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Ouvimos o novo disco de Hélvio Sodré - Som e Silêncio. Confira nossa crítica

Tiago Abreu em 20/03/17 2136 visualizações
Som e Silêncio, novo trabalho de Hélvio Sodré, quebra um hiato de seis anos na carreira do cantor que, com o disco Polo (2011) mostrou potencial, apesar da inconsistência sonora e lírica de algumas composições.

Desta vez, Hélvio praticamente seguiu o do-it-yourself e esteve responsável pela produção de seu novo disco. O resultado é um trabalho mais coeso e coerente e que marca um direcionamento artístico que calhou bem ao artista baiano.

Em Polo, o artista se enveredou pelo pop rock com influências indie e new metal. As composições, à época, eram discursos atraentes, mas, justamente pelo excesso de respostas prontas, era um tanto quanto juvenil. Hélvio encarnava um eu lírico que falava com segurança de sua fé, ora escancaradamente, ora subliminarmente, à um sujeito que definitivamente não se encontrava no meio evangélico. E esta fórmula já não correspondia à época em que o álbum foi lançado.

Um grande problema de seu disco anterior era que toda a pretensão buscava unir canções neste sentido (talvez, uma tentativa de se aproximar do novo movimento) com baladas mais suaves. Em Som e Silêncio, todo o "perfil" de Hélvio foi repensado. Até as interpretações vocais, nesta obra, são mais bem trabalhadas e abandonam grande parte dos maneirismos antigos.

O caminho que o cantor escolheu, diante de um disco acústico e lento, é a introspecção. Não existe nenhum aspecto do novo álbum que fuja à melancolia. Desde o projeto gráfico modesto e suave produzido por Christyan Schneider, da Agência Starto, até às interpretações e musicalidade da obra.

É assim que Hélvio, como cantor e violonista, se estabelece como o grande centro do projeto. Minha Oração e Habacuque 3 são um choque para quem um dia ouviu o repertório intenso e elétrico de Polo. Até a música de trabalho Astronauta, que faz uma espécie de ponte na sonoridade apresentada pelo cantor em anos anteriores, não deixa que voz e violão percam o protagonismo.

Sob esta configuração, Hélvio consegue explorar outros gêneros, como o jazz e blues. Evo, com acordeon, é aquela música de aurora com versos de esperança. Vale destacar Paraíso que, com participação de Marcos Almeida, disserta acerca da eternidade. A mixagem e masterização feita por Fernando Gothan, que já trabalhou com artistas como Daniela Araújo e Estêvão Queiroga, soube valorizar o aspecto acústico do disco. Até mesmo Cadê, com seus grooves, soa orgânica.

São poucos os momentos em que o registro perde sua regularidade. 70x7, por exemplo, aposta numa transição entre o novo projeto e o disco anterior. Mas o real ponto fraco de Som e Silêncio é Simples Mortais que, apesar do esmero no arranjo e produção, não possui o mesmo nível de riqueza poética e criatividade das demais composições.

O Hélvio Sodré de 2017, em um caminho artístico solitário, não teve medo de criar uma nova atmosfera para as suas composições. Mais criativo e autêntico, o artista produz o seu melhor lançamento até agora. A combinação entre o som acústico das cordas e o silêncio refletido na estética nunca soou tão bem para sua carreira artística.

Nota: ★★★★☆
Som e Silêncio

(CD) 01/17


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Tiago Abreu

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), escreveu para o Super Gospel entre 2011 a 2019. É autor de várias resenhas críticas, artigos, notícias e entrevistas publicadas no portal, incluindo temas de atualidade e historiografia musical.


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