Análises

Ouvimos o novo projeto de PG pela Som Livre - SETE. Confira nossa análise

Tiago Abreu em 28/09/15 3993 visualizações
Desde os primórdios do rock, sua missão vital era de questionar o status quo, denunciar opressões, preconceitos, ou seja, apresentar um discurso consistente, ter algo a dizer. As décadas passaram e esta ideologia não mudou, mesmo que músicos ou bandas, em diversos níveis, tenham utilizado de sua musicalidade sem qualquer alma.

PG, infelizmente, tem estado entre estes artistas, que em mais de vinte (e experientes) anos de carreira ainda disse muito pouco. Desde os tempos da banda Corsário, sua rápida passagem pelo Oficina G3, e em carreira solo, pode-se contar nos dedos a quantidade de canções em que o músico procura fugir do lugar-comum. E quando ele quer, faz bem.

Talvez o interesse um pouco crescente por esta obra veio quando PG anunciou que seu próximo trabalho seria totalmente gravado em casa, mostrando todos os bastidores da gravação, mais independente possível, e que seria um marco em sua carreira musical. Mais tarde, o anúncio da participação de Juninho Afram expandiu as expectativas, cortadas, inicialmente pela divulgação da confusa capa, com elementos visuais um pouco antiquados.

S.E.T.E foi produzido e arranjado por PG, e como poderia presumir, representa mornamente o que o cantor vem fazendo há muitos anos. O atestado que se chega com este novo trabalho é que suas músicas ainda carecem de mais alma. Quem já o viu ao vivo sabe que o músico tem muito mais de si para doar em seus discos, é um excelente performer, e é por isso que atraiu seguidores, mesmo depois de sair do G3. Suas produções sempre foram muito abaixo do nível de qualidade o qual se espera de um álbum de rock (em letras maiúsculas): mixagem pouco convincente, arranjos que não dialogam com as letras, e um repertório que nunca consegue equilibrar faixas mais “pesadas” com um excesso de baladas.

PG criou uma fórmula autodestrutiva em sua carreira solo, e parece não notar: suas versões, geralmente singles, sempre se sobrepõem ao repertório autoral. A única exceção acerca deste trabalho é justamente a faixa que o introduz, Olhos da Fé. Versando acerca das diferenças, como os vários tipos de preconceitos que fervilham em nossa sociedade, a música lhe dá a falsa impressão de que PG chega com um disco que toca nas feridas (e são várias, dentro de nosso contexto evangélico). Mas é só impressão, pois a obra morre ali, juntamente com um solo (abafado) de Juninho Afram.

O que se vê, adiante, são poucos detalhes que realmente vem a acrescentar: a influência, bem sutil, do country, em algumas músicas, sem falar do já manjado new metal, cujo som, neste trabalho, parece beber da fonte de Thousand Foot Kruth. Tecnicamente, a captação estranha dos instrumentos e o excesso de reverb, especialmente na bateria, vai lhe perseguir em todo o disco, que se reserva a dizer o óbvio, que inclusive o próprio PG já disse várias vezes: a vida tem um preço, existem pessoas que querem ter ao invés de ser, e que o cristão tem liberdade para adorar e celebrar ao Criador. A obra realmente alcança um patamar abaixo da média em Orgulho ou Salvação, com a ultrajante letra acerca de céu versus inferno, uma dualidade que poderia ser muito melhor explorada ao invés da forma básica e superficial tratada.

O grande desafio do cantor, então, vai além da tão criticada sonoridade: seu discurso precisa ser revisto. É uma pena que, para um cantor que é considerado um dos ícones do rock cristão nacional, sua obra não corresponda à posição de notoriedade que possui.

Nota: ★★☆☆☆
SETE

(CD) 01/15


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Tiago Abreu

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), escreveu para o Super Gospel entre 2011 a 2019. É autor de várias resenhas críticas, artigos, notícias e entrevistas publicadas no portal, incluindo temas de atualidade e historiografia musical.


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