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Confira nosso bate papo com Yuri Oliver, que falou sobre carreira, meio evangélico e novo movimento

Tiago Abreu em 28/10/15 1373 visualizações

Yuri Oliver, cantor independente que chega ao seu segundo disco, foi entrevistado pela equipe do Super Gospel durante a Gospel Fair 2015. De São José dos Campos para Goiânia, o intérprete contou acerca de seus projetos musicais, reflexões acerca do meio evangélico e as mudanças do primeiro para o segundo trabalho, a ser lançado.

Fale um pouco sobre seu primeiro disco.

Eu canto pop alternativo. É o meu estilo principal. Na verdade, é pop, mas a linha alternativa serve para mesclar outros elementos musicais. E este trabalho é muito cheio disso e de outras vertentes, como a MPB e soul. Lancei em 2013 e se chama Sentido. O álbum fez uma diferença muito grande na minha vida justamente pela proposta, que é falar de todas as vertentes envolvidas em uma só palavra.

Por exemplo, a palavra sentido pode significar direção, toque e significado. Nesse aspecto, quis englobar várias coisas numa só palavra, assim como o disco faz, abordando várias faces do meio cristão em um único CD, condensando em apenas alguém: Cristo, em Sua salvação e graça.

Sob diferentes olhares?

Isso. Há uma frase que diz: “Um ponto de vista depende da vista de cada ponto”. Por isso, para mim, a graça é tida de uma maneira. Para você, de outra, porque ela funciona de outra maneira. Tudo isso, sem deixar de ser a mesma. Ela é universal em todas as suas formas, mas enxergamos de formas distintas. Assim é o sentido. Talvez você ouça uma música que fale sobre direcionamento, como é “Morada Eterna”, mas a entenda como um bálsamo enquanto você ainda está aqui na Terra, tendo a promessa de que quando chegar lá tudo estará bem. Mas, enquanto estiver aqui, vivendo tudo o que a canção diz. Enquanto, para mim, posso interpretá-la como um refrigério: “Ah, o céu está aí”. Sentido trabalha muito com isso.

Você disse que sua música é pop alternativo. E quais são as suas influências musicais?

Na época do álbum Sentido, eu ouvia muito Anthony Evans, Israel Houghton, o próprio Paulo César Baruk (produtor do meu CD), Leonardo Gonçalves (que eu sou muito fã), Jeremy Camp e outros. Uma banda que eu gosto muito, por exemplo, é o Coldplay. E hoje, eu já escuto outras coisas, como Daniela Araújo, Priscilla Alcântara. Acho-as, musicalmente falando, muito inovadoras. Eu olho a Priscilla e enxergo a Tori Kelly, que é uma cantora excepcional e vem na mesma linha... O Sam Smith. São pessoas da música cuja característica é singular e eu acho isso sensacional. É quando a pessoa se encontra no próprio som, na própria música e faz disso uma beleza tão grande que, além de trazer cor para a minha vida, traz outros tipos de brilho sonoro. Independentemente de falar ou não de Deus, falam de amor e paz.

Como você enxerga, então, os músicos do novo movimento, que fazem uma música que não se encaixa somente no universo evangélico e dialoga com a sociedade?

Eu gosto da proposta. Até porque o meu segundo disco tem essa ideia. Eles estão com a ideia de não cantar do mesmo e para o mesmo. A igreja, há tempos, continua a mesma, com pessoas pensando da mesma forma e parecem nunca sair daquela caixa. E, querendo ou não, música é para trazer outras pessoas para cá. É feita para que o evangelho seja conhecido de forma completa, falando acerca e diretamente de Deus ou não. Porque Deus está envolto em uma série de coisas. Se eu falar de amor, Ele está no meio. Se eu estiver falando de paz, Deus está no meio. Se eu falar sobre renovo, Deus está no meio. Se eu estiver falando de um dia mau, mas que amanhã estará tudo bem, relaxa e confia, eu estou citando a palavra dEle. É uma galera que quebrou a religiosidade e o pensar religioso, evitou prender-se aos tradicionais e passou a abraçar um Deus que é universal e que não tem uma religião. Mas que está aí para demonstrar graça e misericórdia.

Eu sou adepto a essa ideologia e acho que eles estão corretíssimos.

Então, em termos de discurso, o seu próximo disco virá numa linha mais diferente.

Sim. O álbum vem falar um pouco mais do lado humano de Cristo. A minha proposta é abordar o fato de Jesus ter vivenciado trinta e três anos aqui na Terra. Nesses trinta e três, o ministério durou apenas três anos. Ou seja, e os outros trinta (ou vinte e nove)? Onde estava Cristo? Por onde Ele andou, com quem falou. Se ele chorou, se foi curioso, se Ele sentiu dor... Nós não sabemos. E eu quero falar acerca disso, pois o lado humano de Cristo nos aproxima dEle. Pois a dor de rejeição que eu tenho, seja de pais, relacionamento ou qualquer coisa, Ele pode dizer: “Eu entendo a sua dor, porque fui rejeitado também. Fui rejeitado pelo meu amigo, quando você nem sabia”. Entende? Quando O temos simplesmente como Deus, soa mais distante. Nós somente o adoramos ou reconhece como salvador, mas não como amigo. Cantos da Vida, título do meu disco, vem para disponibilizar essa amizade. Não para que nos chame de servos, mas de amigos.

E para você, a música cristã brasileira, nos padrões atuais, é fechada ou consegue fazer esse diálogo?

