Análises

Revoluoção (Pregador Luo)

Roberto Azevedo em 22/12/05 24815 visualizações
A primeira vez que ouvi Luo foi no primeiro trabalho do Groove Soul, onde ele fez uma participação, cantando o rap Vamos louvar junto com a música Nós viemos aqui. Mais tarde, através do FLG, onde ele também participa em algumas faixas, junto com outros rappers – DJ Alpiste e Fábio Macari - me interessei em comprar os CDs do APC 16.

Confesso que a primeira impressão não foi muito boa, pois eu estava acostumado com o rap do DJ Alpiste, que é um rap mais pop e mais comercial. No início o estilo mais de raiz do APC 16 não soou muito bem no meu ouvido, pois eu não estava muito acostumado. Mas depois, com calma, prestando atenção nas mensagens do CD me rendi à musicalidade dos arranjos e a inteligência das letras.

O primeiro trabalho solo do Pregador Luo mantém a qualidade. Com a participação de Rogério Serralheiro (Templo Soul) na produção ao lado de Luo, Claw e Erick 12 o trabalho vai além, muito além dos clichês evangélicos e gírias de crentes. Às vezes ele pega pesado usando termos como “porcos”, “imundos” e “comedores de lixo”, mas não posso negar que ele discursa com propriedade sobre temas como preconceito, relacionamentos, família, violência, gratidão, entre outros.

Os arranjos estão muito bem elaborados. Violões, guitarras overdrive, piano, efeitos de teclado e muito mais. Cada introdução é uma novidade. Os back-vocals e os loopings de bateria completam o toque de classe e profissionalismo. E o melhor de tudo é que vem em dose dupla. O CD 1 é intitulado Arquitetura da revoLuoção e o CD 2 Nova ordem.

Arquitetura da RevoLuoção começa com Ao nascer do sol. Uma introdução que preparatória para o rapper “abrir o verbo”.

Honra é a primeira das muitas faixas sobre crítica social. A letra discursa com propriedade sobre honra e vergonha em circunstâncias reais do nosso dia a dia.

Fiquem firmes é uma expressão que virou marca registrada do Apc 16. A canção versa sobre a falta de paz e esperança existente na periferia. Traz a participação de Professor Pablo nos vocais.

O rapper aproveita seu talento para mandar outro recado pra periferia de São Paulo, mas que também serve para os morros, favelas e demais comunidades carentes do Brasil. Em Meu verso tem poder ele mais uma vez aponta sua metralhadora giratória de palavras em direção ao cinismo de nossa sociedade.

La onda – Latino americanos versa contra o monopólio. “Alguns acreditaram na mentira da supremacia, são esses que assolam seus próprios irmãos com seus atos terroristas e suas almas vazias”. “Perante o criador não existem diferenças entre os povos, porém entre os povos existem gananciosos”.

A cidade “S. P.” versa sobre a cidade de São Paulo. É uma crônica cantada, muito bem bolada. Desde os constantes engarrafamentos às margens do Rio Tiete até as ameaças terroristas do PCC, nada escapa de seus olhos.

Arquitetura da revoLuoção é uma vinheta. Mixa trechos de várias músicas dos CDs do APC e abre caminho para RevoLuoção, onde ele versa sobre sua “visão”.

“Tem coisas que temos que começar a perceber, tão preciosas e raras e a gente nem para agradecer. Quanta dádiva sagrada na minha vida e na tua, água fresca, saúde e o brilho da lua”. Em Dádiva, o rapper versa sobre as bênçãos que Deus nos dá diariamente, e que nós, em nossa busca incessante por milagres sobrenaturais, deixamos “passar batido”. Foi a música que mais me edificou.

Com o inconfundível timbre de Rogério Serralheiro (Templo Soul) no refrão chegamos em Mais uma chance. A canção conta a história de alguém que não perdeu a oportunidade de escolher a opção certa.

Celebração traz a participação de Cleyton e Karina do Raiz Coral. Desta vez a canção versa sobre a família. “Celebre a vida com seus pais, celebre a vida com os irmãos, celebre a vida em família. Pelo lar vou viver e vou ter você ao meu lado para me amar.” Esta é uma das melhores faixas.

Respeito é cantado sobre o refrão de “Pros manos um salve, pras minas um beijo” do cd 2ª vinda – a cura, do APC 16, e emenda versando contra a degradação da mulher cantada em grande parte dos funks cariocas. Em Vocês são damas, não são cachorras, a letra versa contra maré atual da sociedade cantando que “Pra respeitar a mulher tem que ser muito homem”. Mas também não deixa de abordar o outro lado da moeda, que são as mulheres que não se dão em respeito. O arranjo: excelente. A letra: confrontante.

Façam barulho traz a formação original do APC 16, com Charles MC e DJ Beitico. É um protesto com qualidade. A letra é ótima. Super atual e contextualizada.

Com Rodolfo (da extinta Rodox) e King MC chegamos a Frenesi, uma canção que versa sobre “os descendentes de Adão vivendo com a síndrome de Caim”. O único “porém” foi que eu não consegui entender direito a parte que o Rodolfo canta, pois dá impressão de que ficou mais rápida do que deveria.

