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Confira nossa conversa com o produtor musical Rogério Vieira

Redação em 29/04/16 2999 visualizações

Com cerca de vinte e cinco anos de carreira no cenário musical evangélico, Rogério Vieira atuou ativamente como produtor musical, arranjador e multi-instrumentista. Trabalhando em diversos trabalhos de notoriedade nacional, o músico fluminense construiu seu nome junto a artistas de relevância. Após alguns anos recentes de exposição diminuída, Vieira diz que se aprofundou em novos projetos e retorna renovado para novos desafios. Em entrevista ao Super Gospel, relembra seu passado e planos para o presente e futuro.


Como foi seu início na música?

Pelo que me lembro, foi a partir dos meus quatro anos. Minha mãe lecionava piano clássico em casa e se deu conta que eu tinha talento para a música. E eu me lembro claramente quando interpelei um de seus alunos errando uma lição ao piano. Eu já sabia as melodias de quase todas as lições. Ela também percebeu que eu já tinha formado o ouvido absoluto.


Sua primeira trajetória como músico foi o grupo Luz, que mais tarde deu origem a banda Fruto Sagrado. Como foi esta época?

Uma época de muitas dúvidas. Eu tinha 12 anos, estava me formando em piano clássico, tocando na igreja e andando com gente dez anos mais velha que eu. Eram todos rockeiros (risos).  Eles me apresentaram o rock progressivo, gênero que usava muitos teclados, e que tambem tem sua ramificação vinda do clássico. Naquela época, as bandas evangélicas eram Rebanhão, VPC, Milad, Logos, Som Maior, Sonoros, Banda Fé, entre outras. Anos depois a banda se tornou o Fruto Sagrado, um grupo fantástico que, em quinze anos de carreira, assinaram contrato com a MK Publicitá. Tenho um enorme carinho e gratidão por todos daquela época.


O primeiro artista de renome com quem você trabalhou foi o cantor Carlinhos Felix. Como você conheceu-o?

O Carlinhos Felix tinha acabado de sair da banda Rebanhão e partindo pra carreira solo. Eu já era fã da banda! Lembro me de ir aos shows e ficava vendo o Pedrinho Braconnot cheio de teclados, tocando ao vivo! A banda era a mais forte no Brasil naquela época. Eles viajavam de jatinho e abriram as portas pra muita coisa profissional que hoje acontece. O Carlinhos estava montando a banda que iria viajar com ele, eu fui indicado e não tinha nem teclado pra tocar (tinha um Casio). Foi o Carlinhos que me "deu" o primeiro Korg, e foi ele também que me apresentou o mercado fonográfico pop e me impulsionou a trilhar os caminhos como produtor musical.


Após Carlinhos, você trabalhou com vários outros músicos, como Cláudio Claro, Comunidade Evangélica da Zona Sul, Aline Barros, Kleber Lucas, Cristina Mel, entre outros. Quais são os cinco discos em especial que, na sua visão, foram os mais marcantes em sua carreira como produtor e por quê?

Eu acredito que cada projeto que coloco as mãos se tornam especiais para mim. Pelo menos durante o processo em que estou mergulhado em criar e produzi-lo, eles tomam 100% do meu potencial. Todos os artistas que você citou foram singulares na minha carreira em cada epoca distinta. Dentre esses nomes, destaco:

Cláudio Claro (CD Libertador): Quem lembra deste álbum sabe o quão importante foi para a igreja brasileira. Foi gerado em um ano de busca em SP junto à Comunidade da Graça. É o meu primeiro CD ao vivo. Eram oito teclados no palco e eu que nem um louco pra gravar tudo. E eu não "sabia" que podia refazer tudo no estúdio. Para mim, tinha ser ao vivo de verdade! (risos)

Comunidade Evangélica da Zona Sul (CDs Ventos de Avivamento / Rompendo em Fé): Foram projetos autênticos que nasceram na igreja e para a igreja! As musicas desses CDs varreram a nação.

