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Ouvimos o álbum de estreia de Guilherme Borré - Singular. Confira nosso review

Tiago Abreu em 11/03/19 2875 visualizações
O desafio de vários artistas menores ao longo dos últimos 20 anos foi com base no desconforto que sentiam com a identidade sectária da música evangélica. Por um momento, a desvinculação do rótulo e dos estereótipos parecia ser a melhor alternativa, uma das principais faces do chamado novo movimento, encabeçado por bandas de rock alternativo. Os anos passaram e as relações entre músicos-indústria convivem em mutações, e muitas dessas ideias estiveram longe de serem aplicadas na prática.

A "morte" do novo movimento como possibilidade fonográfica e sua penetração enquanto visão artística dentro do próprio cenário evangélico é bem representada no projeto de estreia de Guilherme Borré. Singular tem todos os requisitos para ser um dos primeiros registros pós-novo movimento. É um disco que cria uma relação descompromissada com rótulos, desde suas metáforas diretas acerca da realidade cristã (Farol) às reflexões calmas e emotivas (Linda Espera).

Musicalmente, Borré está muito mais próximo dos elementos acústicos de Bruno Branco, mas suas influências de Palavrantiga são mais que óbvias. A abertura Palavra Antiga sugere sustentar uma melancolia esperançosa sobre a vida – é sobre viver em um mundo conturbado em direção a um futuro calcado na vida eterna cuja manifestação se dá antes mesmo de sua total chegada.

A produção de Bruno Pividori sabe equilibrar e distribuir a leveza dos riffs e sintetizadores entre a voz suave de Borré. Decência e Ordem é radiofônica e acessível sem descaradamente ser; Horizonte à Vista é uma mescla inteligente entre uma sonoridade acústica e etérea, enquanto Livro Branco é menos emocional e mais concentrada nas suas abordagens cotidianas – ou profundamente angustiadas, como o "quero saber quem sou" em Do Medo. Há leveza até nas autocríticas. Duro e Brando, longe de maiores atenções, transmite bem a intenção de pureza dos seus versos.

Guilherme, na maior parte do tempo, canta com a intensidade de quem faz música em seu quarto. E este é o maior mérito de Singular: Desprovido de grandes obsessões e mais concentrado em explorar as experiências de fé do cantor, é um trabalho sincero, profundo e, portanto, longe de cair no escapismo. Por isso, suas declarações lhe trazem o vigor de um homem sem pressões, concentrado em cada um dos 11 números executados.

Avaliação: 4/5
Singular

(CD) 01/19

(5,0/5)
Total de votos: 1

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Tiago Abreu

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), escreveu para o Super Gospel entre 2011 a 2019. É autor de várias resenhas críticas, artigos, notícias e entrevistas publicadas no portal, incluindo temas de atualidade e historiografia musical.


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