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Confira nosso review de Gênesis for New Generation, uma coletânea com alguns dos maiores sucessos de Brother Simion

Georgeton Leal em 08/01/12 6116 visualizações
Imaginar o rock cristão brasileiro nos anos 80 é pensar em um terreno que ainda era pouquíssimo explorado e valorizado na música evangélica nacional, e é justamente em meio a este contexto nebuloso que surgia Brother Simion e a irreverente banda Katsbarnea, os quais seriam um dos grandes protagonistas de uma revolucionária história que estava prestes a eclodir perante tantos tabus e preconceitos presentes nas igrejas até então.

Durante esta fase, Brother Simion e o Katsbarnea alcançaram um relativo sucesso que repercute até hoje e que pode ser comprovado através de lendárias músicas como “Extra”, “Revolução”, “Cristo ou Barrabás”, “Invasão” e “Gênesis”, por exemplo.

Entretanto, a parceria de Brother com o Kats chegou ao fim em 1999, quando o cantor declarou oficialmente sua saída da banda para se dedicar integralmente à carreira solo.

Polêmicas à parte sobre o que possa ter acontecido da saída de Simion do Kats, temos que admitir que as composições do mesmo se tornaram um referencial importante dentro do gênero, influenciando toda uma geração através de um estilo musical excepcional que reúne letras “urbanizadas” e vertentes diversas mescladas ao “rock tupiniquim”.

Não poderia também deixar de falar que nos CDs de Simion/Kats lançados durante a década de 90 a parceria de Brother com o Apóstolo Estevam Hernandes sempre foi visível nos créditos referentes às composições, apesar de muitos afirmarem que tal parceria seria apenas simbólica ou parcial, uma vez que quase todo processo de criação das canções obviamente (e musicalmente) sempre se demonstrou mais intrínseco do próprio roqueiro do que do líder da Renascer.

Pois bem, após mais de 15 anos de carreira, em 2007, Brother Simion decidi regravar alguns de seus antigos sucessos em um álbum antológico e de nome bastante sugestivo, chamado Gênesis for New Generation.

A produção ficou por conta de Fábio Badi e o design gráfico foi elaborado por, nada mais nada menos do que, Ciça Wurfel, a própria esposa do cantor.

Apesar deste novo trabalho não trazer nenhuma surpresa se comparado ao seu elogiado antecessor, “Eclipse” (2005), este álbum reflete um ar especial de nostalgia para os antigos fãs e ao mesmo tempo traz uma sonoridade moderna para os novos ouvintes.

Como não podia ser diferente, o disco inicia com a clássica Extra, reformada com um instrumental bastante vigoroso, porém, sem os divertidos backing-vocals da versão original.

Na época de seu lançamento, “Extra” foi tocada exaustivamente nas rádios e eventos evangélicos de todo país, sendo divulgada até mesmo no exterior. Inclusive, rendeu à banda o prêmio FICO – Festival Interno do Objetivo – realizado em 1990. Outra curiosidade inerente à “Extra” é que o personagem Johnny descrito na letra é uma alusão ao próprio Brother antes de sua conversão.

Do Céu, integrante do memorável CD “Armagedom”, lançado pelo Katsbarnea em 1995, perdeu um pouco de sua sonoridade experimental dando mais lugar ao rock progressivo moderno.

A contemplativa Asas é belíssima em todos os sentidos. Foi muito tocada nas rádios e até mesmo executada no louvor congregacional de muitas igrejas undergrounds pelo país afora (Quem não se lembra do refrão “Voaaaaaaaaar nas asas do Espírito de Deus?”). Em 2004, Marcelo Aguiar ainda regravou “Asas” em estilo sertanejo no seu CD/DVD ao vivo intitulado “Coração de Adorador”.

Quando nos vem à mente o nome Brother Simion é impossível também não nos lembrarmos da música Esperança, um dos maiores hits evangélicos da década de 90. Esta simples canção, de poucas notas, trouxe a carreira solo de Simion à tona e o consagrou definitivamente no rol dos artistas evangélicos mais enigmáticos e queridos do gospel nacional.

Chegando à faixa 5 podemos notar que Pra onde você vai Brother? adaptou-se de forma coerente à sua releitura, mesmo com a falta do baixo de Jadão Junqueira, que era um diferencial e tanto nessa música. Até hoje, essa música continua bem presente na set list dos shows do cantor.

Um dos grandes marcos na carreira de Brother, com certeza, sempre foi o rock & oll propriamente dito. No que diz respeito a isto, a música Invasão é uma grande representante. Nesse álbum ela ganhou uma pegada mais agressiva e teve sua duração abreviada, mas sem perder o dinamismo.

De todas as canções de Simion, creio que Gênesis foi a mais aclamada pelo público, ganhando simpatia até mesmo daqueles que outrora criticavam a esmo seu trabalho. A presença marcante do piano na introdução foi substituída pela base do violão levada ao som do solo de guitarra, contudo, a inesquecível gaita tocada por Brother foi mantida, nos dando aquele “elo de ligação” com o instrumental antigo da música.

A nova roupagem de Contato omitiu as antigas nuances psicodélicas de sua precursora e talvez, cause certa “estranheza” aos fãs de vanguarda do Brother. Meio falada, meio cantada, essa foi uma de suas primeiras composições, sendo gravada primeiramente no K7 “O Som que te Faz Girar” (Katsbarnea) e, não muito tempo depois, regravada no primeiro disco solo do cantor, em 1993, pela extinta Gospel Records.

Gravada originalmente no CD “Na Virada do Milênio” (1999), Sede foi a que menos sofreu alterações nos arranjos se comparada à sua versão anterior, ficando apenas um pouco mais densa instrumentalmente no refrão.

Encerrando a coletânea, temos a clássica Revolução, caracterizada por uma pegada despretensiosa e progressiva. A letra usa de alguns termos que até hoje são estranhados por muita gente, o que demonstra que Simion já era um compositor bem à frente de sua época. Há quem goste mais da versão interpretada por Paulinho Makuko no “Acústico” do Kats, mas opiniões à parte, “Revolução” expressa o que há de mais objetivo e contundente em toda proposta musical de Brother, que é a simplicidade do evangelho transmitida de forma clara e com uma linguagem bem atual.

A meu ver, o repertório do CD sofreu um pouco com a falta de músicas indispensáveis como “Apocalipse Now”, “Sepulcro Caiado” e “Cristo ou Barrabás”. Quem é fã de carteirinha também pode sentir a ausência de alguma balada do disco “Promessa”, o qual é considerado por muitos como o álbum mais diversificado do cantor e que não teve nenhuma representante sua regravada nesse álbum.

Enfim, podemos classificar “Gênesis For New Generation”, não como uma seleção “retrô”, mas sim como uma redescoberta de excelentes canções que, infelizmente, não estavam mais disponíveis no mercado fonográfico evangélico há anos.

Atualmente Brother Simion mora em Berlim (Alemanha) e ao que parece, já tem algumas composições novas para um possível trabalho inédito, o qual não possui nenhuma previsão de lançamento até agora.

Embora Brother esteja um pouco distanciado da mídia ultimamente, podemos afirmar que este grande homem de Deus continua cativando um público bastante abrangente através de suas marcantes e inesquecíveis músicas que, com certeza, ainda irão tocar e revolucionar por muitas gerações.

Nota: ★★★
Gênesis for New Generation

(CD) 04/07


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Georgeton Leal

Professor formado em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e blogueiro literário nas horas vagas.


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