Deus.

Contato:
Se você possui informações, jornais, livros, revistas, discos de 78 rotações, LPs, compactos, K7, VHS, DVDs e CDs que possam aperfeiçoar o livro, e queira compartilhar com o autor, entre em contato através dos e-mails:

[email protected]
[email protected]

Ouças as músicas e saiba mais sobre:

Veja também no Super Gospel:

Roberto Azevedo

Editor-chefe do portal SuperGospel desde 2005, assessor de imprensa da cantora Marcela Taís desde 2012 e sócio da agência 2RA que hoje já conta com mais de 100 lançamentos nas plataformas digitais. Ainda exerce a função de Logística na MM7 Comunica, na AS Records, na Labidad Produções e na gravadora Futura Music (sediada na Bélgica) representando a empresa no Brasil.


Comentários

Para comentar, é preciso estar logado.

Faça seu Login ou Cadastre-se

Se preferir você pode Entrar com Facebook