Análises

Ouvimos o clássico acústico do Katsbarnea - A Revolução Está de Volta

Georgeton Leal em 09/11/15 2520 visualizações
Embarcando na onda dos álbuns Unplugged, moda nos anos 1990, a lendária banda de rock cristão Katsbarnea apostou em um ousado trabalho mesmo após a "saída" do vocalista Brother Simion em 1999. Por ser o primeiro CD sem Brother, o álbum Acústico: A Revolução está de Volta recebeu várias críticas dos fãs mais antigos do grupo, principalmente, quanto à interpretação de Paulinho Makuko na releitura de clássicos do Kats. Apesar disso, o disco obteve um bom desempenho no mercado cristão nacional e ajudou a reavivar a carreira da banda, que a esta altura, estava sendo aos poucos esquecida pelo público mediante o surgimento de outros grupos musicais de destaque no gênero.

O conceito criativo de todo projeto fonográfico do álbum surpreendeu bastante por fugir dos padrões costumeiros do mercado: a embalagem externa do CD e a capa em um formato similar ao atual digipack foi novidade pra muita gente que, assim como eu, ainda não tinha visto algo parecido na música evangélica daquela época.

O repertório também foi muito bem selecionado, apesar de não conter nenhuma regravação do estrondoso disco Armagedom (falta esta que seria compensada no álbum seguinte, Profecia). Sucessos inesquecíveis dos três primeiros trabalhos do Katsbarnea receberam ótimas releituras, acompanhadas por um excelente naipe de metais e envolventes arranjos de cordas sob a responsabilidade do maestro Zerro Santos.

O registro foi gravado ao vivo no Directv Music Hall e atingiu a vendagem de 150 mil cópias, rendendo à banda seu segundo disco de ouro e também o título de melhor cd acústico de 2000. Este trabalho ainda rendeu uma turnê de aproximadamente dois anos, levando a banda a viajar por todo o Brasil e em cidades da Bolívia, Argentina, Uruguai, Inglaterra e Israel, intercalando o show acústico com o elétrico.

Pois bem, vamos à setlist...

A faixa de abertura, que não podia ser diferente, dá um pontapé inicial com a conhecidíssima Extra, um dos maiores hits do Kats, que nessa produção, recebeu de volta a presença dos nostálgicos backing vocals femininos. A partir daí, é claramente perceptível a intensa participação do público, que canta e vibra a cada sucesso tocado.

Grito de Katsbarnea traz quase todas as características de sua primeira versão, valorizando pontos essências dos arranjos originais e destacando um ótimo solo de violão executado por Déio Tambasco.

As letras "urbanas" e contemporâneas sempre foram uma característica marcante da banda, como é bem visível na música Congestionamento, que possui uma mensagem objetiva e muito bem contextualizada.

Críticas à sociedade pós-moderna também são alvos bem explícitos pelo Katsbarnea, que em Consumo versa sobre o domínio dos vícios e os efeitos das drogas e do consumismo. A propósito, confesso que sinto falta de canções assim na música evangélica atual, que alertem sobre as ilusões do mundo de uma forma bem clara e sob um ponto de vista mais evangelístico.

Cristo ou Barrabás, do disco homônimo lançado pela banda em 1993, é outro clássico definitivo do Katsbanea. Quem conhece a versão original é capaz de sentir falta de uma encenação mais elaborada no início da música, já que na versão antiga, a abertura era de arrepiar. A leveza dos arranjos e a interpretação branda de Paulinho Makuko subtraíram muito da agressividade da canção, mas não chega a decepcionar. O final é inusitado, com certo "fade out" dos instrumentos, que deixa apenas a participação do público cantando o refrão.

A banda realmente não tinha medo de se aventurar em sons mais experimentais, mesclando até mesmo elementos rítmicos regionais em algumas músicas, como acontece em Amor, que tem uma levada baiana, bem ao estilo de Makuko. Alguns podem até pensar que esse tipo de música não tem nada haver com rock, mas em se tratando de Katsbarnea, um experimentalismo assim sempre é bem-vindo. O ponto negativo mesmo nesta faixa (e talvez, no disco inteiro) seja o uso excessivo das percussões em determinados momentos, uma vez que as mesmas são executadas tanto por Ari Bahia como Paulinho uma vez ou outra.

Com uma introdução peculiar que lembra música havaiana, inicia-se Ondas Agitadas, bem mais refletiva e lenta. A singeleza desta versão acústica chega até mesmo a superar sua versão anterior. Ao término da faixa, somos surpreendidos com uma brincadeira de Makuko, que simula um som percussivo com sua própria boca, entoando um trecho do Hino Nacional Brasileiro.

Chegando à metade do CD, temos uma palavra bem simples, porém prática, com o apóstolo Estevam Hernandes, seguida logo após por Apocalipse Now, que é magnífica em todos os sentidos! O conteúdo escatológico da letra, por assim dizer, continua bem atual mesmo depois de tantos anos. OBS: Qualquer semelhança da introdução com os acordes de "Neon", da banda norte americana Prodigal, pode ser ou não mera coincidência.

A balada Terra mostra a preocupação com o desiquilíbrio ecológico causado pelo homem, que insiste em destruir a criação de Deus. Nesta faixa, os arranjos de cordas novamente fazem um encaixe perfeito do início ao fim. É de se notar que, ultimamente, a música evangélica também tem carecido deste tipo de temática em suas letras.

Meio-Fio é outra canção que evidencia uma tendência bastante evangelística em sua mensagem, falando francamente do amor de Cristo a todos sem distinção de raça, sexo ou posição social.

Corredor 18, baseada na vida de Paulinho Makuko, autor da canção, relata de forma breve o testemunho do vocalista, que inclusive, já havia feito outra regravação desta música em seu primeiro álbum solo, intitulado A Lei do Rei (1995).

Chegando à penúltima faixa, escutamos Viagem da Oração, uma das mais lindas composições do Kats. As cordas regidas de Maestro Zerro criam uma atmosfera transcendente e excepcional, digna de admiração. A melodia do refrão foi um pouco modificada, mas não ao ponto de agredir a harmonia original deste grande clássico.

Encerrando o álbum de forma áurea, temos Revolução, sucesso do LP da banda, lançado em 1990. A canção revela a superficialidade de algumas “revoluções” do mundo, que apesar de tudo, nunca trouxeram a verdadeira paz e nem segurança ao homem. Em contrapartida a isto, a letra anuncia Jesus como a única revolução que realmente pode libertar e transformar a humanidade.

Finalizando, podemos dizer que após ouvir este acústico, o ouvinte é poupado de ter aquela insatisfação quanto à integridade da obra, pois o trabalho verdadeiramente foi bem gravado e produzido com muito requinte. Algumas questões um pouco desfavoráveis acabam por serem menos relevantes, como a falta de uma maior desenvoltura do baterista Marcelo Gasperini (eclipsado às vezes pelas percussões) e a atenção um pouco dividida de Paulinho Makuko entre a percussão e a interpretação de certas músicas.

Apesar deste excelente trabalho não ter sido lançado em DVD, pode ser conferido completo no YouTube através do canal da banda. É certo que Acústico: A Revolução está de Volta pode ser considerado um grande marco não só na carreira da banda, como também, na música cristã nacional.

Nota: ★★★★
Acústico - A revolução está de volta

(CD) 01/00


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Georgeton Leal

Professor formado em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e blogueiro literário nas horas vagas.


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