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Confira nossa conversa com Os Nazaritos

Gleison Gomes em 23/12/16 3287 visualizações

“O homem é o único animal que ri”, já disse uma vez o filósofo Aristóteles numa das mais antigas referências a este importante tema. A frase é pertinente justamente porque o final dos anos 1990 nos reservaria o surgimento de uma banda que causou reboliço por onde passou, trouxe muita diversão e alegria para um meio digamos engessado, que é o meio cristão em relação a essas novidades. Só para citar algumas canções, quem nunca ouviu "Pedro, Thiago, João no Barquinho", "Beleléu", "Se liga Varão" ou "Jesus é Demais"?

Os Nazaritos foram e são sinônimo de diversão. Tudo feito em pouco mais de seis anos de estrada. O dobro desse tempo foi o limbo da “parada técnica” da banda. É de fato uma pausa, porque a banda nunca acabou, esteve hibernando no coração dos muitos admiradores pelo país. Este ano, o qual fazem 18 anos de existência, abriga também o retorno das atividades do grupo. Tivemos a oportunidade de conversar com Gustavo Legal, vocalista e guitarrista da banda, num papo leve e descontraído onde buscamos abordar partes importantes da intensa trajetória dos Nazaritos.


Como os integrantes se conheceram e depois como surgiu a ideia de se formar a banda?
Gustavo Legal - O quarteto inicial foi: Gustavo Legal, Xandeco Andrade, John Snake e Dudú Besourão. Eu queria montar uma banda que fosse totalmente diferente do que rolava no gospel, mas quando fazia a proposta para alguém, ninguém compreendia e tinham medo de fazer o que (eu) queria fazer... foi quando eu chamei esses caras e eles toparam na hora...isso foi em 1998. Éramos de igrejas diferentes, mas todos se conheciam, pois vivíamos na mesma cidade: Itaguaí, no Rio de Janeiro. Mas quem nos ajudou a ter essa “cara” foi o Ronaldo Barros (pai da Aline Barros) que na época era presidente da gravadora AB Records. Ele acreditou no projeto. Somos muito gratos a ele.


E o nome “Os nazarenos”, de quem foi a ideia? Qual a proposta?

Foi minha, queria um nome brega! (risos), aí lembrei do personagem do Chico Anísio: Nazareno! Rimos muito!!! Não queríamos um nome comercial, queríamos chocar... (risos) queria algo sem critério...


Fala-se muito de semelhanças de vocês com o grupo Mamonas Assassinas, em termos de humor, molecagem (no sentido das brincadeiras) e uso de roupas extravagantes. Neste sentido, quais as influências de vocês na época?
Nossa influência na época era o cantor cearense Falcão e a Blitz no estilo extravagante e teatral. Os Paralamas e o Skank era o que a gente ouvia muito. Os Mamonas foi coisa do Ronaldo [Barros] (risos).


O Ronaldo foi o incentivador e acabaram lançando o primeiro trabalho, Curtindo o Maior Barato (1999), pela gravadora dele, a AB Records. Quais as memórias dos primeiros shows? E qual foi a repercussão do trabalho em geral?
Os primeiros shows foram muito estranhos...(risos). As pessoas não estavam acostumadas a ver aquele tipo de apresentação e a gente também não. Era comum a gente chegar na igreja e metade ir embora durante a apresentação. Foi muito difícil no início, mas depois que começamos a tocar na Melodia e nas principais rádios das capitais, aí as coisas começaram a melhorar. Sermos amadrinhados pela Aline também ajudou muito! Quando ouvimos a música estourando na rádio ("Jesus é Demais" ficou em primeiro lugar durante 6 meses) ficávamos emocionados...era tudo muito romântico!


Em 2001, vocês mudaram o nome da banda de “Os Nazarenos” para “Os Nazaritos”. Por qual motivo?
2001 foi um ano de transição pra banda. Foi o ano que tocamos no Rock in Rio, saímos da AB Records, alguns integrantes saíram... Mudamos de nome porque o nome Nazarenos pertencia ao Ronaldo Barros (apesar de eu ter escolhido o nome), pois foi ele quem registrou o nome. Quando saímos da gravadora tivemos que abrir mão do nome e escolhemos um nome que fosse semelhante. Daí veio o nome Os Nazaritos. Daí fomos para a TOP Gospel. Lançamos um CD mais ousado e agora com um novo nome. Na época tivemos muitas dificuldades pois surgiu um boato que os nazarenos tinha acabado e surgiu uma banda “genérica” chamada os Nazaritos...(risos). 

