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Confira nosso bate papo com o cantor e compositor Gerson Borges

Cantor, compositor, pastor e professor, o músico carioca Gerson Borges faz música há décadas. Com mais de vinte anos de carreira, o músico já produziu musical, álbuns temáticos, além de registros congregacionais e projetos ao vivo. Em entrevista ao Super Gospel, ele transmite suas ideias acerca da arte produzida por cristãos, suas influências na música brasileira e estrangeira, além de novidades ainda para 2016.
Seu primeiro trabalho solo foi De Manhã, lançado em 1991. De lá para cá, são vinte e cinco anos de carreira e muita coisa para observar acerca da cena musical cristã. Em toda esta trajetória, em quais aspectos você acredita que a música cristã contemporânea nacional evoluiu?
Depende do que entendemos por música e por evolução (risos). Se pensamos em música feita por cristãos evangélicos (em geral, a chamada 'música gospel') temos vistos nessas quase três décadas um avanço técnico extraordinário. Estamos no nível das produções da chamada música secular. Usamos, inclusive, os mesmos estúdios de gravação, mixagem e masterização, por exemplo. Sem falar na abordagem profissional dos artistas, que agora contam com produtores, assessoria de imprensa e de agenda, etc. Isso é bom? Não sei dizer. Tem um lado bacana, a qualidade do "produto". O problema, no entanto é reduzir tudo isso a um produto. Eis que a mercantilização da música e da arte (denunciada por gente como o filósofo Walter Benjamim há mais de 60 anos) desemboca na mercantilização da fé!
A pessoas não compram (ou baixam) um álbum só - compram uma visão de mundo, uma mentalidade, uma atitude, como o pessoal do rock costuma dizer - e uma teologia. Os teólogos da igreja evangélica brasileira são os cantores... Agora quem disse que os cantores são bons teólogos? Deveriam ser, pelo menos os cristãos, né? Então a tal evolução é técnica/tecnológica/mercadológica. Quanto à noção da música para "a glória de Deus", houve um involução, eu acho. De Bach para a paródia gospel da Anita no YouTube...
Há algum ponto em que a melhora desta arte se faz fundamental?
Na poética, no conceito dos álbuns. Precisamos de mais densidade existencial e espiritual. Precisamos pedir ajuda aos poetas, aos romancistas. Eu penso assim. É mais fácil ouvir um disco tecnicamente mal gravado do que burocraticamente composto.
Sua música "Discipulado", do álbum Nordestinamente (2009), é marcante pela referência a vários músicos e bandas. Você diz que "Todo mundo imitou todo mundo, todo mundo se inspirou em alguém". Quais foram os músicos e grupos os quais te influenciaram musicalmente?
Xi, pergunta difícil - mas deliciosa: vamos falar de gêneros, combinado?
1º) Os hinos da nossa herança reformada e protestante: "Castelo Forte" (Lutero) , "Tu és Fiel, Senhor", os irmãos Wesley, Isaac Watts, nossos hinários: Cantor Cristão ( hoje HCC ), Salmos e Hinos e Harpa Cristã. Canto e curto muito até hoje. Trata-se de música popular européia-americada de 500, 400, 300 anos atrás...
2º) O samba carioca , a música nordestina que ouvia nas ruas do Rio de Janeiro da minha infância, anos 70; e, claro, a fase áurea da MPB dos anos 70, que tocava no rádio, né? Chico, Caetano, Gil, Gonzaguinha, Ivan Lins...ouvia muito a JB FM e AM...saudades daquela rádio !
3º) Grupos evangélicos dos anos 70/80 como Elo, Som Maior e Vencedores por Cristo, claro - especialmente, "O Guilherme (Kerr), o Jorge (Camargo), o Pimenta (Sérgio) /o Bomilcar (Nelson), Rehder (Jorge) , João (Alexandre) , Aristeu (Pires Junior) e os mais de quarenta ", que cito em "Discipulado".
4º) A música erudita (especialmente os clássicos e o barroco), assim como o jazz, que descobri na adolescência (swing, big bands, Miles Davis, Coltrane, Dizzy e, principalmente os pianistas como Hancock, Evans, Corea...). Amo ouvir os pianistas de jazz!
5º) Artistas pop que dialogam com um sem número de influências: Sting, Gil, James Taylor, Ivan Lins... Gosto disso: cozinhar ingredientes variados na panela do pop!
6º) Instrumentistas brasileiros como Egberto Gismonti e Toninho Horta.
7º) Minha maior influência, enfim: o Clube da Esquina (Milton, Lô, Betoo Guedes, Tavinho Moura...) e a bossa nova - especialmente Tom Jobim. Está tudo ali, concentrado, revisado, citado e celebrado.
Além de músico, pastor e cantor, você é formado em Letras. A atividade acadêmica possui alguma influência em sua obra musical?
Muita! Eu repito uma fala do Chico Buarque: "Eu sou melhor escritor do que músico". Estudei mais língua e literatura, teoria e crítica literária do que teoria musica, por exemplo. Sou um músico sofrível, intuitivo, pequeno. Sei disso. Mas me sinto mais em casa e à vontade nas palavras - e na Palavra, como pregador , expositor e leitor das Escrituras. Pastorear é sempre a partir da Bíblia e da oração. Tenho mais livros do que CDs em casa...muito , muito muito mais. Em geral, a poesia precede a melodia/harmonia no meu trabalho. Queria ser um músico melhor, confesso...