Kleber Lucas (CDs Meu Maior Prazer / Deus Cuida de Mim): Kleber é meu irmão preto. Nós fizemos tantas músicas para o Reino juntos... Ainda tenho fotos dele em Brasília no quarto do filho criando o Meu Maior Prazer, tudo em MIDI, para depois, em estúdio, colocar a banda. Acho que foi um dos primeiros projetos a atrelar sequenciadores e loops linkados com a banda ao vivo! Fora as musicas que dispensam comentarios.

Aline Barros (CDs Som de Adoradores / Caminho de Milagres)  Esses dois álbuns foram realmente marcantes na minha carreira como um todo. Minha caminhada ao lado de Aline era anterior. Fui músico acompanhante durante anos, produzi outros trabalhos para a AB Records e fui compositor. A música "É Primavera" é minha com letra dela. Ganhamos três Grammys juntos nessa caminhada e tantos hits que marcaram a igreja.

Mas é realmente difícil e constrangedor citar cinco projetos entre tantos discos maravilhosos que pude produzir, arranjar e gravar. Eu não posso deixar de citar os projetos que fiz com a Eyshila (Na Casa de Deus / Terremoto / Até Tocar o Céu), Flordelis (Questiona ou Adora), Sarando a Terra Ferida (O Novo de Deus / Tempo Favorável / Crucificando Meu eu / Vivendo o Impossivel), Lea Mendonça (Louvor Profetico / Apenas uma Voz / Superação / Milagres da Adoração / Profetizando Vida), entre outros.


Em mais de vinte anos de trabalho, você viu a música cristã nacional passar por transformações. Em relação à tecnologia, estúdios e profissionalização, como você enxerga o meio musical evangélico de hoje?

Eu vi nascer e passar tantos movimentos musicais, e cada um teve o seu importante papel no nosso amadurecimento. Creio que nós avançamos de maneira muito significativa nesses ultimos 15 anos. É fruto de um melhor acesso à tecnologia e a Internet. Mas acho que ainda temos muito a crescer e, claro, explorar melhor tantos estilos e possibilidades que nosso Brasil possui.

Ao meu ver, creio que na parte lírica se dá o maior problema. Não sei se é fruto do pouco conhecimento na palavra que a maioria dos compositores não tem. Muitas vezes vou produzir músicas que, quando começo a ler as letras, entro em pânico! Coisas que não estão na palavra e as vezes até mesmo contra ela. Realmente conhecer profundamente o que Jesus fez naquela Cruz é algo imprescendível e que poucos, infelizmente, conhecem. Atenção compositores: Estudem a palavra e o que ela realmente é. A Bíblia não é um livro de contos históricos e façanhas!

Acho também que a mudança desafiadora tem sido o fim do CD em si  e a forma de se vender a música produzida hoje. Fico imaginando a hora em que pudermos ter acesso no rádio do nosso carro a um conteúdo ilimitado de músicas. Imagina uma rádio digital conectada à internet, em que você poderá comprar a musica que está tocando na rádio naquele momento e podendo armazenar em midias ou na nuvem. No entanto, na contramão do sistema, estou com a ideia de colocar minhas músicas em fita-cassete. Estou vivendo a nostalgia que era dar o play no Walkman e ouvir aquela coisa "orgânica" do som, daquele "chiado". Sinto falta disso e do vinil também. 

Eu estou extasiado com as milhares perspectivas que o mercado se abre com a venda digital, com o universo vasto que a rede proporciona, com as redes sociais, plataformas digitais de áudio e vídeo e o poder da mídia alcançando a milhões. A música e o ato de fazer música jamais irá acabar. Mas a forma como essa música é comercializada é o cerne da questão.


Mas se manter muito atualizado também é um desafio.

Sim. Com a velocidade na qual a musica hoje é compartilhada e de como ela é feita, eu como produtor preciso estar sempre a um passo à frente. Acho que da minha geração, poucos continuaram a ser tornar ativos e expressivos. Eu lamento isso, porque quem perde é todo o segmento. 

