Análises
Ouvimos o novo álbum de Estêvão Queiroga - Diálogo Número Um. Confira nossa crítica
Tiago Abreu em 18/07/16 3380 visualizaçõesSão questões caras porque, querendo ou não, a relação do cristão parte de aspectos coletivos, mas que exigem imersão no pessoal. E o envolvimento que Estêvão constrói com sua própria obra faz perceber que existem eixos, na vida humana, que confluem para uma direção, um sentindo, um diálogo único. A banda, em grande parte formada por Samuel Silva (teclado e rhodes), David Maia (guitarra e violão) e Fernando Rosa (baixo) é entrosada e, dentro dos arranjos, tem sua função de criar uma ambientação acústica e íntima na sonoridade.
Queiroga fala de descoberta e curiosidade. Toalha de Dedé e Corre Atrás do Vento, complementares, formam um arranjo suave, com violão, acordeon e instrumentos acústicos. Na mesma leveza do som, Estêvão forma uma paisagem de tranquilidade, novidade e alegria, característica dos temos de inocência. Como uma espécie de linha do tempo, o disco vai tomando formas mais maduras e discursos mais complexos. É no single A Partida e o Norte, um indie folk com dueto de Paula Queiroga, que a obra parece introduzir-se num caminho mais sombrio. São os tempos da adolescência e o início da fase adulta na balada O Sol e eu.
Queiroga fala de amor. As emoções, envolvidas em sentimentos que permeiam o medo e a angústia, é marca de um disco que fica mais melancólico, mas não menos interessante. Mais uma Porta, escrita em parceria com Jefté Salles, se destaca pela construção lírica e bela dinâmica do arranjo, executado com pianos de Marcos Romera e cordas da Orquestra Sinfônica Nacional da República Tcheca. Quem Sou eu?, com influência jazz e hammonds de Samuel Silva, expande frases de guitarra de David Maia e linhas de baixo vigorosas por Fernando Rosa. Os instrumentos acompanham e contam a história, juntamente com os versos, sem atropelos.
Queiroga fala de crises humanas. Bom e Mau, outra balada de aspecto intimista, conduzida em primeira pessoa, faz as cordas de Praga serem protagonistas. Nada muito diferente de É Nisso, de co-autoria do cantor e compositor Sérgio Saas e de pegada mais cadenciada. Diálogo Número Um é uma obra eficaz porque, antes de tudo, é humana e sincera. O disco trata de relações comuns a todos que, partindo de medo, angústia e busca por identidade, alcançam, numa identificação coletiva, um único sentido. O ângulo do álbum, então, soa muito claro. Somente por meio desta comunhão, com pessoas que vivem as mesmas situações, a unidade com o Pai ocorre (Nós). Um dos melhores registros do ano, Estêvão Queiroga se sai muito bem com seu trabalho de estreia.
Nota: ★★★★☆
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Tiago Abreu
Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), escreveu para o Super Gospel entre 2011 a 2019. É autor de várias resenhas críticas, artigos, notícias e entrevistas publicadas no portal, incluindo temas de atualidade e historiografia musical.
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