Análises

Assistimos o novo DVD do Oficina G3 - Histórias e biciletas. Confira nossa opnião

Tiago Abreu em 13/07/15 4089 visualizações
Eles, há muitos anos, se mostraram grandes. Desde Indiferença (1996), o Oficina G3 não precisa provar para ninguém que é um dos melhores e mais proficientes grupos musicais do nicho cristão. Com o tempo, foi crescendo sua popularidade, algo que lhe fez bem, e ao mesmo tempo, mal. Mal porque o processo de lançar um bom disco, com forte aclamação popular, faz com que qualquer artista ou banda procure se superar, extrapolar os seus limites e claro, agradar seu público, mesmo que a fonte seja esgotável. Quando o disco não é recebido tão favoravelmente quanto os da “era clássica”, começam-se as especulações. Após o questionado Humanos (2002), acredito que o Oficina somente alcançou consenso em Além do que os Olhos Podem Ver (2005). A partir deste disco, Juninho Afram, Duca Tambasco e Jean Carllos, evidentemente, alcançaram tudo o que lhes era possível, como um trio.

Os lançamentos subsequentes não foram de baixa qualidade – muito pelo contrário –, mas seguiram-se numa pressão que poderia ser perigosa para o grupo, caso seguissem na mesma formação. A entrada de Mauro Henrique em 2008 deu uma vitalidade ao grupo, mesmo que Depois da Guerra seja, em minha particular visão, um disco inferior a Elektracustika (2007) e o Além (especialmente por suas baladas). Enquanto os fãs ficaram enlouquecidos com o prog metal que o grupo já vinha fazendo desde 2005 e agora, as novas influências de metalcore, eu me perguntei: o que esses caras farão agora?

Histórias e Bicicletas (Reflexões, Encontros e Esperança) (2013) veio como um tapa na cara para muitos que queriam apenas peso instrumental, que, na visão dos leigos, é o que faltou em bons discos como o próprio Elektracustika e O Tempo (2000). Por outro lado, recebemos um disco de conceito lírico muito mais poético e o mais introspectivo de toda a carreira do G3. Dividir opiniões, para um grupo de quase 30 anos de carreira, é óbvio. Mas saber canalizar suas experiências pessoais para composições sinceras, é ainda algo que poucos, especialmente no meio cristão, tem cacique para fazer. E o Oficina G3 faz isso com propriedade.

Após o enérgico D.D.G. Experience e anos de silêncio, a banda chega com seu primeiro filme, Histórias e Bicicletas, dirigido por Hugo Pessoa – sujeito já veterano nos trabalhos do G3. Projetado como uma espécie de documentário, a obra procura mostrar as sessões de gravação, as visões particulares dos quatro integrantes sobre a música e sua relação com elas, além de performances das músicas do álbum.

Este line-up, como um quarteto, nunca se mostrou tão sólido quanto neste registro mais recente. Sob uma oração de Juninho Afram com os integrantes e Leonardo Gonçalves, e um discurso de Duca Tambasco, com imagens do cotidiano em preto e branco – algo, aos poucos, saturado nas obras dirigidas por Hugo – embalam as palavras do vocalista e o instrumental executado pelo guitarrista, que introduz a pulsante e dreamtheaterníaca Diz, acompanhado de uma banda bastante técnica, concentrada, e aparentemente pouco emocional. Mas, claro, é apenas o começo.

Em seguida, Duca Tambasco se torna o centro das atenções. O baixista, como na maioria dos grupos de rock, pode não ser o mais lembrado, mas mostrou-se fundamental para o conceito do álbum. Sua voz, apesar de pouco ouvida nas canções da banda, são transmitidas no interlúdio. Enquanto as imagens o retratam como um sujeito tranquilo, o seu baixo pulsante (a influência do RAK na mix me fez lembrar de Muse) dá início a uma das canções mais enérgicas e progressivas de Histórias e Bicicletas, Não Ser.


Juninho Afram, o principal nome por trás do grupo desde os anos 90, seguiu-se, neste documentário, como um indivíduo cuja fala é mais relevante pela habilidade seus dedos, do que por palavras propriamente ditas. Seus solos, pelo projeto, mostram sua evolução ao longo dos anos. O “progresso” na música do Oficina G3, em grande parte, se deve as parcerias e influências trazidas pelos músicos contratados e convidados, que atuam com o quarteto, de tempo em tempo. Leonardo Gonçalves é um deles, o qual participa em Lágrimas e nos relembra da habilidade do grupo em produzir baladas.

Quem observa o enérgico e o excêntrico Jean Carllos nos palcos, ao longo dos últimos 20 anos, sem a menor dúvida, admirou-se da faceta calma a qual o documentário mostrou-o. Sua fala, de início mais rápido que os músicos anteriores, acaba sendo mais longa, refletindo sobre nossas percas. Carllos, que atualmente é divorciado, é filmado conversando com seu filho, num dos registros mais interessantes do projeto. Tão interessante quanto, é a balada Descanso, escrita por Jaky Dantas (in memoriam), esposa de Mauro a qual o trabalho foi dedicado.

Falando em Mauro Henrique, o cantor e produtor musical que desde 2008 atua com a Oficina, é um músico que, aos poucos, está vencendo a sua pouca presença de palco, que atrapalhou tanto o D.D.G. Experience. Sou Eu é tocada após o último interlúdio relacionado aos membros, até seguir-se a mais imagens das sessões de gravação, e cenas de outras canções do projeto tocadas ao ar livre, no telhado.

Musicalmente, o filme Histórias e Bicicletas não parece acrescentar muito a sua versão em CD, e nem precisa. Os interlúdios, depoimentos e cenas de gravação, com diálogos e poucas falas sobre o álbum de fato, mostra que o trabalho soa mais interessante pelo implícito. As entrelinhas contidas nas tomadas, em grande parte seguidas em escala de cinza, podem cansar o espectador mais desatento, no entanto, são autoexplicativas para quem conhece, ao menos um pouco, o contexto acerca da produção do CD.

Os extras, além de conter o bem produzido clipe de Confiar, traz um making of bastante longo (e talvez desnecessário) acerca da gravação do clipe. Água Viva, melhor música do álbum, mas não incluída no registro principal, recebe uma ótima versão em videoclipe, produzida numa boa locação, embora, desnecessariamente, a parte final tenha sido cortada.

O único aspecto de real inércia do projeto centra-se na figura de Hugo Pessoa. O diretor, que provou, durante anos, ser um dos mais criativos do meio cristão, aos poucos começa a se acomodar. Alguns elementos em suas obras, como introduções temáticas, estão cada vez manjadas e precisam estar unidas a novas ideias. Em registros mais antigos e bastante elogiados, como o próprio D.D.G. Experience e Ao Vivo no Maracanãzinho (Trazendo a Arca), a ideia era excelente e “inovadora”, mas foi exaustivamente explorada, como nos recentes Ao Vivo em São Paulo (Heloisa Rosa), Mais um Dia Ao Vivo (Livres) e No Caminho do Milagre (Davi Sacer). No entanto, para quem não assistiu estas produções, dentre outras, não terá tanto impacto e já estará satisfeito com as competentes performances do Oficina G3.
Histórias e bicicletas

(DVD) 07/15


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Tiago Abreu

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), escreveu para o Super Gospel entre 2011 a 2019. É autor de várias resenhas críticas, artigos, notícias e entrevistas publicadas no portal, incluindo temas de atualidade e historiografia musical.


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