Hoje eu me vejo produzindo música ao lado de "meninos" que nem eram nascidos quando começei a gravar. E eles estão fazendo um som sério. Eu me cobro diariamente, e me obrigo a fazer o que tem que ser feito da melhor maneira e com toda a excelência. Acabo somando toda a bagagem que tenho ao que está acontecendo hoje musicalmente, me obrigando a me manter atual. Por isso ouço de tudo. Ouço e estudo uma música até exauri-la. 

Ainda mais numa sociedade um tanto "hipócrita" que é nosso mercado "gospel". Há cantores e artistas que se "esquecem" rapidamente de tudo que você fez para a carreira dele. Mas vai se lembrar de um "atraso" ou outra questão que o interesse. E isso não é um mero desabafo. É uma realidade que qualquer evangélico que, mesmo não sendo musico, há de concordar.


Neste caso, o produtor musical, no cenário musical evangélico, não é respeitado?

Não é respeitado. Sabe que eu fico passado quando me chamam de "maestro"? Que maestro? Mesmo que eu seja formado como maestro, eu sou produtor musical. Entendo que é uma forma carinhosa de reconhecer a musicalidade ou genialidade de um produtor, mas isso demonstra como a cabeça dos cantores funciona. A figura do produtor musical está muito acima de um maestro. Ele é o responsavel por gerar, gerir e criar um fonograma e esse fonograma vai nortear a carreira do artista produzido, pelos próximos 12 meses a seguir.

Como produtor eu tenho que assumir a culpa de um repertório mal montado e escolhido. Muitos cantores não entendem isso, chegam para mim e dizem: "Já escolhi o repertório e está lindo". Depois eu ouço, e chego a conclusão de que acham que sou mágico e tenho que fazer mega arranjos para salvar certas músicas. Música boa dispensa arranjos grandiosos. Num piano e voz ou violão e voz, por exemplo, pode explodir do mesmo jeito. Mas claro que o arranjo é fundamental para o sucesso ou fracasso da musica. Nestas situações, eu já "salvei" musicas que na guia eram um pânico. 

Produtor musical não é so arranjador. Ha centenas aí que nem arranjadores são… simplesmente copiam "fórmulas" musicais e adaptam. Há outros que são ótimos arranjadores e músicos, mas daí a dizer que são produtores é outra coisa! Há outros aspectos a considerar, como a montagem de repertório e arranjos, a visão artistica do produto, ao conceito e estilo que será conduzido, a projeção fonografica dentro do mercado, a sonoridade, a escolha dos músicos certos, da equipe técnica certa, dos estúdios certos, dos engenheiros de som certos. São dezenas de detalhes que fazem a diferença entre o básico e o excelente. 

Sempre digo: Produção musical é algo que só o tempo pode realmente te forjar, com acertos, erros, mais erros e grandes vitórias.


Qual o seu setup atual em relação a instrumentos e softwares?

No meu estúdio, eu trabalho no ambiente MAC, ProTools e Apollo Universal Audio. Uso Krk e Ultrasone para monitoração.

Uso um Triton Xtreme como master e de slaves: MS2000 Korg, M3/Radias Korg, Novation Ks4, Motif XS6 Yamaha, VSynth Xt Roland (with D-50), Fantom XR Roland (All 16 xpanded), Alesis Qsr r, Jv2080 Roland (xpanded) e um piano acústico.

Quanto a virtuais, eu uso todos. Resolvi não me apegar somente ao Kontact e suas livrarias que eu uso, então posso citar alguns: Imposcar2, Omnisphere,  Nexus2, Pro-53, Monoply, Arturias Collection, Sylenth1, entre outros.

Eu procuro não ficar centrado em um virtual, me obrigo a revirar cada um deles. Eu fiz Formação de Síntese Sonora da Yamaha e da Roland. Na época eu usava DX-7, Juno 106 e M1. Mas hoje a imensidão de recursos, síntese sonora, efeitos e samples que cada um virtual pode te dar é quase infinito.


De 2013 para cá, você diminuiu um pouco o ritmo de produções.

