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Ouvimos o maior clássico do Vencedores por Cristo - De Vento em Popa. Confira nosso review

Tiago Abreu em 14/01/16 2995 visualizações
Em quase 40 anos de lançamento, De Vento em Popa estranhamente continua a ser vanguardista. Estranhamente porque, em quatro décadas, ainda persiste a dicotomia da valorização da cultura nacional em detrimento do uso de versões estrangeiras no meio musical evangélico. Em 1977, a discussão não era diferente e o Vencedores por Cristo, mais importante grupo protestante da época, entendeu o impasse, desafiou-se e produziu sua maior obra até os dias de hoje.

Depois de explorar as primeiras composições de autores brasileiros em algumas faixas do álbum Se eu Fosse Contar... (1973), a proposta era de explorar as possibilidades que a música popular brasileira e todo o seu universo poderia proporcionar por meio de músicas escritas por Guilherme Kerr, Sérgio Pimenta, Aristeu Pires, Carlos Ferreira, Artur Mendes, Ederly Chagas, Abílio Chagas e Nelson Bomilcar.

Com a obra, o fenômeno Vencedores por Cristo revelava o potencial criativo e força que ostentava dentro do universo evangélico. Nenhuma banda, à altura daquele campeonato, teria a capacidade de questionar e amadurecer sua própria estrutura e identidade como o VPC. Para canalizar e expor todos os efeitos destas experiências, De Vento em Popa foi a saída sofisticada e mais inventiva que poderiam realizar.

A influência da MPB se revela logo na faixa de abertura assinada por Aristeu, apostando em versos contextualizados, outros de enfoque escancaradamente cristão. Esta alternância é vista em todo o repertório. O tom confessional do álbum não é unilateral. Sinceramente, balada de rock setentista do álbum, não deve em nada às canções do Clube da Esquina – movimento que também se faz sutilmente presente nos diversos instrumentos que preenchem o arranjo, como a flauta transversal, violão de aço e nylon, harmônica, bongô e viola. De Vento em Popa é completo nas referências, seja pela bossa nova de Salmo 139, a Jovem Guarda em Vai Caminhando, a orquestra de cordas de A Roseira ou até mesmo o rock de Canto.

Apesar de desafiador, a estética do projeto tem seus limites. As letras não indicam, em momento algum, contestação. Os problemas socioeconômicos do Brasil, em plena ditadura, não se fazem presentes. A principal função da maioria dos versos é de trazer um olhar que vai além das introspectivas experiências cristãs, tem função evangelística. Se os versos não indicam tão significativa contracultura, os arranjos se contrapõem ao intenso tradicionalismo da época na maior parte das igrejas evangélicas.

Conciliando movimentos e gêneros, o quinto trabalho do Vencedores é certamente o mais ambicioso da banda desde sempre. A capa, cujo barco a vela navega pelo mar, indica uma viagem suave num território pouco sólido, transitório. O grupo sabia muito bem que suas aspirações eram um passo ousado, mas souberam chegar ao destino com êxito. Hoje, ainda não existe disco no cenário cristão que retrate a cultura musical brasileira com tanta riqueza quanto De Vento em Popa.

Nota: ★★★★★
De Vento em Popa

(CD) 10/77


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Tiago Abreu

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), escreveu para o Super Gospel entre 2011 a 2019. É autor de várias resenhas críticas, artigos, notícias e entrevistas publicadas no portal, incluindo temas de atualidade e historiografia musical.


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