Análises

Ouvimos o primeiro trabalho solo de Gabriel Iglesias - Pedra em Carne. Confira a crítica

Tiago Abreu em 17/10/16 3625 visualizações
Para o ouvinte mais distante, Pedra em Carne, trabalho que estreia a carreira solo do cantor e compositor Gabriel Iglesias, pode parecer simplesmente um projeto experimental. Gravado em sua casa, com algumas sessões no estúdio Fábrica Sonora, de Felipe Valente, o registro possui influências musicais variadas. Em síntese, o indie folk é predominante com elementos de folktronica, post-rock e pop barroco.

As letras, no entanto, garantem a consistência do álbum. Iglesias estabeleceu, em depoimentos, Jeremias 31:33 como o grande marcador da obra. Mas a verdade é que há muito mais a ser observado em Pedra em Carne. As reflexões existenciais presentes em várias composições, sejam totalmente autorais ou em parceria com Lucas Iglesias, não fazem parte de um cotidiano exclusivo da narrativa do profeta.

Assim, Gabriel desperta, em suas composições, uma relação intimista com o texto bíblico e também nas identificações do ouvinte. A aceitação de um chamado, que chega ao ápice justamente ao final da obra, com a incidental Jeremias, não é o início de um processo, e sim parte de um caminho que, no disco, é desenvolvido claramente.

A musicalidade de Pedra em Carne, por sua vez, não segue o mesmo parâmetro. Não há aqui nenhuma pretensão do artista em criar um registro pop. E, para algumas composições de versos tão carregados e complexos, o direcionamento é perfeitamente louvável. Desta forma, Iglesias desenvolve canções folk como a intrincada (e dura) Pedra mas, em seguida, usando o mesmo violão, apresenta Monte com sabor de aurora. E Jerusalém, o auge dentre as primeiras canções, é o reflexo mais claro de uma poesia que intrinca-se harmoniosamente à sonoridade e uma das mais belas canções sobre a cidade santa já apresentadas no cenário nacional evangélico.

Vale destacar que, no disco, Gabriel tocou todos os instrumentos. Assim, cada loop utilizado na obra faz muito sentido para um projeto elaborado na mente de praticamente um único homem. As únicas contribuições externas que, de fato, colaboram ainda mais para garantir uma experiência de áudio vívida, é do produtor musical Carles Campi, responsável pela mixagem e masterização.

As dinâmicas e inconsistências presentes na caminhada, é claro, afetam o disco. Há momentos, no álbum, em que existe um certo desequilíbrio entre a força das letras em comparação à sonoridade. É o caso de Eternidade em Mim que, diante de suas repetições, não é, nem um pouco, marcante. Ao mesmo tempo, são detalhes esquecíveis diante de outras músicas como Horizonte e, principalmente, O Circo. A sonoridade melancólica e os arranjos de cordas, em especial, fazem a canção, tão teatral, ser o ápice de Pedra em Carne.

O álbum termina seguro ao apresentar canções mais lentas e contemplativas (como Tensão). É uma conclusão totalmente coerente com o discurso de descoberta e meditação pelo qual Pedra em Carne quer lançar. O projeto de Gabriel é equilibrado e mostra que, mais maduro, o artista é capaz de apresentar músicas cuja qualidade sobrepõe grande parte de sua obra anterior.

Nota: ★★★★☆
Pedra em Carne

(CD) 01/16


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Tiago Abreu

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), escreveu para o Super Gospel entre 2011 a 2019. É autor de várias resenhas críticas, artigos, notícias e entrevistas publicadas no portal, incluindo temas de atualidade e historiografia musical.


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