Análises

Relembramos um dos clássicos de Sérgio Lopes - O Sétimo. Confira nossa crítica

Georgeton Leal em 03/06/17 4026 visualizações
Em 1997, após ter lançado seis trabalhos bem recebidos pelo público, Sérgio Lopes assinava um contrato promissor com a Line Records, que na ocasião era considerada uma das maiores gravadoras cristãs do Brasil. Logo, não demorou muito para que todo o alcance comercial do selo acabasse dando uma guinada bem mais do que satisfatória na carreira do cantor, que não pode contar com uma divulgação merecida por parte da Som & Louvores em seus primeiros discos.

Fugindo dos padrões da época, seu álbum de estreia na Line não trouxe no título nenhuma referência direta a alguma música, mas foi intitulado de O Sétimo apenas pelo sugestivo fato de ter sido seu sétimo trabalho inédito. A responsabilidade da produção ficou por conta do tecladista e integrante do Rebanhão Pedro Braconnot que, inclusive, já havia produzido o primeiro disco de Sérgio no final dos anos 1980. Agora, no entanto, Braconnot se via diante de uma obra mais desafiadora com a qual foi muito criterioso até nos detalhes mais ínfimos. Igualmente, o time de músicos não deixou a desejar, assim como o primoroso time de backing vocals formado por Eyshila, Liz Lanne e Jozyanne.

Engana-se quem pensa que o sucesso do álbum se sustentou unicamente no hit O Lamento de Israel, campeão do Troféu Talento 1998 na categoria Música do ano. Bastante diferente de seus antecessores, O Sétimo apostou em temáticas mais variadas e arriscou até alguns experimentalismos relevantes que resultaram em arranjos potencialmente mais expressivos, como é o caso da participação do naipe de metais e do violino executado por Alexandre Schubert. Outra característica importante a ser notificada é a afinidade de Sérgio Lopes com Israel, que pela primeira vez se tornava explícita, agregou um valor especial à identidade de sua obra e abriu novos horizontes para divulgação de seu trabalho no exterior.

O conjunto das composições totalmente autorais, somado às três adaptações para o espanhol e uma em hebraico, funciona organicamente mesmo com a posição aleatória de algumas faixas na ordem do repertório. A Dor de Lázaro, uma das mais emocionantes do CD, é cantada em primeira pessoa como se ouvíssemos o próprio Lázaro declarando sua aflição perante a crucificação de Jesus (interessante notar que Lopes sempre priorizou a mensagem do sacrifício vicário de Cristo em boa parte de suas músicas). Quando eu Chorar enfatiza o exercício de amor ao próximo tendo como plano de fundo a superação das provações mediante a fé em Deus. Nesta faixa podemos conferir o belíssimo solo de sax executado por Marcos Bonfim, que também participou de diversas produções posteriores de Sérgio. Com forte presença dos metais e percussão, Conclusões discorre a respeito da transitoriedade das convicções humanas em contraste com a vida eterna que Cristo oferece.

Eu Descobri o Amor flerta com uma influência mais sertaneja e mostra a versatilidade do cantor numa tentativa bem acertada de experimentar outros estilos. O Amigo mais Amado expressa a confiança que devemos depositar em Deus mesmo em meio às dificuldades enquanto O Rio da Vida apresenta uma sonoridade acústica levemente despretensiosa e calma. Refletindo poeticamente sobre a situação do povo judeu no cativeiro da Babilônia, O Lamento de Israel nos conduz ao grande ápice do álbum e consegue traduzir eficazmente a comoção dos israelitas pela liberdade que tanto almejavam na época do cativeiro da Babilônia. O acompanhamento do violino em sintonia com a harmonia do teclado e o dedilhado no violão formam a combinação perfeita para este clássico inesquecível.

Sansão e Dalila é um “hino-narração” que conta a saga do forte juiz guerreiro que, ao ceder a uma paixão proibida, sofreu sérias consequências pelo seu pecado. Por fim, Amado em Israel e Como a Corsa trazem um perfil estritamente congregacional que faz jus à participação da Comunidade Evangélica Internacional da Zona Sul nestas duas últimas canções. Acerca da ordem das faixas, seria mais favorável se as músicas Bney Ya’ Akov e Cuando Llore ficassem reservadas no final da setlist como bonus tracks e não misturadas aleatoriamente (aliás, Sérgio evitou cometer o mesmo entrave no CD Gálatas). Contudo, esse fator não põe em risco o equilíbrio do álbum durante sua audição.

Em meio à efervescência crescente que já dominava o cenário da música evangélica nos anos 1990, Lopes foi um dos artistas mais bem sucedidos do período e ganhou seu primeiro disco de ouro pela vendagem de 100 mil cópias do disco O Sétimo, feito considerado notável para um álbum cristão na época (anos depois, ultrapassaria a marca de 250 mil cópias, segundo a ABPD). Seu sucesso nas rádios também foi reafirmado, dando-lhe uma posição privilegiada entre os cantores mais tocados em diversas emissoras do Brasil, isso sem contar com suas apresentações em programas televisivos. O cantor conhecido nacionalmente com “o poeta de Cristo” se superava mais uma vez, provando que música e poesia, aliadas a uma produção eficiente e criativa, podem gerar discos memoráveis, apreciados tanto pelo público como pela crítica.

Nota: ★★★★
O Sétimo

(CD) 01/97

(4,0/5)
Total de votos: 1

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Georgeton Leal

Professor formado em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e blogueiro literário nas horas vagas.


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