Há cerca de dez anos, você lançou o seu trabalho mais pretensioso, A Volta do Filho Pródigo - O Musical. Como surgiu a ideia de fazer um musical?
Lendo o livro homônimo de Henri Nouwen. Nouwen é fabuloso! Um grande escritor devocional, um diretor espiritual e tanto! Era um professor de teologia (Harvard, Notre Dame), psicólogo e padre católico, no entanto, é mais lido por evangélicos. Sempre foi. Os católicos (aqui no Brasil, mais do que nos EUA e Europa) devem achá-lo "protestante demais". Enfim, lendo o comentário poético-devocional de Nouwen para a parábola de Lucas 15, de repente me vi recontando (cantando) a história do Pai Misericordioso! E acabei mostrando esse material na Universidade de Toronto, para amigos e família de Nouwen, em 2006. Inesquecível.
A Volta do Filho Pródigo (2005), Nordestinamente (2009) e Quero Aprender a Orar (2014): Repertório inédito, autoral e de influências diversas.
Quero Aprender a Orar, o álbum mais recente de sua carreira, contém várias participações especiais. Uma delas é o Grupo Altares. Paulo Nazareth, da Crombie, canta em uma faixa e Paulo César Baruk também. Qual a importância destes parceiros em sua carreira? Quais outros cantores e compositores foram de grande importância em seu trabalho?
São meus amigos! Sou fã deles! E gosto muito de fazer as coisas em comunidade. Não sou uma pessoa do tipo "carreira solo", nunca fui. Sou da turma, do grupo, sou tributário. Deus é comunidade, né? Outros? Citei alguns: Pimenta, Kerr, Diamanso, Camargo, Marinaldo Cardoso, João Alexandre - nossa maior e mais talentoso músico cristão brasileiro e muitos outros parceiros de fé e canção. Ultimamente, estou profundamente apaixonado pela poesia de Galdir Cabral e Marcos Almeida. Amo o que escrevem. E invejo. De verdade.
Você tem algum lançamento ou projeto previsto para este ano de 2016?
Queria lançar o DVD Sambaião, gravado no Municipal de Niterói... Vamos ver. Tempos muito bicudos para a produção cultural. O mecenato e o patrocínio (já que o fomento está sempre num patamar de exclusivismo óbvio: veja os CDs e DVDs que trazem o selo "Lei Rouanet": Geralmente são de artistas que, pela carreira e público, teoricamente não precisariam, mas isso, vão dizer, é "dor de cotovelo dos crentes". Antes fosse!) desapareceu ou foram tragados pela crise econômica. Outra coisa que eu queria muito fazer esse ano seria relançar A Volta do Filho Pródigo numa pequena turnê. Ah, seria lindo... Estou orando e tentando. Deus dirá sim ou não.
Se você pudesse indicar dez discos ou músicos para nossos leitores, quais seriam?
Claro! Amo essa parada de listas !
1. Vento Livre (Guilherme Kerr e amigos/IBM Morumbi). A célebre cantata do Evangelho de João. Um clássico cristão brasileiro, sem dúvida.
2. Clube da Esquina 1 e 2 (Milton Nascimento e Lô Borges). Um disco que mudou a vida de muita gente famosa hoje...
3. Eu Sarau - parte 1 (Marcos Almeida). O Marcos é um evangelho... Uma boa, excelente notícia. Está no player daqui de casa há semanas. Todos gostamos muito. Poesia e a energia rock falando a Deus sobre nós e a nós e sobre Deus.
4. Diamond Land (Toninho Horta). Um dos álbuns que me formaram musicalmente. O rei da harmonia!
5. Elis e Tom (Tom Jobim e Elis Regina). Uma dos maiores e melhores trabalhos de dois dos maiores e todos os tempos. E tem a produção do genial Cesar Camargo Mariano. Precisa mais?
6. O Sagrado (Roberto Diamanso e Cesar Abianto). Quem ouve esse trrabalho se pergunta: Por que o Brasil inteiro não conhece Diamanso e Abianto? Quase outro Xangai e Domingos, é isso.
7. First Circle (Pat Matheny Group). Quase tudo do Pat, o gênio da guitarra , é um tesouro para ouvir e ouvir e ouvir... Esse é um dos melhores.
8. Sting. Toda discografia da fase pós-Police, especialmente os três primeiros discos, Bring On the Night, Nothing Like the Sun e The Dream of the Blue Turtles. Básico para quem quiser saber como se mistura rock e jazz.
9. Crombie. Os três álbuns da banda niteroiense são sem tirar nem por! Deliciosas canções. Viva Paulo Nazareth!
10. Bach, Mozart, Beethoven, Dvorzak, Villa-Lobos... Ah, se eu fosse falar só de música erudita... Pesquisem esses caras. São mestres dos mestres na música! E aqui e incluiria a obra para o o cinema de Morricone. Maravilhosa mesmo.
Ouças as músicas e saiba mais sobre:
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Tiago Abreu
Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), escreveu para o Super Gospel entre 2011 a 2019. É autor de várias resenhas críticas, artigos, notícias e entrevistas publicadas no portal, incluindo temas de atualidade e historiografia musical.
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