Análises

Ouvimos o novo álbum de Ravel - Um Novo Tempo. Confira nossos comentários

Tiago Abreu em 20/05/19 1902 visualizações

Um recomeço pode levantar diferentes pontos de vista sobre um álbum. Afinal, Um Novo Tempo é o primeiro trabalho de Ravel em carreira solo desde 1995, um hiato tão grande que, em tese, se apresenta quase como uma estreia. Quase. É pelo histórico de 30 anos do cantor em dupla que seu novo registro chega até nós como uma extensão musical e temática de sua obra com Rayssa.

Esta extensão, por sua vez, caracteriza tempos menos característicos da dupla que, nos anos 2000, se rendeu aos elementos power pop com letras de poder os quais, hoje, chamamos de pentecostal. Fora do sertanejo romântico noventista, que carregava discursos cristãos na mesma sonoridade de ícones do sertanejo nacional, Rayssa & Ravel sustentou anos de repertório com canções de fogo por meio de parcerias como as de Jairinho Manhães e Rogério Vieira, uma tentativa de se equiparar a nomes em alta na época como Cassiane, Lauriete e Elaine de Jesus.

Em 2019, Rogério Vieira está de volta. Ravel retornou aos estúdios com o tecladista que assinou projetos pentecostais como Mais que Vencedores (2006) e o congregacional de elementos pop Como Você Nunca Viu (2008). A ausência de Rayssa, compositora e voz mais frequente nos registros da dupla, é um peso carregado pelo irmão, com o qual compensa em interpretações mais agudas que o de costume. Por outro lado, em termos de gravação, a obra não mantém o mesmo rigor dos grandes álbuns da dupla.

Isso porque o trabalho de Ravel, além do peso específico de obra solo, é tecnicamente inferior a todos os registros de Rayssa & Ravel dirigidos por Rogério, como até o mais recente e equilibrado O que Deus Fez por Mim (2013). Em contraste a Feliz Demais (2017), projeto robusto e bem estruturado em termos de temática, produção e repertório, Um Novo Tempo é um amontoado de canções confusas que não sabem dialogar com o pop, sertanejo e congregacional, gêneros pretendidos pelo cantor.

Afinal, quando um produtor musical evangélico não entende a linguagem sertaneja, a primeira opção é tentar transformar canções do gênero em faixas pentecostais, que funcionam sob outra lógica. Por isso Alegria Completa, logo ao início, é tudo, menos completa. Ravel pede atenção frequentemente, como um pregador ávido pela atenção do interlocutor – o cover Cancela o Funeral possui estrutura semelhante – mas os synths e as construções melódicas não ajudam na jornada.

Se o território comum de Ravel, o sertanejo, é o ponto musicalmente menos atrativo do projeto, as faixas que mais se distanciam do gênero funcionam melhor. Apesar de ser originária das melodias emocionais típicas dos anos 80, é impossível não se atrair por Mestre, cuja composição sobre persistência em dificuldades se sobressai em torno de um repertório comum. Amor Incondicional é outro momento de peso, agraciado por uma dor dramatizada na voz do cantor. É nestes trechos que o intérprete de “Perfil de Adorador”, “Que Bom que Tu Me Amas”, "Carimbo da Vitória" e outras grandes músicas mostra seu potencial.

A despeito da produção, Ravel é um músico carismático e envolvente. Mesmo quando canta canções desajeitadas como Semáforo de Deus e Mulher que Vence, você se vê inundado por uma dúvida simplesmente cruel: Como seria o álbum Um Novo Tempo se tivesse recebido uma direção musical a nível de grandes registros de Rayssa & Ravel, como Chuva de Felicidade (1996) e Sonhos de Deus (2010)? De qualquer forma, é tarde demais para se obter uma resposta. Se você quer grandes canções em uma visão consistente, a única opção é recolocar Feliz Demais em suas playlists ou desempoeirar a edição física guardada na sua gaveta.

Avaliação: 2/5

Um Novo Tempo

(CD) 01/19


Seja o primeiro a avaliar

Ouça e dê sua nota

Ouças as músicas e saiba mais sobre: Ravel

Veja também no Super Gospel:

Tiago Abreu

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), escreveu para o Super Gospel entre 2011 a 2019. É autor de várias resenhas críticas, artigos, notícias e entrevistas publicadas no portal, incluindo temas de atualidade e historiografia musical.


Comentários

Para comentar, é preciso estar logado.

Faça seu Login ou Cadastre-se

Se preferir você pode Entrar com Facebook