O que você vai fazer? Começa com um trecho de Alpha, a intro do cd 2ª vinda – a cura, que segue sampleada durante o decorrer da música. O rapper divaga uma série de perguntas visando o final dos tempos e a volta de Cristo. Cristo vai voltar, acredite ou não. O que você vai fazer?

O amor vence o ódio discursa sobre os benefícios do amor e os malefícios do ódio.

Luo fecha o CD com outra vinheta: Ciclo

Abrindo o cd 2, Mateus 10:16. Ele prega e canta sobre “A nova ordem”.

EvoLuoção afirma que a verdadeira evolução esta em Jesus Cristo habitando em nós, de forma clara e definida, apesar de inexplicada. É a faixa mais “rock” do cd.

Entre na arena é uma rap de exaltação a Deus. “Salve Jesus, Glória a Deus”.

Com um arranjo meio anos 70, Um mic e um par de Technics é talvez, a faixa mais comercial. A canção conta com muitas participações e relembra fatos do passado da vida de cada um.

Hip hop de verdade – rap da abolição com participação de Lino Criz e DJ Dri esta canção é uma homenagem ao movimento rap e um agradecimento aos rappers de ontem, de hoje e os que virão.

Firmeza na rocha traz a participação de Gênesis – O princípio. Versam sobre Jesus, “Se cair levante. Estamos firmados na rocha. Jesus é a rocha.”

Chegamos na primeira vinheta, Nova ordem que prepara o caminho para a próxima faixa.

Assim como a faixa 4, Os qurentes (mistura de crente com quente) traz a participação de vários rappers. Versam sobre suas convicções cristãs. “Nem frio, nem morno, aqui é quente, os crentes”.

Solidão versus esperança é uma pregação-vinheta. Interpretada pelo Pr. Pedro Liasch (Banda rara) prepara para a próxima faixa, Guerreiro do futuro – GF. Clayton Tristão e Luo versam, da sua forma, sobre batalha espiritual.

Em Nosso lugar não é aqui ele volta a fazer sua crítica social. No refrão ele canta sua esperança em Deus. “Nosso lugar não é aqui, o Leão voltará por você e por mim.”

O rapper “canta” uma história sobre um jovem, criado com dificuldades pela família evangélica em uma comunidade carente e que opta pelo crime. 4 minutos relata o confronto de pensamentos do jovem enquanto assalta um banco. Muito bem bolado.

Mó blef é uma crítica contra os que manipulam e os que se deixam manipular pelo sistema. Dos Políticos as falsas amizades. Fica o alerta: “O que você faz sempre volta para você”

Voando alto é um interlúdio baseado no tema da faixa anterior.

Quem vai me trair? fala sobre a realidade do fim dos tempos e sobre a suficiência de Cristo, quando tudo o mais se for.

Com a participação de Manuscritos, O beijo da discórdia, é uma dissertação sobre o “ato” de Judas Iscariotes.

Apaga, mas não bate me deixou meio em duvida sobre o que Luo quis passar através da música. Mas no final ele esclarece: “Apagar, mas não bater, é ir até o fim, é perseverar, não desistir do objetivo, ganhar de forma honesta, vencer as fraquezas, superar seus limites, não buscar atalhos, mas percorrer inteiro o árduo caminho até glória, é não se deixar destruir, nem se entregar ao sistema como muitos fazem por aí”.

Made in Brazil é uma vinheta. É também a faixa mais “samba” do CD.

Tudo pra você traz a participação de Péricles, vocalista da banda secular de pagode Exaltasamba (Chrigor, o outro vocalista, participou de Alívio, faixa do cd “2ª vinda – a cura – do Apc 16). Luo e Péricles cantam as maravilhas do nosso país, que estão aí à nossa volta, obra do nosso criador e que devemos desfrutar. Na minha opinião pessoal é a melhor canção do CD. É uma faixa bem “bossa nova”.

A vida é como o clima é uma vinheta onde o rapper prega sobre imprevistos. Bastante edificante.

Fechando, Luo, Erick 12 e Claw cantam os Salmos 23 e 91. Meio rap, meio charme, a canção fecha o cd mantendo o padrão de excelência que nosso Deus merece.

Trabalho de qualidade tanto na produção quanto na adoração.

— Mas Deus recebe rap como adoração?

Não é o estilo musical que agrada a Deus, mas o coração quebrantado e contrito (Salmo 51:17). O que Deus ouve não é o que sai de nossos lábios, mas o que sai de nosso coração.
Revoluoção

(CD) 01/04


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Roberto Azevedo

Editor-chefe do portal SuperGospel desde 2005, assessor de imprensa da cantora Marcela Taís desde 2012 e sócio da agência 2RA que hoje já conta com mais de 100 lançamentos nas plataformas digitais. Ainda exerce a função de Logística na MM7 Comunica, na AS Records, na Labidad Produções e na gravadora Futura Music (sediada na Bélgica) representando a empresa no Brasil.


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