Muitos contratantes de shows ficaram chateados e não queriam contratar o genérico! Perdemos muitos trabalhos infelizmente. Mas, apesar dos boatos, vendemos mais de cinquenta mil cópias.


E o primeiro CD, vocês tem número de vendagens? No segundo projeto, quais foram as mudanças em relação aos integrantes da banda?

Do primeiro CD chegamos a mais de oitenta mil cópias (segundo o relatório que era passado para nós). Não sei precisamente os números de hoje. Da primeira formação saíram o John Snake e Dudú Besourão. E entraram o Dennis Goodyou e o Sandrinho Drodró. Mas o Dennis saiu antes de lançarmos o segundo CD ficando somente eu, Xandeco e o Sandrinho.


Como aconteceu a participação no Rock in Rio acerca da recepção do público, o show... o que representou para vocês? Interessante que vocês e a Oficina G3 estiveram por lá.
Na época o Garotinho era governador do Rio e o conhecemos em um dos shows da Rádio Melodia. Ele gostava muito da banda e invadia nossos shows para cantar com a gente (risos) Um dia eu dei a “ideia” de tocarmos no Rock in Rio e ele topou na hora e fomos conversar com o Medina que achou o maior barato. Foi assim que conseguimos tocar no festival. Eu nunca vi tanto profissionalismo num evento! Fomos tratados com muita dignidade...foi como se fôssemos uma banda internacional! O respeito, o carinho a dedicação da equipe, tudo era incrível! O público nos recebeu com muita empolgação. Eram cerca de 45 mil pessoas assistindo a gente....foi incrível! Tô rindo muito aqui relembrando, a gente era muito doido.


Ainda nessa dos shows e apresentações, vocês rodaram o Brasil todo certamente. Quais os eventos que mais marcaram?
Os Nazaritos: Além do Rock In Rio, o Louvor Norte no Pará e no Encontrão Jovem em Santa Catarina são os que a gente tem mais carinho. Fizemos shows em muitos lugares legais, mas esses três foram os mais especiais! O lugar que queríamos tocar já tocamos que foi o Rock In Rio... seria uma honra tocar no Lollapalooza!


A Top Gospel adotou uma postura de mercado interessante. Enquanto a maioria das gravadoras vendiam CDs com média de preço de 15 a 16 reais, ela adotou uma postura de cobrar 6,90R$. Inclusive o CD dos Nazaritos saia a 9,90R$. Comente sobre essa prática, na época surtiu o efeito desejado? Você acredita que é interessante para o combate a pirataria?

Na época em que a Top Gospel começou a vender os CDs a R$ 6,90 achei fantástico. Deu muito resultado. A gravadora mostrou que era possível vender mais barato e todo mundo sair ganhando. Eu lembro que ela entrou em contato com todos os artistas, distribuidores, vendedores, funcionários, lojistas... todos pensavam no consumidor final. Foi uma época de muita produtividade. Com certeza prejudicou muito a indústria da pirataria na época. Mas houve um boicote das outras gravadoras e a Top teve que voltar a vender no preço normal de mercado.


Em 2004, vocês lançaram Emannuel tá na Área. Conte como foi esse projeto, a produção, esse foi sem gravadora? E novamente houve alteração em relação aos integrantes?
Lançamos Emanuel tá na Área numa época que estávamos cansados desse mundo gospel! Foi uma tentativa de recuperar o prazer que tínhamos perdido em tocar! Mas não adiantou. Acabamos dando um tempo (que durou 12 anos). O último CD não teve repercussão pois a gente parou logo depois do lançamento!


Mas há algumas faixas interessantes, como "Jacozinho", "Retiro" e etc. E a ideia de pôr karaokê no álbum?
Nossas canções eram canções que a galera gostava de cantar em retiros ou em festas... e nós pensamos em fazer algo diferenciado do playback, algo mais interativo. Algo que fosse mais criativo e divertido. "Jacozinho" e "Retiro" foram pérolas que eu já tinha feito, mas que não gravamos por falta de espaço nos outros CDs (risos).


Fale-nos sobre a história de canções como "Naná", "Se eu Fosse um Jamaicano", a abertura "A Voz de Itaguaí e "João do Feijão".
Essa não (risos)! Macacos me mordam! Vou contar. Tô me divertindo muito, pois há muito tempo eu não faço essa viagem (risos). "Naná" foi uma música que homenageamos os cantores de banheiro... (risos)...sério!

