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Relembramos um clássico da Oficina G3 lançado em 1996 - Indiferença. Confira nossa crítica retrospectiva

Tiago Abreu em 28/04/16 4412 visualizações
Quem poderia medir e prever as várias mudanças ocorridas na formação da banda Oficina G3 durante os quase trinta anos de existência? Seja quais elas foram, Juninho Afram foi peça fundamental para manter a estabilidade na parte criativa do grupo. Se, nos primeiros anos, Túlio Regis foi autor das grandes canções do conjunto, em sua saída, o guitarrista de vez assume a função e se consagra como o letrista majoritário do G3.

Indiferença, lançado em 1996 com produção musical e arranjos de Paulo Anhaia, é o ápice coletivo da banda na década de 1990. Também é o ponto alto de Luciano Manga como intérprete e frontman, uma estreia respeitável da dupla Duca Tambasco e Jean Carllos, contribuições fundamentais de Walter Lopes e a consagração de Juninho Afram como compositor e homem das seis cordas. Não é, em nenhum momento, um exagero: O disco ultrapassa qualquer limite imposto nos anteriores Ao Vivo (1990) e Nada É Tão Novo, Nada É Tão Velho (1993) e leva o quinteto a um status de poder e força musical até então inédito.

Àquele momento, eles provaram que poderiam fazer um som mais encorpado e agressivo. Entre canções mais pesadas e que flertam com o heavy metal como Profecias, há também baladas e momentos mais espirituais. É um contraste que tem o seu valor. Novos Céus estava ali para provar que a Oficina G3 poderia e deveria ser muito mais do que basicamente uma banda de "rock pesado". Embora Juninho participe de grande parte das músicas como vocal, é inegável que Luciano Manga roube a cena. Com sua interpretação espontânea, mas muito mais centrada que no lançamento anterior, ele faz aqui uma das suas melhores performances logo na abertura em Davi, hard melódico de reverência oitentista. E é exatamente em canções de maior imposição e rapidez, como Não Temas, que o cantor deixa sua maior marca como intérprete.

Como cantor, Juninho cumpriu bem a função na maior parte do tempo, embora Your Eyes, mesmo com a devida leveza e sua sonoridade etérea, pediu um sotaque melhor. Da mesma forma, sua voz em Espelhos Mágicos soou melhor em gravações posteriores, como no disco Acústico (1998) ou até mesmo nas roupagens feitas ao vivo na turnê de Além do que os Olhos Podem Ver. Mas ele rompe todos os seus limites quando faz o que melhor sabe: ser guitarrista. Seu solo em Glória Inst. é arrebatador, e consegue, até mesmo, ofuscar a própria canção cantada.

As passagens instrumentais não são tão efetivas com o restante do repertório, mas se encarregam em mostrar o que a cozinha é capaz. Mesmo assim, Duca's Jam, com Duca Tambasco no centro das atenções, ainda fica um tanto quanto perdida no disco, bem diferente da conexão feita nos instrumentais tocados por Juninho. Melodicamente, o disco é marcante. Magia Alguma está, de longe, entre as melhores baladas da banda enquanto canções mais agressivas em som, como a crítica social Indiferença, não deixam a desejar. Indiferença é um disco bem calibrado, esforçado e sua importância e sucesso na discografia do G3 não é gratuita.

Nota: ★★★★
Indiferença

(CD) 01/96

(4,0/5)
Total de votos: 1

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Tiago Abreu

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), escreveu para o Super Gospel entre 2011 a 2019. É autor de várias resenhas críticas, artigos, notícias e entrevistas publicadas no portal, incluindo temas de atualidade e historiografia musical.


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