Acredito que a música, em grande parte, não dialoga com a sociedade por dois fatores. O primeiro está na forma com a qual apresentamos o evangelho, uma forma até mesmo careta. É uma forma de medo: “Ou você siga Cristo, ou vá para o inferno!”. E não é verdade. Eu sou adepto da crença de que no dia do juízo final eu serei surpreendido. Porque o que terá de pessoas que não conheceram o Senhor, mas estarão lá justamente pelo próprio coração será significativa. Eu não acredito nesta filosofia de que se você não estiver todo o dia na igreja, se condenando e martirizando, você não vai para o céu. Essa forma de pregar cria uma barreira, limita-os a chegar até nos. E, na verdade, deveríamos estar de braços abertos. Atualmente, se numa reunião alguém colocar música secular para tocar, o “crente” comum se fecha. Ele fica de cara fechada, ou vai embora. E não deveria ser assim. Poderia conversar, discutir gostos musicais, compartilhar ideias, abrindo outros pontos de um diálogo.

A segunda é a musicalidade, que é mais do mesmo. Por exemplo, no meio não cristão dizem: “Você já ouviu fulano? Fulano vem numa proposta sensacional”. No “gospel”: “Fulano vem com um novo CD. Escuta essa música!”. Aí você ouve, e é mais do mesmo. Muda algumas palavras, mas nada de surpreendente. Para fazer alguma música do nicho, parece que é só juntar Deus com amor, cruz com salvador, unção, Jesus no final e pronto. E a música não era assim.

É, na verdade, um desafio vencido pelos Vencedores por Cristo nos anos 70.

Correto. Escreviam coisas lindas e grandiosas. E hoje, juntando Jesus com cruz e dor com amor, pronto. Infelizmente, as coisas tem sido feitas apenas para vender.

Essa barreira também seria algo relacionado ao convívio social dos evangélicos, no geral?

O evangelho deve ser aberto a opiniões e pautas. Um assunto de repercussão nacional atualmente é a homossexualidade. E o crente vê este tema e já vem com cinco pedras, pronto para falar imediatamente que é contra, o sujeito vai para o inferno. Não estou dizendo que devemos aceitar o pecado propriamente dito. Mas o pecador a gente tem a obrigação de aceitar! Não é porque a pessoa é gay ou lésbica que ela mereça ser excomungada, tirada do convívio. Antes de tudo e de qualquer outra coisa, vem o amor. Se eu não mostrar o amor para o cara que está lá fora, um homossexual ou de outra crença, eu não sou um cristão de verdade. Falarei sobre quem? Estarei representando quem ou o que? Nada, nem ninguém.

Se eu falo sobre um evangelho e eu não amo as pessoas, não estou em Cristo. Se eu falo sobre boas notícias, mas não estendo a mão, não estou vivendo Cristo. Jesus é muito mais de ações do que retórica. Tanto é que as palavras dEle eram parábolas. Ele queria falar de uma forma que entendêssemos e vivêssemos. Podemos andar juntos com outras pessoas, caminhar com elas, até que elas nos vejam e digam: “Eu quero ser um pouco mais parecido com você, você mostrou Cristo para mim de uma forma diferente”. E aí caminhamos para um lado o qual o evangelho realmente deve ser.

Assim, quais são as diferenças fundamentais entre o seu primeiro e o segundo trabalho?

O último é mais introspectivo. Fala mais do coração e não da razão. Vivendo mais e enxergando mais do amor do que a justiça. Deus é justiça, mas principalmente é amor. Neste disco, estou mais estendendo a mão do que querendo algo de volta. Cantos da Vida será para falar sobre isso. É para alguém sentar do meu lado, e falar: “Cara, diz aí como está sua vida? Como está tudo?”. E nisso, a pessoa responde: “Eu terminei meu relacionamento, meu pai é x, estou gostando de tal coisa, estou indo à balada, estou bebendo”. Eu respondo: “Mas e aí, aonde você quer chegar?”. E abordar todos estes cantos. Quando ele acha que ao deitar sob o travesseiro e dormir a consciência ficará tranquila (e não fica), usar dessa narrativa para fazer um canto renovado, restaurado, transformado, de paz e de vida. Assim, ele enxergará as coisas ruins de sua vida, limpar e colocar tudo de volta em seu devido lugar.

E musicalmente, o que pode-se esperar deste projeto?

Todas as ideias deste disco estão vindo de mim e de um amigo, chamado Kiko Bispo. E temos ouvido muitas coisas, trazendo elementos de fora. Se Deus quiser, esse trabalho será um marco grande na minha vida. Ele é 100% autoral, e muito mais do que isso: É o que sempre quis cantar.

E no primeiro trabalho esta ideia ainda não era amadurecida?

Não. O primeiro trabalho sempre é muito difícil. Você é muito imaturo, querendo fazer tudo ao mesmo tempo e cantar sobre tudo. Ao mesmo tempo, fica um questionamento: “Será que era isso mesmo que eu queria falar?”. O primeiro trabalho tem apenas uma canção minha, que nunca cantei até hoje, em nenhum lugar. Hoje eu estou mais maduro pelo aprendizado, os acontecimentos da vida e o contexto das composições. Este ano foi importante para mim e pretendo fazer disso tudo um CD.

Se você pudesse indicar músicos para uma pessoa não cristã, quais seriam?

Eu gosto muito de um "cara" chamado Marcos Almeida, que escreve sensacionalmente. Um amigo meu chamado Bernardo, que é de São Paulo. Amanda Rodrigues, que lançou este ano o álbum Sobre Ele e é muito bom também. Estevão Queiroga, um músico adventista muito bom. E por fim, queria indicar Dispô & Magalhães, uma música mais introspectiva.

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Tiago Abreu

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), escreveu para o Super Gospel entre 2011 a 2019. É autor de várias resenhas críticas, artigos, notícias e entrevistas publicadas no portal, incluindo temas de atualidade e historiografia musical.


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