Análises
Ouvimos o novo disco de Priscilla Alcantara - Gente. Confira nosso review
Tiago Abreu em 12/11/18 2283 visualizaçõesPriscilla Alcantara penetra o cenário evangélico com a mesma ideia de décadas dialogando com pequenos aspectos do novo movimento. Na canção Eles, a intérprete inicia uma espécie de oração a Deus sobre os motivos pelos quais sua música, segundo ela, apresentar o Criador pelo rótulo ao invés do conteúdo. E é verdade que o álbum Gente, lançado este mês pela Sony Music Brasil, tem um discurso muito mais acessível se comparado a maioria dos lançamentos evangélicos de 2018. No entanto, sua estrutura lírica está muito mais preocupada com outras questões.
Ao invés de se debruçar na construção deste diálogo, a cantora prioriza questões fortemente emocionais. Desde Gente (De Zero a Dez) até o findar de Inteiro, Alcantara trabalha a ideia de que ser humano, em linhas gerais, envolve fraquezas e sentimentos, e a reconstrução do indivíduo pelo poder divino o torna em alguém resistente ao mundo externo (Tanto Faz). Fora as simplificações intencionais, o ideal pretensioso gera um álbum por si só pouco aprofundado em suas intenções conceituais.
A produção musical de Johnny Essi, nome creditado a produções recentes de Mariana Valadão, Aline Barros e L-TON, é provavelmente o mais perto que alguém pode alcançar em termos de música pop no cenário evangélico. No álbum de Priscilla, sua devoção ao eletropop se mantém, seja em canções mais bem estruturadas, como a encorpada Me Refez ou até na espiritual Real que, fora de seu contexto, seria identificada como uma canção quase sexual. Mas quando falta elegância na direção musical, como em Tanto Faz e Liberdade, a intimidade proposta nos versos fica emaranhada a elementos eletrônicos plastificados.
É fácil afirmar que se trata de um álbum mais esforçado comparado ao antecessor Até Sermos Um (2015) ao fato da artista estar mais atenta ao mundo ao seu redor. Empatia tem uma tentativa muito mais autêntica de reflexão que a maioria das canções de Priscilla presentes em outros discos. Mas será isso suficiente para ampliar sua conexão com outros meios? O disco caminha pela premissa de abordar desafios vividos por cristãos de uma forma mais criativa e indireta. Mas o discurso de Priscilla ainda está muito intrincado sob a ótica de uma cristã experiente ao ponto que, dificilmente, alguém de fora entenderia. E mais: O problema de alcance da música cristã a não cristãos não é uma questão de versos. Para isso tenho dois argumentos.
O primeiro problema do não alcance da música cristã aos não-cristãos é, a princípio, uma questão de estética. Por mais que você possa negar, a grande maioria dos cantores cristãos da atualidade não estão à frente das chamadas "inovações" musicais do gênero. A própria música de Priscilla em canções como Solitude (e evoca, à base eletro, aquele típico rock de estádio) e Alegria (com seu lado latino) são incursões cuja música pop faz há certo tempo. Ou seja, a música evangélica, historicamente e com raríssimas exceções, tem sérias defasagens em termos musicais.
O segundo, e mais importante, é que a música cristã não chega aos não cristãos por causa do mercado gospel. É a forma pelo qual foi constituído e será assim enquanto ele existir. Porque o mercado gospel surgiu para o consumo de músicas evangélicas para evangélicos. Porque o mercado gospel não está necessariamente preocupado com as reflexões sobre a arte com influência do pensamento cristão. Todos os artistas com essa preocupação, aliados as técnicas e estratégias do chamado mercado gospel, fracassarão. Para que a música feita por cristãos realmente alcance quem seja o objetivo de alcançar, seria preciso um novo meio musical evangélico cujas questões de mercado não fossem mais importantes que a própria arte. Ao mesmo tempo, sem o mercado gospel tal como existe, a música cristã brasileira entraria em colapso.
Priscilla ainda é jovem, é o seu segundo trabalho de alta exposição, e sua obra ainda pode caminhar em direção a uma maturidade na reflexão acerca dos motivos os quais cristãos tem falhado, seja pela musicalidade, pelos versos, ou pela espiritualidade. E pode, também, falar de si e seus dramas de forma mais direta aos não cristãos. Por isso, Gente é um álbum de premissas suficientemente corajosas de trazer temas relevantes em debate, mas não devolve a grande resposta que há décadas esperamos: A possibilidade de ser cristão e estar à frente quando o assunto é arte no Brasil.
Avaliação: 3/5
Nota da redação
O álbum "Gente" chegou a Um milhão de streams em pouco mais de um dia de lançamento oficial. Foi o melhor desempenho de um lançamento gospel em todos os tempos.
Nossa equipa fará uma matéria especial sobre o assunto, mas seguem abaixo alguns records que foram quebrados com esse lançamento:
1- O Pré Save de GENTE foi a melhor ação da Sony Music Brasil superando inclusive artistas com enorme apelo junto ao público como Pablo Vittar e Lucas Lucco
2 - O álbum GENTE foi capa de Playlists no Spotify, Deezer, Tidal e Apple Music
3 - O álbum GENTE alcançou mais de 1M de streams em menos de 24h no Spotify (recorde)
4 - Vídeo Empatia #1 em Alta no YouTube Brasil
5 - O álbum GENTE ficou em primeiro lugar no Trend Topics Brasil e em terceiro lugar no mundo. Lembrando que Anitta lançou um EP no mesmo dia.
6 - O álbum GENTE entrou no Chart Spotify e pela primeira vez na história da música cristã nacional, 7 faixas marcaram no Top200, sendo 2 no Top100
7 - O álbum GENTE marcou na Deezer 10 faixas no Top300, 7 faixas no Top200, 5 faixas no Top150
"Todos estes resultados são fruto de um projeto artístico de qualidade + artista engajada + público engajado + equipe de profissionais qualificados", declara Maurício Soares, A & R da Sony Music.
Ouças as músicas e saiba mais sobre: Priscilla Alcantara
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Tiago Abreu
Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), escreveu para o Super Gospel entre 2011 a 2019. É autor de várias resenhas críticas, artigos, notícias e entrevistas publicadas no portal, incluindo temas de atualidade e historiografia musical.
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