Geralmente quando a gente canta no banheiro esquecemos a letra e substituímos por Naná, pode reparar! "Se eu Fosse Jamaicano" foi uma homenagem ao um amigo nosso que é fanho (risos)... não vou dar o nome dele aqui pois quando ele ler essa entrevista ele vai querer gravar um CD e ainda vai me forçar a produzi-lo...(risos). "A Voz de Itaguaí" era um grande amigo chamado Filé... pensa num cara magro! (risos)...e "João do Feijão" foi uma homenagem aos meus pais. As músicas da banda sempre homenageavam alguém e isso era um barato! Foi assim também com o "Rei Jesus" e "Fico Feliz". E eu sempre procurava imitar meus homenageados...(risos)... era muito divertido!


E sobre os 12 anos de "parada técnica" da banda, o que fizeste durante este tempo?

Durante esse tempo eu trabalhei na área de publicidade e me dediquei ao ministério pastoral. Trabalhei oito anos na Melodia e na Top Gospel.


Como foi a motivação para a volta com a banda em 2016? Qual é a nova formação e os integrantes?
Voltamos com a intenção de nos divertir. De regatarmos o prazer de tocarmos juntos e de rever o público que curtia nossas músicas. Minha vontade era juntar a primeira formação, mas não foi possível, então, convidei o Tony Saz que fez backing vocal no primeiro CD da banda para comandar os teclados e fazer o backing. Convidei o William Coutt (ex-guitarrista do Grupo Logos) para compor as guitarras comigo, o Wesley Castro pra bateria. Claro, não podia ficar de fora nosso o Xandeco, nosso eterno baixista.


Vocês já tem algumas canções novas. Em termos comportamentais, letra e ritmo, há a presença de um humor mais lapidado, mais irônico. É essa a ideia daqui para frente?
É isso mesmo. A comédia pastelão deu lugar a um humor mais irônico, sarcástico... isso tá muito implícito na música "O Emergente". Essa música vai dar o que falar pois ela é uma resposta a muita besteira que rola no universo gospel, dessas lideranças proféticas antiéticas! Então a ideia é falar o que a gente pensa fazendo comédia com essa turma sem noção que hoje é referência de adoração no Brasil. Não temos nada a perder!


Vamos de C&A então né?

(Risos) Mandar fechar a C&A quando se compra na Louis Vuitton é mole...


Acerca das novas canções, como serão distribuídas? Há alguma conversa com gravadoras, ou a ideia é seguir independente? Além das 4, já estão com mais munição pronta por aí? (quais os planos?)
Tem mais músicas vindo por aí. O que não está faltando é inspiração e motivos (risos). Vamos disponibilizar essas canções no Spotify, YouTube... Mas também faremos um EP pra vender nos eventos. A intenção é disponibilizar gratuitamente nas mídias sociais. No momento não estamos pensando em gravadora. O que queremos agora é levar nossa música Brasil a fora! E vamos fazer isso de forma independente e despretensiosa, pois temos muitos amigos que produzem shows, que são donos de rádio e TV, e que estão eufóricos com o nosso retorno! A maioria deles era fã da banda e temos essa vantagem (risos).


Filosoficamente, como percebem a relação humor, evangelho e música?
Eu vejo o humor como uma forma inteligente de levar alegria. A música mexe com as emoções e o evangelho com a consciência. Unindo esses ingredientes tornamos a mensagem ainda mais rica e poderosa. Pois ela chega com mais leveza e toca a alma dos cansados. Todas essas formas são compatíveis ao Evangelho de Cristo.


E, se na época do surgimento da banda as influências eram Paralamas e Skank, atualmente o que você tem escutado e quais suas influências?
Hoje cada um tem suas influências. Quando a gente se reúne as coisas saem de forma natural. Claro, todos são roqueiros. Mas hoje eu escuto o que os meus filhos ouvem, como Foo Fighters, Paramore... Mas eu escuto mesmo Legião Urbana e O Rappa. Ouço direto!


Deixe uma mensagem para nossos leitores.

Eu sempre fui fã do Super Gospel e hoje me sinto honrado por conceder essa entrevista. Desejo a todos os leitores do site um feliz natal e muitas realizações em 2017. Orem por nós para que não percamos o foco que é fazer as pessoas sorrirem... pois um sorriso faz falta nesse mundo perdido! Um superbeijo a todos!

Ouças as músicas e saiba mais sobre:

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Gleison Gomes

Historiador, apreciador de música, filmes e bolo de abacaxi.


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