Sim e tem sido um período maravilhoso. Meu ritmo, na verdade, aumentou, mas a forma de como fazer mudou. Aprendi que em produção musical quantidade nada tem a ver com qualidade. Fiquei um tempo totalmente mergulhado na minha igreja local, a Lagoinha Niterói, liderando a equipe de louvor, servindo a pessoas, caminhando com meu pastor, o Felippe Valadão, estudando no Seminário Carisma, aprendendo muito e mudando paradigmas em mim. Não há melhor lugar do que a casa do Pai, do que servir a pessoas e ao Reino, como ele diz, "servir por algo maior".

Mergulhei profundamente no segmento Modern Worship. Trouxemos até o pastor Hunter Thompson, da Bethel Church. Mas a mudança mais radical foi a direção de Deus para mim. Como produtor musical, eu deveria criar "produtos", e hoje estou mergulhado profundamente nisso.


Recentemente, você produziu o disco da banda Gálbano, lançada pela MK. Quem mais você está produzindo atualmente?

Este disco foi motivo de alegria. Ele marcou meu retorno a caminhar ao lado da MK Music, fora a Gálbano, que tem sido a banda do meu coração. Também teve o Erthal, um prodigio, cujo lançamento será pela Sony Music. Fiz também um projeto para a Sony Music da Mariana Valadão, em que as músicas do seu portifólio se transformaram em canções de ninar.

O novo CD da Lilian Lopes está pronto e mergulhado nesse ambiente de Modern Worship. O álbum está fantástico e vamos distribuir pela Sony Music! Lilian, além de minha esposa, é hoje minha parceira total na música. É bom fazer músicas ao lado dela, porque seu estilo de composição é fantástico.

Produzi o CD da Liliane Holmes, que reside nos Estados Unidos e é uma compositora fantástica. O disco do Elias de Souza, no segmento pop rock. E em fase de finalização estou mixando dois projetos pentecostais da Lucely Uchoa e Livia Mello (Austrália). E também finalizando o novo trabalho do Thiago Godoi, que será uma grande referencia nosso segmento, e do Gabriel Almeida, aquele menino fantástico. Além disso, tem o Cidade de Fogo, Flordelis e um da banda Thronus em fase de mixagem.

Fora isso tudo estou fazendo e preparando surpresas que ainda nao podemos "revelar" e estou com muita expectativa. Esse ano tambem começo a dar início, a convite do Pr. Felippe Valadão, aos singles da Lagoinha Niterói. É muita coisa boa vindo!


Supondo que uma pessoa nunca ouviu a música cristã nacional, e deseja que você recomende para ela álbuns que, na sua visão, se destacaram em qualidade e importância na nossa história. Quais CDs você recomendaria?

Vou relevar a diferença entre qualidade e importância. Porque cada projeto guarda a sua marca em qualidade, quando foi lançado. Dificil eu ouvir um projeto meu feito há anos e não fazer careta! Então vamos lá:

Com Muito Louvor (Cassiane), Preciso de Ti (Diante do Trono), Restituição (Toque no Altar), Som de Adoradores (Aline Barros), Caminho de Milagres (Aline Barros), Raridade (Anderson Freire), Uma História Escrita pelo Dedo de Deus (Thalles), Deus Cuida de Mim (Kleber Lucas), Quebrantado Coração (Fernanda Brum) e Milagres (André Valadão).


E no âmbito geral? Poderia citar para nossos leitores os melhores CDs da sua vida?

Indico todos os discos da maioria destes artistas, mas em especial certos trabalhos:

Serious Hits Live (Phil Collins), Brand New Day (Sting), Thriller (Michael Jackson), The Chick Corea Elektric Band (Chick Corea), A Night at the Opera (Queen), Signals (Rush), Gold Greatest Hits (ABBA), A&M Gold Series (Carpenters), The Universal Master Collections (Tears for Fears), Heaven and Earth (Al Jarreau), Star Wars Episode IV (John Williams), The Joshua Tree (U2), Viva la Vida or Death and All His Friends (Coldplay), 21 (Adele) e Doo-Wops & Hooligans (Bruno Mars).

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