Análises

Ouvimos o disco mais recente de Beatriz - Deus e Eu. Confira nossa análise

Tiago Abreu em 23/01/18 2070 visualizações
A música pentecostal, desde que passou a ser considerada como um gênero musical dentro do segmento evangélico, incorporou convenções de qualidade duvidosa como qualquer outro estilo de massa. Há cerca de dez anos, é frequente o número de intérpretes pentecostais de voz extremamente impostada que extravasam temáticas humanas. Beatriz é parte desta onda, e em Deus e Eu não indica nenhum incômodo ou desconforto em apresentar canções pasteurizadas.

A produção musical do álbum é assinada por Silvinho Santos, responsável por outros trabalhos de Beatriz pela MK Music. Nos últimos anos, o músico colaborou em projetos pouco atraentes em termos de direção de repertório e construção de melodias. É dele, por exemplo, os créditos de direção do álbum mais apelativo da carreira de Rayssa & Ravel (O Olhar de Deus). No novo disco da artista, seus arranjos flertam com o power pop, pop rock e forró. Apesar da busca pela versatilidade, suas construções são muito elementares, principalmente quando tenta dialogar com a pegada do arrocha – um gênero moderadamente difícil de trabalhar para quem não é muito familiarizado – nas canções mais cadenciadas.

Um exemplo muito claro de tão caricato é o trabalho de Beatriz é Se Enganou, um trator de clichês triunfalistas. É tanto "por mim", "minha história", "estou cantando vitória", que o trabalho mostra estar alheio às discussões artísticas e teológicas feitas nos últimos anos em torno deste tipo de produção. Aliás, é contraditório ao nível máximo um disco que tenta exalar humildade com Tu És o Centro (cujos versos tentam exaltar a Deus) construir uma narrativa de um ser divino subserviente às necessidades humanas (Digitais, Deus Vai Te Achar) até chegar ao cúmulo de afirmar, em Deus e Eu, que "Deus e eu não tem pra ninguém". Ou seja, para não explicitar o homem como centro das coisas, o novo recurso é igualar homem e Deus.

Além do discurso, toda a temática ativa do trabalho ganha reforço nas interpretações de Beatriz. Sua voz é suficientemente grave e intensa para não passar despercebida, mas a cantora, aparentemente não satisfeita com suas capacidades, conduz os vocais da forma mais agressiva possível, quase em tom de "guerra contra o mal" – uma falha latente de Douglas Evangelista na direção de voz. Isso faz com que Deus e Eu corra atrás de uma legitimação para ser compreendido como um genuíno disco pentecostal. Todavia, tanta busca por aceitação apenas deixa evidente a falta de sentido na ênfase e exagero de tantos elementos.

Avaliação: ★★☆☆☆
Deus e Eu

(CD) 01/17


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Tiago Abreu

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), escreveu para o Super Gospel entre 2011 a 2019. É autor de várias resenhas críticas, artigos, notícias e entrevistas publicadas no portal, incluindo temas de atualidade e historiografia musical.


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