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Ouvimos o disco ao vivo do Katsbarnea - A Carne e o Sangue. Confira nossa crítica

Tiago Abreu em 29/05/17 1713 visualizações
Os ouvintes mais distantes, ao saberem que A Carne e o Sangue é lançado 17 anos depois do último disco ao vivo do Katsbarnea lançado em CD (Ao Vivo, de 2009, saiu exclusivamente em DVD), podem achar que o grupo paulista, uma das bandas expoentes de uma época hoje conhecida como movimento gospel, está oferecendo algum tipo de frescor ao trazer regravações de alguns sucessos.

De 2000 pra cá, a banda lançou apenas um álbum totalmente inédito, o bom A Tinta de Deus (2007) e, de resto, seguiu a sua trajetória somente com regravações ou discos parcialmente inéditos. A maior parte das canções escolhidas para o novo trabalho do grupo, distribuído em CD ou DVD, são faixas regravadas em outras ocasiões. Ou seja, é incrível o quanto o grupo, hoje capitaneado por Paulinho Makuko, tenta esticar e repetir a exaustão um repertório já testado, aprovado e regravado mais de três vezes.

Um disco do Katsbarnea com Extra, independentemente da roupagem exercida, definitivamente não possui nenhum tipo de novidade ou frescor. Até o álbum Eis que Estou à Porta e Bato (2013), geralmente dito como o inédito mais recente do grupo, recicla músicas da carreira solo de Makuko. E é no álbum 12, de 2005, que está sua maior fonte de inspirações. Se duas canções já tinham sido aproveitadas para o trabalho de 2013, agora a faixa-título do projeto ao vivo, A Carne e o Sangue, é nada mais que "Monte Caveira" com um novo título. Quem não conhece a discografia solo de Paulinho pode até se enganar pensando que se trata de uma nova canção.

Que Katsbarnea é uma banda que reutiliza em excesso seu próprio material não é novidade para ninguém. A grande pergunta que cerca a quem tem em mãos o lançamento do grupo é: As regravações são trazidas em performances enérgicas e intensas como em Ao Vivo (2009) ou com a participação fundamental do público como A Revolução Está de Volta (2000)? E a resposta, lamentável, é não. O registro, gravado em 2016 na Arena Renascer, acrescenta pouco ao trabalho da banda paulista.

As canções mais antigas da banda, assinadas por Brother Simion, são executadas da forma mais comum possível. As frases de bateria de Marrash, filho de Makuko, já percebidas em Congestionamento, são elementares e repetitivas. O guitarrista Jeff Fingers é o mais interessante dentre todos, se sai bem nos riffs do clássico Apocalipse Now e exerce backings eficientes quando solicitado. O baixista Moisés Brandão passa despercebido e Makuko continua um intérprete que cumpre, com toda a pompa e marra, sua função de frontman.

Só que as músicas de autoria de Paulinho também são entregues com uma energia inferior pelas quais são conhecidas. O que fizeram com a bela Perto de Deus, que perdeu toda a sua força de balada e ganhou uma condução preguiçosa, é um erro descomunal. As ideias criativas no arranjo de A Tinta de Deus, pensadas por Dudu Borges, foram mutiladas e, assim como a anterior, é digna de esquecimento. E as canções de Makuko, que se poderiam fazer mais presentes no registro e que poderiam ser as novidades do projeto, são minoria frente aos hits de Simion.

As duas canções de Eis que Estou à Porta e Bato são executadas de forma levemente superior. I Can Fly, a melhor música do repertório recente, é cumprida fielmente. E Jeremias, também original do álbum 12, surpreende pela rapidez. E, do disco mais recente da banda, só. A única música inédita do registro, Mulher + Q. V., até busca inserir elementos pouco comuns na música da banda, como naipes de metal ("Get Out of Babylon") e um arranjo mais dançante. Mas, a partir do momento em que Camila Campos assume os vocais, tudo desanda. Afinal a artista desafina o tempo todo.

Mesmo que A Carne e o Sangue seja um disco, em grande parte, redundante, a banda ainda entrega execuções enérgicas em canções fundamentais como Parede Branqueada e Seu Doutor. Além disso, é a primeira vez que o Katsbarnea, em quase 30 anos, consegue gravar dois álbuns com a mesma formação. No entanto, o feito histórico poderia ter gerado um registro mais impressionante e, principalmente, com prioridade ao repertório inédito lançado a partir de 2007. Os sucessos antigos são os momentos menos interessantes da obra.

Nota: ★★☆☆☆
A Carne e o Sangue

(CD) 01/17


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Tiago Abreu

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), escreveu para o Super Gospel entre 2011 a 2019. É autor de várias resenhas críticas, artigos, notícias e entrevistas publicadas no portal, incluindo temas de atualidade e historiografia musical.


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