Análises

Ouvimos o novo álbum do Oficina G3 - Histórias e bicicletas. Confira nossa opinião

Tiago Abreu em 03/06/13 20462 visualizações
Desde Depois da Guerra, muitos eventos e mudanças marcaram a vida pessoal dos integrantes do G3. Um deles, e o mais marcante, é o falecimento de Jacky Dantas, esposa do vocalista Mauro Henrique. O uso da bicicleta no título e conceito do álbum é facilmente entendido quando se lê o texto escrito por Duca Tambasco no encarte. O objeto é usado como uma metáfora das fases da vida, os encontros e desencontros.

Após cerca de um ano de mistério, o álbum foi lançado no dia 30 de abril no iTunes, em seguida nos formatos físicos. O trabalho foi gravado no RAK Studios, localizado em Londres, com produção musical e arranjos dos integrantes, com colaborações de Leonardo Gonçalves, Déio Tambasco e outros músicos na parte técnica. Foi masterizado no Sterling Sound em Nova Iorque.

Diz, a primeira faixa do trabalho, em seus primeiros riffs de guitarra, indiscutivelmente lembra “Honor Thy Father”, do Dream Theater. Coincidência ou não, a pegada da bateria é firme, pulsante e envolvente ao longo da faixa, desde o momento que se inicia a base instrumental.O novo disco da Oficina G3 começa razoavelmente bem e segue com a melhor canção do disco, do grupo de “arraza-quarteirões”: Água Viva. Excelente em todos os aspectos: letra bem articulada e interpretada, métrica agradável, e principalmente arranjos que ‘casam’ perfeitamente com os versos da faixa, principalmente o refrão marcante. Destaque para o baixo de Duca no instrumental, mais notável que no D.D.G. No final, um belo instrumental de piano. Experimental da melhor forma possível.

Seguindo uma “lógica” encontrada coincidentemente na maioria dos álbuns da Oficina G3, a terceira canção é mais leve que as anteriores. Também mais poética, Encontro traz um tema comum, mas com uma articulação lírica e poética desenvolvida. A balada ganha mais "charme" com o poema de Roberto Diamanso.

Confiar, o single, é uma canção interessante, principalmente pelo rótulo de “música de trabalho”. Apesar de suas inclinações comerciais, a sensação é de uma música com conteúdo. Letra poética, bem articulada e que não se prende a bobas repetições e clichês evangélicos, arranjos muito bem elaborados, principalmente o solo de guitarra por Juninho Afram.

Não Ser retorna ao peso. O peso e a sustentação dada pelos riffs de baixo na música lembra bandas como o Muse. E as temáticas de questionamento humano, tão presentes em Depois da Guerra, fazem-se presente aqui. Da mesma forma é com Compartilhar. Autobiográfica, versa sobre a multiplicidade de sentimentos e experiências humanas no dia a dia.

A sétima faixa foi escrita por Jacky Dantas em parceria com seu marido, Mauro. Descanso é a canção do repertório que pode ser equiparada à “Incondicional” pela condução do arranjo, porém possui suas particularidades e, sem dúvida, se supera.

Aos pés da Cruz, hit de Kleber Lucas, recebe uma versão à altura da qualidade da composição. O arranjo original eletrônico e com solo de sax deu espaço a riffs e contratempos característicos do metal alternativo, gênero bastante presente em algumas canções do repertório como, por exemplo, Sou Eu. A canção traz uma pegada bem alternativa. Os elementos eletrônicos lembram a vibe do CD Além do que os Olhos Podem ver, com uma melodia cheia de nuances e com virtuosismo vocal por Mauro Henrique, enquanto a letra segue dramática.

Mas a melhor faixa é Lágrimas. Creditada originalmente com a participação de Leonardo Gonçalves, cujos vocais apenas fazem parte da versão em DVD, conta com influências do rock experimental. Sem solos de guitarra, mas teclados e pianos de Jean Carllos que "pintam" a melodia, conta com mais uma letra reflexiva. Mas, desta vez, poderia resumir fielmente o disco: A vida humana, cheia de dificuldades, perdas e ganhos, em direção à Eternidade.

Save me from Yourself fecha o álbum. Inicialmente, é um bom cover que conta, novamente, com influências alternativas. Aqui temos melhor o solo de guitarra. E como fora feito na segunda faixa, novamente apostam em um arranjo cheio de nuances e experimentações.

Esqueça o peso de D.D.G. Este novo trabalho se sobressai em muitos aspectos. As composições são maduras e retomam a evolução apresentada desde Além do que os Olhos Podem Ver (2005). Os versos dizem muito sobre o grupo e ao mesmo tempo de uma sociedade cada vez mais urbana, individualista e solitária.

Tecnicamente, o projeto soa mais orgânico. A gravação "ao vivo" foi fundamental. As influências progressivas existentes desde o projeto de 2005 continuam, mas desta vez ganham alguns elementos alternativos. Cada instrumento, também, tem seus espaços de destaque. Por vezes, a obra soa como uma jam. Histórias e Bicicletas (Reflexões, Encontros e Esperança) é mais do que simplesmente o disco que traz a nova cara da banda para esta década: Mostra-a preparada e firme, mesmo diante dos desafios pessoais que enfrentaram neste período turbulento.

Nota: ★★★★☆
Histórias e bicicletas

(CD) 06/13

(4,0/5)
Total de votos: 1

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Tiago Abreu

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), escreveu para o Super Gospel entre 2011 a 2019. É autor de várias resenhas críticas, artigos, notícias e entrevistas publicadas no portal, incluindo temas de atualidade e historiografia musical.


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